O argentino Pablo David Eliseo Sandes, um dos empresários presos em Vitória, nesta terça-feira (15/12), no âmbito da Operação Piànjù, é pai do menino Pablo, de 4 anos, que morreu em um incêndio ocorrido em um edifício, na noite do dia 19 de outubro de 2020, localizado na Avenida Rio Branco, na Praia do Canto.
O incêndio começou por volta das 20 horas, no apartamento do terceiro andar do Edifício Pintor Fanzeres, onde o menino morava com os pais e irmãos. Segundo informações do Corpo de Bombeiros, estavam no apartamento seis pessoas: duas crianças, o pai, a mãe, a avó e uma babá.
O argentino Pablo é acusado de integrar um grupo criminoso que teria enviado de maneira ilegal mais de R$ 400 milhões para a China e estados Unidos. O dinheiro é fruto de corrupção de empresas envolvidas na Operação Lava Jato.
Nesta terça-feira, Pablo David foi preso pela Polícia Civil do Espírito Santo dentro da Operação Piànjù, que teve o objetivo de desarticular uma organização criminosa com atuação interestadual e internacional. Ao todo, dez empresários foram detidos, sendo quatro presos no Estado, cinco em São Paulo e um no Ceará. Na operação, a Polícia Civil apreendeu cerca de R$ 3,5 milhões em espécie.
Outro capixaba preso que teve sua identidade liberada é o empresário Wilson Caodutro. Ele e Pablo são donos de empresas de embarcações e veículos de passeio.
A operação Piànjù é coordenada por meio da Divisão Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic) e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES). A ação contou com apoio das Polícias Civis de São Paulo, Alagoas e Ceará, além da Capitania dos Portos da Marinha do Brasil.
A operação ocorreu de forma simultânea em quatro estados. No Espírito Santo a operação ocorreu nos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, em São Paulo decorreu na Capital, Santos e Jaguariúna, no Ceará intercorreu em Fortaleza e em Alagoas passou-se Maceió.
Ao todo 118 agentes foram empregados na operação. Foram expedidos 126 mandados judiciais. Sendo 18 mandados de prisão preventiva, cinco mandados de prisão temporária, 30 mandados de busca e apreensão, 23 sequestros de embarcações, 43 ordens judiciais de bloqueio de contas bancárias e duas ordens judiciais de suspensão de atividades econômicas.
Dentre as ordens de busca e apreensão encontram-se 12 imóveis, três veículos de luxo (Porsche Panamera, Maserati Granturismo e Mercedes Benz GLA 200 ff), além de 12 motos aquáticas e 11 embarcações.
Investigações
A operação Piànjù é fruto de uma investigação que perdurou dois anos e denotou uma célula de uma organização criminosa que atuava no Espírito Santo. Essa associação era composta por dois grandes empresários capixabas e diversos outros membros, que agiam como “prestadoras de serviços” de lavagem de capitais para outras organizações criminosas.
O grupo criminoso desarticulado atuava de forma estruturada com a finalidade de praticar diversos crimes, entre eles: organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e particulares, inserção de dados falsos em sistemas informatizados, falsidade ideológica, estelionato e falsa comunicação de crime.
O esquema criminoso foi descoberto a partir de um falso comunicado de roubo de um caminhão. “Descobrimos que ele não existia fisicamente e que só constava no banco de dados do Detran e do Renavan. Esses caminhões ‘fantasmas’ serviam de patrimônio para essas empresas para que elas pudessem fazer o envio de dinheiro para a China e para os Estados Unidos”, disse o titular da DFRV, delegado João Paulo Pinto.
“Nessa primeira fase da investigação sabemos que o dinheiro era enviado por determinadas empresas envolvidas em outros crimes, mas queremos saber se esses recursos pertenciam às companhias do Espírito Santo e de quais atividades eles eram fruto. Sabemos que os empresários daqui ficavam com uma parte do dinheiro e o resto mandava para fora. Eles pagavam os impostos para fugir das fiscalizações dos órgãos de controle”, explicou o delegado.
Investigados na Operação Lava Jato
Durante a investigação, comprovou-se que a organização criminosa possuía ligação com empresas e pessoas investigadas e denunciadas no âmbito de diversas fases da Operação Lava Jato, realizadas por meio da Polícia Federal e Ministério Público Federal. Entre elas a Operação Chorume, Operação Descarte, bem como empresas que já foram investigadas por atuarem com os doleiros Alberto Youssef e Nelma Kodama, todos no âmbito da força tarefa da Operação Lava Jato.
Uma das empresas é investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, por desvios de mais de R$ 98 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), tendo esta Organização Criminosa sediada no Estado do Espírito Santo movimentado mais de R$ 800 milhões de reais, valor global.