Você sabia que, de acordo com a Organização das Nações Unidas, as mulheres africanas que residem no interior andam seis quilômetros por dia apenas para apanhar água? Em média carregam 40 litros ao longo desta inacreditável jornada que ainda enfrentam em pleno século XXI. Ao final de um ano terão sido 40 bilhões de horas neste ir e vir.
Mas veja bem: ao fim do cabo elas têm sorte – ainda conseguem encontrar água, afinal. No Quênia, por exemplo, 56% da população não desfrutam deste privilégio. Pelo continente afora, uma a cada três pessoas.
Eis aí um quadro que compromete o próprio futuro da região. Nos idos de 2021 o UNICEF revelou que “nove em cada dez crianças do norte da África vivem em áreas sob severa ou muito severa escassez de água, com sérias consequências para sua saúde, nutrição, desenvolvimento mental e vida futura”.
De acordo com o World Resources Institute (WRI) este problema tem solução. Um investimento anual da ordem de US$ 35 bilhões seria suficiente para proporcionar água tratada, saneamento e condições adequadas de higiene para toda a população da África subsaariana.
Uma observação: utilizei acima o termo “investimento” por conta de uma advertência da Organização Mundial de Saúde no sentido de que a cada dólar investido em saneamento corresponde um retorno econômico situado entre US$ 3 e US$ 34, dependendo do país.
Medite sobre a gravidade deste quadro e as sérias consequências que a demora em enfrentá-lo acarretam.
Foquemos agora no Brasil: quase 35 milhões de brasileiros não tem acesso a água tratada e 47% da população não tem acesso a uma rede de esgoto (dados referentes a 2018). Para completar perdemos uns 40% da água potável pelas redes de distribuição.
Esta é uma realidade histórica – e que nos cobre de vergonha. No distante ano de 1896 causou escândalo internacional o caso do cruzador Lombardia, da Marinha da Itália. Mal o navio de guerra aportou no Rio de Janeiro um surto de febre amarela abateu-se sobre a tripulação. Apenas 100 dentre 340 marinheiros sobreviveram a uma cidade sem saneamento. Até o comandante morreu.
Nos idos de 2020 encontrou-se, enfim, a solução para este doloroso quadro: uma lei segundo a qual, até 2033, 99% dos brasileiros deverão ter acesso a água potável e 90% ao tratamento e à coleta de esgoto. Simples assim.