Político profissional, Sérgio Meneguelli (Republicanos) tomou posse como prefeito de Colatina, no dia 1º de janeiro de 2017, vestido de terno e gravata e calçava um sapato social. Eficiente marqueteiro de si mesmo, ele chegou à Câmara de Vereadores, para a posse, pedalando uma bicicleta pelas ruas da cidade conhecida como a Princesa do Norte.
Antes de se tornar prefeito, Meneguelli foi vereador por Colatina por quatro mandatos consecutivos, iniciando a carreira profissional em 2001. Com formação em Bacharel em Direito, ele atuava, antes, como ativista cultural. Como vereador, Meneguelli conheceu perfeitamente as regras internas que regem um Parlamento no Brasil, tanto que tomou posse como prefeito vestido à caráter: paletó e gravata.
Em outubro de 2022, 21 anos depois de iniciar sua carreira profissional como político, Meneguelli foi eleito deputado estadual. Teve a maior votação de todos os tempos para o Parlamento capixaba, com expressivos 138.523 votos, mesmo enfrentando a máquina de seu partido, o Republicanos, cuja direção impediu que ele fosse candidato ao Senado e à Câmara Federal. Serginho Meneguelli é, de fato, um político carismático, embora não seja um líder político propriamente dito – se fosse, hoje estaria, com certeza, no Senado, pois derrotaria com facilidade Magno Malta.
Esse carisma, entretanto, não dar ao deputado estadual tentar alterar, no grito, as regras internas da Assembleia Legislativa. Houve, para ele, no entanto, exceção. Ao tomar posse na Ales, no dia 1º de janeiro de 2023, Meneguelli não usou terno. Ele vestia uma jaqueta jeans, camisa social e gravata. Naquele dia, porém, era festa. Serginho Meneguelli acabara de ter alta do Hospital Sílvio Avidos, em Colatina, onde se internou em 17 de janeiro deste ano, após sentir fortes dores abdominais e ser diagnosticado com diverticulite. No dia seguinte ele foi operado e, após oito dias internado, recebeu alta.
Meneguelli conhece, sim, as regras de sua nova Casa. Tanto que, no dia 6 de fevereiro de 2023 ele encaminhou ofício à Presidência da Assembleia Legislativa solicitando que “seja autorizado a este signatário a dispensa do uso do terno e da gravata (passeio completo), enquanto perdurar a minha convalescência, por recomendação médica, considerando os cuidados necessários a mencionada recuperação. De igual forma, solicito a Vossa Excelência a disponibilização de link para a minha participação, nas próximas sessões ordinárias da semana, de forma virtual. N. Termos E. Deferimento.” O documento, assinado eletronicamente pelo deputado Sérgio Meneguelli, foi entregue ao presidente da Ales, Marcelo Santos (Podemos).
No dia seguinte, Meneguelli conseguiu a liberação para não usar terno e gravata durante as sessões realizadas na Assembleia Legislativa. A liberação foi provisória e anunciada pelo presidente da Casa: “…Antes, porém, eu quero informar às senhoras e aos senhores deputados que toda regra tem uma exceção. E, neste caso, a exceção é o deputado Sérgio Meneguelli, que, por orientação médica, pede que ele não use gravata por conta de um problema de saúde que ele teve constatado. Inclusive, ontem, ele esteve comigo no gabinete da Presidência me mostrando o problema que é muito grave. Torcemos, inclusive, para sua rápida recuperação. V. Ex.ª está lá com a solicitação, e eu estarei voltando ao gabinete para despachar. O meu despacho é sim, V. Ex.ª está autorizado a estar no plenário com essa vestimenta, por um prazo determinado, por solicitação e orientação do seu médico.”
Só que, na sessão da última terça-feira (09/05), o deputado “chutou o balde” e disparou críticas ao presidente Marcelo Santos por conta do uso do terno e a gravata. Vale frisar que desde o início da legislatura, Serginho Meneguelli tem frequentado as sessões de camiseta, calça jeans, jaqueta e tênis All Star. A permissão dada pela Ales para o não uso do terno e gravata, dada somente a Meneguelli, está perto de se encerrar, pois ele já está bem de saúde. Por isso, no início da sessão, o deputado Marcelo Santos anunciou que fará uma reunião com o Colégio de Líderes para tratar sobre a questão das vestimentas no plenário.
“Teremos de fazer uma reunião do Colégio de Líderes com relação ao traje de acesso a esse Parlamento. Com relação ao respeito que temos ao plenário, que não é diferente no Tribunal de Justiça, que não é diferente no Ministério Público, que não é diferente no Tribunal de Contas, não é diferente em nenhuma Casa de Leis”, ponderou o presidente.
Na mesma sessão, além de Meneguelli, o deputado Alcântaro Filho (Republicanos) vestia uma camiseta com um paletó. “Em homenagem ao deputado Alcântaro, ao Sérgio Meneguelli, que são duas figuras que eu respeito muito, mas, enquanto presidente da Casa, vou fazer valer a lei e a ordem e, nesse caso, a próxima reunião do Colégio de Líderes será para tratar dos trajes que dão garantia de acesso ao plenário, conforme é no Congresso Nacional, no município de Colatina, em Cariacica, em Aracruz ou em qualquer outra região representando o Legislativo”, disse Marcelo Santos.
Aí veio a reação de Meneguelli: “Não gostaria que um assunto tão banal como esse, sobre trajes, fosse discutido em plenário, mas queria justificar que em momento algum eu estou desrespeitando a lei. Quero desafiar um deputado desta Casa que apresente algum artigo de que a gente é obrigada a usar terno e gravata”, frisou Meneguelli, que, bastante nervoso, disparou outros termos contra Marcelo Santos.
Se a vontade de Serginho Meneguelli for acatada pela Assembleia Legislativa, em breve o povo vai ver mulheres entrando numa Igreja, para assistir missa ou cultos, vestidas de biquíni ou maiô. E homens trajando sunga de praia e sem camisa nas Igrejas