Eu tinha 7 anos de idade, entre 31 de maio a 21 de junho de 1970. Naqueles tempos difíceis, o País vivia sob a ditadura militar. Carne na mesa dos pobres, só se fosse “latinhas” de sardinha, bofe (um subproduto da carne bovina), uma carne de segunda de boi ensopada, com legumes, para render para toda família, e toucinho de porco. O Brasil, no entanto, era feliz. Não porque o então presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, era homem bom, mas porque nossa Seleção de Futebol encantava o Planeta, com Pelé e Cia. Brasil Tri Campeão Mundial, na Copa do México.
Vi alguns momentos daquela epopeia, junto com meu pai, Joaquim Côrtes, que aos domingos me levava à Praça Costa Pereira, no centro de Vitória, para ver a Copa. Naqueles tempos difíceis, raras eram as casas que tinham televisão no bairro onde morávamos, no Contorno de Santo Antônio, na Capital capixaba. Minhas idas à Costa Pereira para ver o Rei do Futebol, ao lado de meu pai, valeram a pena.
Me recordo de apenas dois jogos. A memória de menino não consegue ir mais longe. Lembro-me das quartas de final, em que vencemos o Peru por 4 a 2. E do jogo decisivo, com show de Gerson, o Canhotinha de Ouro, quando vencemos a Itália por 4 a 1. Já adulto, vi e revi a partida final mais de “100 vezes”. E a cada vez que vejo, parece que surge uma jogada genial diferente de Pelé e seus parceiros.
Logo depois de 70, minha Tia Neli comprou um LP – um disco, que hoje nem sei mais como se chama – com gols da Seleção do Tri, narrados por Waldir Amaral e Jorge Cury, dois dos monstros sagrados da narração esportiva brasileira. Quando ia à casa da tia, ficava o dia todo ouvindo aquele disco (vinil). E ali eu viajava pelos campos do México, como se estivesse na arquibancada do Azteca.
Fui ver Pelé, pessoalmente, em 1985, em Assunção, no Paraguai, quando o Brasil, pelas Eliminatórias da Copa de 1986 – também no México –, venceu os donos da casa por 2 a 0, com gols de Zico e Casagrande. Pelé estava no mesmo hotel da Seleção Brasileira e, como uma pessoa comum, conversava com os jogadores e jornalistas como se estivesse em casa. Eu e o amigo Jorge Buery – que na época era da Rádio Gazeta – pedimos e Pelé, gentilmente, nos concedeu entrevista. O Rei pediu apenas que o esperássemos acabar de tomar o café da manhã, ao lado do então zagueiro da Seleção, Oscar. Eu trabalhava na época na equipe esportiva do mestre Oscar Júnior, na Rádio Espírito Santo.
Pronto: cumpria-se ali um sonho de menino, de estar ao lado do Rei, que, aos 82 anos, morreu na quinta-feira (29/12) depois de lutar bravamente contra um câncer.