Integrantes da Tropa de Choque do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Senado, os capixabas Magno Malta (PL) e Marcos do Val (Podemos) estão entre os 10 senadores mais influentes nas redes sociais. Bolsonaristas e, portanto, de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os dois parlamentares se destacam entre aqueles que produzem mais conteúdos e são mais curtidos e compartilhados do que os governistas. É o que mostra monitoramento da Genial/Quaest e publicado nesta segunda-feira (03/04) por O Globo. Em resumo, revela o levantamento, “além do desafio de conseguir uma base governista no Congresso, o governo Lula 3 se vê diante de um combate ainda mais desfavorável: o poder da oposição no mundo digital.”
De acordo com O Globo, o ranking foi elaborado pela Quaest a partir de 152 variáveis — que incluem número de seguidores, curtidas, comentários, compartilhamentos e buscas — coletados de Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Google e Wikipédia. A partir desses dados, o estudo elaborou o Índice de Popularidade Digital (IPD), que mede a relevância virtual dos parlamentares.
No Senado, prossegue a publicação, a oposição ao governo petista é ainda mais forte: os 10 nomes com mais força digital são apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre eles estão o primeiro colocado, Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), famoso por vídeos com denúncias na internet; e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. Os capixabas Magno Malta e Marcos do Val ocupam a quinta e sétima posição, respectivamente. O primeiro tem 35,3 pontos no IPD, enquanto Marcos do Val registra 30,5.
Ainda entre os senadores, o petista melhor posicionado é Humberto Costa (PE), no 14º lugar. Outros governistas bem posicionados são o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), em 12º, e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em 15º.
Autor do levantamento, o cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes, avalia que esses dados apontam para um cenário no qual o governo Lula terá dificuldades de vencer a guerra de narrativas nas redes sociais. Ele acredita que a desvantagem digital pode atrapalhar o governo na comunicação de suas pautas. “Os governistas têm o desafio de melhorar sua estratégia digital, montar estruturas e canais de distribuição de seus conteúdos. Porque, se a oposição resolver atacar o governo nesse ambiente, ele vai ter muita dificuldade em se defender. Imagina todos esses soldados atacando ao mesmo tempo?”, questiona Nunes, segundo O Globo.
A pesquisa da Genial/Quaest mostra que, dos 10 deputados federais com poderio no ambiente virtual, oito são bolsonaristas. Nikolas Ferreira (PL-MG) encabeça a lista. O único governista no “top 10” é André Janones (Avante-MG), tido como protagonista da estratégia de redes da campanha do presidente Lula, informa O Globo.
De acordo com o levantamento da Quaest, uma das principais estratégias dos bolsonaristas para movimentarem suas redes é a criação de polêmicas contra agendas do governo petista. No período analisado pela pesquisa, entre 2 de fevereiro e 28 de março de 2023, a publicação de maior engajamento foi de Nikolas Ferreira, sobre o episódio em que ele usou uma peruca na tribuna da Câmara para fazer uma provocação e um discurso transfóbico no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.
Ao O Globo, Nikolas disse acreditar que o amplo domínio da direita nas redes sociais mostra que o Brasil é de maioria conservadora, alinhada com os princípios e valores desses parlamentares. Além disso, ele se defende da crítica de que usa polêmicas como estratégia: “ Na verdade esse governo que gera polêmica atrás de polêmica. E eu como oposição não posso ficar calado. Se defender a vida desde a concepção, defender que banheiro de mulher tem que ser frequentado por mulher, se tudo isso for ser polêmico, então continuarei sendo polêmico”, frisou o deputado mineiro.
Em entrevista ao O Globo, o deputado Janones defendeu que para a esquerda ‘sair da lona na batalha digital’ ela precisa rever suas estratégias e começar a atuar de forma organizada e sincronizada no meio digital. Ele argumenta que o governo do presidente Lula ainda não conseguiu fazer com que sua base tenha objetivos em comum nas redes.
“A principal estratégia é centralizar a distribuição de pautas e missões para a militância. Eu fiz isso na campanha do presidente Lula, mas agora é impossível uma única pessoa sozinha fazer isso durante quatro anos de governo. Eu tenho meu mandato e preciso trabalhar, não posso só cuidar das redes”, disse Janones.
Na mesma linha, a pesquisadora de Comunicação Política da PUC-Rio Leticia Capone avalia que a esquerda acaba ficando em desvantagem na guerra digital por trabalhar suas agendas online de forma fragmentada. Já canais da direita e extrema-direita formam ecossistemas que atuam em sincronia, o que facilita a projeção de alcance e a promoção de suas pautas. “É possível perceber uma articulação e uma coordenação entre tais canais e perfis (da direita), que vai desde um alinhamento de pauta, agenda mais relacionada ao factual, até a projeção de um alvo em comum, que passa a ser tratado, de forma consistente, como inimigo”, analisou Capone.