Sétimo candidato mais bem votado na disputa por uma das 10 vagas destinadas ao Espírito Santo à Câmara Federal para a próxima legislatura, o deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil) obteve 63.362. Não conseguiu se reeleger porque seu partido não alcançou o Quociente Eleitoral. No entanto, Rigoni, consciente de sua responsabilidade como uma das mais importantes lideranças jovens da política capixaba, fez, na noite de terça-feira (04/10), um apelo para que a sociedade não sofra com o retrocesso que ameaça o Estado nesse segundo turno das eleições para governador. Por isso, num vídeo postado em suas redes sociais, Felipe Rigoni anunciou seu apoio à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) e enumerou alguns motivos que o levam a ter medo de uma vitória do oponente, o ex-deputado federal Carlos Manato (PL):
“Manato está longe de ser exemplo de político e de cristão”, salientou Rigoni, afirmando que o candidato do PL “está longe de representar uma mudança segura para o Espírito Santo.” Para ele, Manato significa “risco de retrocesso” e “a volta do crime organizado” ao comando no Estado.
“Como todos sabem, sou uma pessoa super serena. Sempre tento trabalhar com equilíbrio e sem me envolver em polêmicas, mas dessa vez é impossível. Hoje, infelizmente, no Espírito Santo, vivemos uma ameaça real de retrocesso no Governo do Estado e nós não podemos deixar que isso aconteça. É por isso que, no segundo turno, estarei ao lado do atual governador, Renato Casagrande”, disse Felipe Rigoni.
Um dos maiores temores do deputado federal Felipe Rigoni é o fato de Carlos Manato ter sido integrante da maior organização criminosa do Espírito Santo, a Scuderie Detetives Le Cocq. Manato assinou a ficha de filiação à Le Cocq em agosto de 1992. A Le Cocq tinha grupos de extermínio; praticava assassinatos por encomenda (crime de pistolagem); tráfico de drogas e de armas; assaltos a banco; roubos a cargas de caminhões; chantagem; extorsão; e sequestro.
A Le Cocq foi apontada, entre os anos 80 e parte de 2000, como o braço armado do crime organizado capixaba. E, num período de 18 anos, a Scuderie Le Cocq matou 30 políticos capixabas. No entanto, a Scuderie teve sua extinção confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio/ES) no final de 2005, depois de diversas batalhes judiciais e com ajuda das Polícias Civil e Federal, Ministério Público estadual e Ministério Público Federal no Espírito Santo e de toda sociedade capixaba.
“Manato fazia parte da Scuderie Le Cocq, que era o principal grupo de extermínio do Espírito Santo nos anos 1990. Foram registradas mais de 1.500 mortes realizadas por esse grupo aqui no Estado. O próprio Manato já confirmou ter participado do grupo numa reportagem exibida na imprensa. Ele está longe de ser exemplo de político e de cristão, como ele mesmo tanto diz”, afirma Felipe Rigoni.
Segundo ele, “nós não podemos voltar para a era do crime organizado, que assombrou o Espírito Santo até os anos 2000. Pessoas morreram. O desemprego estava nas alturas. O Espírito Santo era uma bagunça, com salários atrasados, o Estado inchado e tantos outros problemas. Eu quero para os capixabas de agora e para os meus futuros filhos um Estado estável e não aquele que tínhamos até os anos 2000.”
Ele lembra no vídeo que Carlos Manato passou 16 anos na Câmara Federal “sem entregas significativas para a sociedade” capixaba. E recordou que o ex-deputado foi demitido, no próprio governo do presidente Jair Bolsonaro, do cargo que ocupou na Casa Civil, em 2019, nos primeiros meses da administração.
Manato, que assumiu o cargo em janeiro de 2019, logo depois da posse de Bolsonaro, era responsável pela articulação política com a Câmara dos Deputados. No entanto, em maio, com cinco meses no cargo, foi exonerado pelo então ministro Onyx Lorenzoni. Na época, Onyx alegou, em conversa com Bolsonaro, que Manato teria que ser demitido por “incompetência”, pois não estava conseguindo ajudar o governo na articulação com o Congresso Nacional.
“Manato foi demitido do próprio governo Jair Bolsonaro do seu cargo na Casa Civil. E o motivo foi incompetência: não apresentou resultados suficientes, como a própria Pasta já disse em nota”, recordou Felipe Rigoni, que acrescentou: “Se você não apoia o atual governador, eu peço que vote nele, para que esse tempo não volte para o nosso Estado e pela confiança que você tem em mim.”
Rigoni explicou ainda que “sempre sempre falei que Paulo [Hartung] e Renato [Casagrande] cumpriram tarefas importantes para o Espírito Santo e que, se fosse para ter uma mudança, teria de ser uma mudança com segurança, coisa que Manato está longe de ser.” E depois acrescentou: “Renato Casagrande já provou que é possível governar com presidentes que pensam de forma diferente”.
As explicações dadas por Manato em 2018 para entrar e sair da Le Cocq
O Blog do Elimar Côrtes foi o primeiro veículo de imprensa do Brasil a divulgar, em setembro de 2018, que Carlos Manato integrou a Le Cocq. Na época, ele, que era deputado federal e disputava o comando do Executivo Estadual com o mesmo Renato Casagrande, confirmou a informação. No entanto, em nota enviada ao Blog por sua Assessoria de Imprensa, Manato alegou ter se desfiliado da Scuderie assim que observou que a entidade defendia temas militares.
Diz a Nota: “Em 1991, Carlos Manato, na época médico, concluiu o curso da Escola Superior de Guerra (ESG), vindo a integrar a Associação dos Diplomados na Escola Superior de Guerra (ADESG). Durante o curso, alguns amigos policiais o convidaram para também fazer parte da Le Cocq, que, segundo eles, seguia as mesmas linhas da ESG. Manato participou de algumas reuniões e não se identificou com os temas, achou que era bem mais restrito ao meio militar e não voltou às reuniões. A desfiliação só ocorreu cerca de três anos depois, pois encontrou certa dificuldade devido a mudança de endereço da sede da organização. É importante frisar que Manato não teve acesso, nem conhecimento de nenhuma prática criminosa que, por ventura, tenha sido imputada à organização enquanto participou das reuniões. É importante ressaltar também que, à época, pessoas de renome e conhecidos amigos faziam parte da Le Cocq o que dava credibilidade e uma aparente segurança para que Manato também participasse dessas poucas reuniões”.
Em 2018, Renato Casagrande venceu a disputa no primeiro turno, com 1.072.224 votos, e Carlos Manato, com 525.973, ficou em segundo lugar. Desta vez, a disputa vai para o segundo turno. Casagrande (976.652) teve 46,94% dos votos válidos, no pleito de domingo (02/10), e Manato teve 38,48% (800.598) dos votos válidos.