Na sabatina concedida terça-feira (18/10) ao programa ES1, da TV Gazeta, o ex-deputado federal e candidato ao governo do Estado pelo PL, Carlos Manato, voltou a admitir que integrou a temida Scuderie Detetives Le Cocq, dissolvida pela Justiça Federal por ter sido o braço armado do crime organizado do Espírito Santo por pelo menos três décadas. Manato garantiu, no entanto, que sua atuação na Le Cocq foi “apenas no braço de filantropia da organização” criminosa.
Afirmou ter sido alertado por seu cunhado, o procurador de Justiça Sócrates de Souza – irmão da deputada federal Soraya Manato, mulher de Manato –, sobre a atuação criminosa da Scuderie. Por isso, saiu “pacificamente” do grupo.
“Eu sou um cara verdadeiro, eu aprendi com meu pai que a gente não deve falar mentira, deve sempre falar a verdade. Eu fiz fiz a ADESG, que é a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, fui um dos melhores alunos da ADESG. Quando acabou a ADESG, as pessoas que estavam lá – juízes, promotores, advogados, médicos – me chamaram para ir para uma outra denominação que tinha também a filantropia. Como eu era médico, diretor de hospital, se eu não queria participar […] meu coração de médico pedia para eu fazer filantropia e eu fui. […] Quando começou a surgir alguma coisinha, o meu cunhado, ele é procurador (Sócrates de Souza), falou ‘olha isso aí tem algumas coisas que não estão bem, então não combina com você, não é só filantropia. Do jeito que eu entrei pela porta da frente, eu saí pela porta da frente”, falou Manato na entrevista à TV Gazeta.
Manato diz sempre que entrou para a Le Cocq em 1991 e que desconhecia o envolvimento da entidade com o crime organizado – assassinatos, tráfico de drogas, sequestro, assaltos a banco, etc. Nesta época, entretanto, a Le Cocq já dominava as estruturas do poder público capixaba e sua atuação era conhecida das Polícias Federal, Civil e Militar. As ações criminosas da Le Cocq já eram notícias na imprensa, sobretudo, nos jornais A Tribuna e A Gazeta.
Tanto que a Le Cocq começou a ser combatida pelas forças policiais a partir de 1983, quando Max Mauro assumiu o governo do Estado. O combate continuou em 1991, na era do governador Albuíno Azeredo, quando o agora coronel reformado Luiz Sérgio Aurich assumiu o cargo de secretário de Estado da Segurança Pública. Ele abriu as portas da Sesp para que o então chefe de Polícia Civil, delegado Carlos Rubens de Miranda Lucchi, autorizasse o delegado Francisco Vicente Badenes Júnior, com a ajuda de um grupo de promotores de Justiça, a se instalar dentro da Secretaria para investigar os crimes da Le Cocq.
Portanto, quando Carlos Manato assinou a ficha de número 687 como filiado à Le Cocq, em 1991 – ele alega ter ficado na entidade por três anos –, a Scuderie já era famosa por seus crimes, embora os fatos não eram do conhecimento do candidato. A Scuderie Le Cocq é apontada como um dos principais grupos de extermínio a agir no Espírito Santo até os anos 2000. Até a data da dissolução, a Le Cocq tinha sido acusada de 30 assassinatos políticos e quase 1.500 homicídios anuais.
Por isso, na sabatina a que participou na mesma TV Gazeta, na segunda-feira (17/10), o governador Renato Casagrande (PSB), candidato à reeleição, afirmou que Carlos Manato “integrou o braço armado do crime organizado”. Na entrevista de terça-feira, porém, Manato se defendeu das alegações, e afirmou que não tem envolvimento com o crime organizado.
Carlos Manato, como ele próprio afirma, não tinha conhecimento dos crimes praticados por ‘lecoquianos’, mas um ano antes dele se filiar à Le Cocq integrantes da organização saíram do Espírito Santo e foram até a cidade de Itabela, na Bahia, onde mataram a tiros o então prefeito da Serra, José Maria Miguel Feu Rosa, e seu motorista, Itagildo Coelho de Souza. O fato ocorreu na tarde de 8 de junho de 1990. José Maria e Itagildo foram executados por um grupo de policiais e ex-PMs, que eram da Le Cocq e já foram assassinados como queima de arquivo.
No mesmo ano em que Manato fazia trabalho de filantropia na Le Cocq, criminosos ligados à entidade sequestraram e mataram o advogado Carlos Batista de Freitas, que sumiu o dia 24 de janeiro de 1992. Carlos Batista foi executado como queima de arquivo, porque conhecia a trama do assassinato do ex-prefeito José Maria Miguel Feu Rosa. Foi morto por alguns dos assassinos do ex-prefeito. O advogado teve o corpo carbonizado e enterrado em Aracruz. Até hoje o corpo não apareceu.