Uma força tarefa, composta por uma equipe da Secretaria Municipal de Saúde e outra da Guarda Municipal, está percorrendo casa por casa e examinando pessoa por pessoa em 12 comunidades de Presidente Kennedy, município do extremo Sul do litoral capixaba, com o objetivo de identificar suspeitas de contaminação e frear a disseminação do novo coronavírus, que já alcançou o correspondente a 3% da população, estimada pelo IBGE em 11.574 moradores.
Isto porque, nos últimos 15 dias, o número de casos notificados saltou de 194 para 347 casos, um crescimento de 78%, o que o secretário municipal de Saúde, Jairo Frinks, 59 anos, atribui a esse trabalho de enfrentamento à doença. No princípio, segundo o médico Marcos Sobreira, diretor clínico do Município, a barreira sanitária abordou 40 mil pessoas nos acessos da cidade e não encontrou ninguém com sintomas.
Enquanto o Espírito Santo aplicou 2,25 testes para cada caso confirmado de Covid-19, o município de Presidente Kennedy fez 5,7 testes por cada caso. Em todo o Estado, o índice de curados é de 61,87%, enquanto no município é de 55,5%, “justamente porque são casos novos, que somente foram descobertos por causa da testagem”.
Segundo Jairo Frinks, cujo pai, Manuel Frinks, foi prefeito duas vezes, e a mãe, Genilda, foi a primeira enfermeira do município, o trabalho feito pela Barreira de Saúde Itinerante, bem como todas as ações preventivas implementadas desde o primeiro momento em que surgiram as notícias da ocorrência de Covid no Espírito Santo, ainda em fevereiro de 2020, é que resultam no número, aparentemente, elevado de casos da doença em Presidente Kennedy, em comparação com o restante do Estado e outros municípios.
TESTAGEM
“Quando conseguimos comprar os testes para detectar o vírus, tínhamos pouco mais de 20 casos notificados. Fizemos uma testagem massiva, principalmente do pessoal de frente, da saúde, dos transportes, da segurança, e rapidamente ultrapassamos a casa dos 100 casos confirmados. O número absoluto não nos incomoda. O que incomoda é ver a doença e não fazer nada, e fizemos muito”, disse o secretário de Saúde.
Jairo Frinks comemora o retorno para casa, em Jaqueira, de uma paciente de 92 anos, que se recuperou da doença e estava na Santa Casa de Cachoeiro. Foi nessa localidade que ocorreu o primeiro caso de morte por Covid-19 no Sul do Estado: uma mulher que teria contraído o vírus quando foi ao hospital Jayme Santos Neves, na Serra, fazer tratamento de um problema renal crônico.
O segundo caso foi outra mulher, filha do município, mas que morava em Duque de Caxias (RJ), e estava passando temporada na Praia das Neves. “Ela já chegou contaminada”, disse Jairo.
Foi a partir daí que Presidente Kennedy entrou em estado de alerta para chegada da doença, confirma o diretor Clínico do hospital da cidade, o médico Marcos Sobreira, de 69 anos, que, além de conduzir a estratégia de assistência aos pacientes do município, ainda tem dedicado atenção especial ao próprio prefeito Dorlei Fontão (PSD), que foi diagnosticado com a doença e colocado em isolamento.
Conhecido como Dorlei da Saúde, o prefeito foi vereador por quatro mandatos e era o vice-prefeito até o ano passado, quando assumiu a prefeitura diante do afastamento da prefeita Amanda Quinta (PSDB), inicialmente por 60 dias e, depois, definitivamente, por decisão da Justiça.
Seu esforço por dotar a saúde do município de infraestrutura de qualidade para atender à população, não apenas durante a pandemia, mas de forma permanente, tem a ver, segundo disse, que seu próprio histórico político vinculado ao setor.
Agora, o trabalho da barreira itinerante está surtindo muito mais efeito, segundo Marcos Sobreira: “Quando a equipe da barreira itinerante encontra algum caso suspeito, mesmo que o teste no posto de saúde dê negativo, a pessoa é colocada em isolamento em casa por pelo menos uma semana, sendo monitorada diariamente. Se aparecerem os sintomas, volta a testar e entra em tratamento imediatamente, junto com seu núcleo familiar”, diz o prefeito Dorlei.
“Esse trabalho está sendo muito bem sucedido. Por isso esses números aparecem tão altos, mas estamos salvando vidas. Porém, é importante salientar que é uma via de mão dupla: de um lado, o poder público agindo preventivamente e do outro a população, que precisa se proteger, usar máscaras e tomar todas as medidas preventivas. Isso não vinha sendo bom, mas parece que na última semana a sociedade ficou mais atenta e melhorou nosso índice de isolamento”, completa o secretário Jairo.
Cidades vizinhas demoraram a fizer o dever de casa
A pandemia do Covid-19 no Brasil teve início em 16 de fevereiro deste ano. Naquele momento, alguns profissionais da Saúde de Presidente Kennedy trabalhavam também para a Prefeitura de Marataízes, município vizinho.
Logo no início da descoberta da pandemia, o prefeito Dorley e seus gestores tomaram medidas preventivas, como o isolamento social, uso de máscaras, suspensão de atividade econômica e a série de teste para detectar o Covid-19.
A gestão pública de Marataízes, no entanto, demorou tomar as primeiras medidas preventivas, assim como municípios do Estado do Rio de Janeiro, com quem Presidente Kennedy faz divisa.
Moradores dessas cidades, que tinham e ainda têm negócios e parentes em Presidente Kennedy, acabaram levando o vírus para a cidade kennedense. Profissionais da Saúde de Presidente Kennedy também contraíram o vírus trabalhando em Marataízes.