Ex-secretário Estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio, o advogado capixaba Lucas Tristão do Carmo está sendo alvo de mandado de prisão no âmbito de uma operação da Polícia Federal que apura desvio de dinheiro da área da Saúde, que seria destinado ao combate ao novo coronavírus. Ele foi procurado por policiais federais em sua casa, na Praia da Costa, Vila Velha, na manhã desta sexta-feira (28/08). Foi procurado também em sua residência no Rio, mas não foi encontrado.
Na mesma ação, determinada pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Benedito Gonçalves, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), foi afastado do cargo nesta sexta-feira (28/08) por pelo menos seis meses. A medida ocorre no momento em que a Procuradoria Geral da República (PGR), em parceria com a Polícia Federal, cumpre mandados de prisão e de busca e apreensão contra agentes públicos, políticos e empresários envolvidos, segundo a acusação, em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro do grupo liderado pelo governador fluminense.
Especializado no setor Empresarial, Lucas Tristão foi aluno no curso de Direito da UVV do então juiz federal Wilson Witzel, quando o magistrado atuava na Justiça Federal no Espírito Santo.
Em 2018, quando abandonou a magistratura para se candidatar ao governo do Rio, Witzel se tornou sócio de seu ex-aluno em um escritório de advocacia em Vitória. Eleito governador do Estado do Rio, Wiztel levou Lucas Tristão para ser seu secretário de Desenvolvimento Econômico.
No dia 3 de junho deste ano, o governador Wilson Witzel exonerou hoje o secretário Lucas Tristão. Braço direito de Witzel, Tristão foi apontado como o pivô da crise entre o Executivo fluminense e o plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde o governador já acumula dez pedidos de impeachment.
A demissão aconteceu uma semana após operação da Polícia Federal que teve Witzel e integrantes de seu governo como alvo. Investigação da Procuradoria-Geral da República apontou a relação de Lucas Tristão com o empresário Mário Peixoto —um dos principais fornecedores do governo, preso preventivamente no mês passado pela Lava Jato.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) promovem também nesta sexta-feira (28/08) a Operação Tris in Idem, para cumprir 17 mandados de prisão (sendo seis preventivas e 11 temporárias) e 72 de busca e apreensão.
Além do advogado capixaba Lucas Tristão, o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, foi um dos presos. Dentre os alvos dos mandados de busca e apreensão, estão o vice-governador do Rio, Cláudio Castro, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o deputado André Ceciliano (PT), e a primeira-dama, Helena Witzel.
Há mandados sendo cumpridos no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, e no Palácio Guanabara, sede do governo do Estado.
A ação desta sexta-feira é um desdobramento da Operação Placebo, que cumpriu, no dia 26 de maio de 2020, mandados de busca e apreensão contra Witzel, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos e a primeira-dama.
O nome da operação de hoje é uma referência ao fato de Witzel ser o terceiro governador do Estado do Rio afastado do cargo por utilizar a função pública para obter vantagens através de esquemas ilícitos semelhantes.
DELAÇÃO DE EDMAR SANTOS
O afastamento de Witzel e a operação desta sexta-feira teriam sido resultados da delação premiada que o ex-secretário Edmar Santos fechou com a Procuradoria Geral da República. Edmar foi preso no dia 10 de julho, em um desdobramento da Operação Mercadores do Caos. Ele é apontado por fazer parte de uma quadrilha que desviou R$ 36.922.920,00 dos cofres públicos do Estado envolvendo organizações sociais (OSs). O ex-secretário foi solto em 6 de agosto.
A delação de Edmar Santos foi homologada pelo STJ, para quem o ex-secretário prometeu confirmar a existência de um esquema de corrupção no governo do estado. Edmar disse que tinha áudios de conversas com Witzel, o Pastor Everaldo e com deputados da Alerj.
Capixaba, primeira-dama do Rio é acusada de fazer parte de esquema criminoso
Nascida há 39 anos atrás em Vila Velha, a capixaba Helena Alves Brandão Witzel também conheceu o ex-juiz federal Wilson Witzel na sala de aulas da Universidade de Vila Velkha (UVV), mais precisamente no curso de Direito. Aluna do então juiz, ela acabou se casando com Witzel e se tornou, assim, a primeira-dama do Estado do Rio.
De acordo com o jornal O Globo, A força-tarefa da Lava-Jato apontou participação direta da primeira-dama Helena Witzel nas investigações que culminaram no afastamento de seu marido, o governador Wilson Witzel pelo Superior Tribunal de Justiça.
A Procuradoria-Geral da República sustenta que Witzel usou o escritório de advocacia da mulher para receber dinheiro desviado por intermédio de quatro contratos simulados no valor aproximado de R$ 500 mil – cerca de R$ 15 mil mensais de cada uma das quatro.
Um email escrito por Witzel, apreendido pela PGR, orienta os interessados a redigir o contrato com o escritório de Helena. Chamou também a atenção dos investigadores a participação da primeira-dama em um processo de execução fiscal da família do médico Gothardo Lopes Netto, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual, dona do Hospital Infantil e Maternidade Jardim Amália Ltda (HINJA), maior unidade de saúde privada do município.
O processo, que tramita na Justiça Federal de Volta Redonda, já tinha como advogado Lucas Tristão, ligado ao esquema, porém, no decorrer da ação, a primeira-dama entrou com uma petição para avisar que estava ingressando na mesma causa e passando a advogar para o hospital. É quando, segundo as investigações, passou a receber os R$ 15 mil mensais apenas por esse serviço. Não há nenhum outro documento no âmbito desse processo que tenha justificado o vultoso pagamento opor apenas uma petição.
A operação contra o governador Wilson Witzel e seus aliados é vista como versão atualizada da “Calicute”, que prendeu em novembro de 2016 o ex-governador Sérgio Cabral e outros integrantes do esquema.
Sob comando de Witzel, o governo canalizou os abundantes recursos do combate ao Covid-19 para a contratação de organizações sociais e autorizou compras direcionando as licitações com o uso de empresas de fachada. Ao mesmo tempo, priorizou o pagamento de dívidas antigas (restos a pagar) dos aliados – restos a pagar são serviços e compras efetuados nos anos (exercícios) anteriores e que não foram pagos.