O presidente Jair Bolsonaro fez na noite de terça-feira (31/03) pronunciamento em rede nacional de rádio e TV no qual afirmou que a pandemia provocada pelo novo coronavírus (covid-19) é o “maior desafio da nossa geração”. Bolsonaro, desta vez, mudou o tom do discurso, abandonando, pelo menos por enquanto, a ideia de estimular a população a não seguir as orientações médicas para o isolamento social.
Bolsonaro apelou, inclusive, para união entre os Poderes, incluindo os governadores e prefeitos. Antes, ele vinha criticando os governadores por adotarem medidas que impeçam a aglomeração de pessoas. O Presidente, entretanto, voltou a enfatizar a necessidade de se implementar medidas para a preservação de empregos.
“O efeito colateral das medidas de combate ao coronavírus não pode ser pior do que a própria doença. A minha obrigação como Presidente vai para além dos próximos meses. Preparar o Brasil para a sua retomada, reorganizar nossa economia e mobilizar todos os nossos recursos e energia para tornar o Brasil ainda mais forte após a pandemia”, disse Bolsonaro.
O Presidente frisou que as medidas de proteção à população estão sendo implementadas de forma coordenada, racional e responsável. Segundo Bolsonaro, o Brasil avançou muito nos últimos 15 meses, desde que tomou posse em janeiro de 2019, e sua preocupação sempre foi salvar vidas.
“Tanto as que perderemos pela pandemia quanto aquelas que serão atingidas pelo desemprego, violência e fome”, pontuou Bolsonaro, que, anteriormente, vinha conclamando a população a voltar à normalidade.
Ele destacou políticas em defesa do emprego e da renda como a ajuda financeira aos estados e municípios (com adiamento de pagamento das dívidas), linhas de crédito para empresas, auxílio mensal de R$ 600 aos trabalhadores informais e vulneráveis e entrada de cerca de 1,2 milhão de famílias no programa Bolsa Família.
“Temos uma missão: salvar vidas, sem deixar para trás os empregos. Por um lado, temos que ter cautela e precaução com todos, principalmente junto aos mais idosos e portadores de doenças preexistentes. Por outro, temos que combater o desemprego, que cresce rapidamente, em especial entre os mais pobres. Vamos cumprir essa missão ao mesmo tempo em que cuidamos da saúde das pessoas.”
OMS
Bolsonaro citou a fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, que disse na segunda-feira (30/03) que há muitas pessoas que têm que trabalhar todos os dias e que essa população precisa ser levada em conta pelo governo.
“O diretor-geral] continua ainda: ‘Se fecharmos ou limitarmos movimentações, o que acontecerá com estas pessoas, que têm que trabalhar todos os dias e que têm que ganhar o pão de cada dia todos os dias?’ Ele prossegue: ‘Então, cada país, baseado em sua situação, deveria responder a esta questão’”, disse o Presidente em referência à fala de Tedros Adhanom.
“Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que da mesma forma precisamos pensar nos mais vulneráveis. Esta tem sido a minha preocupação desde o princípio”, acrescentou o Bolsonaro, ao citar trabalhadores informais e autônomos
Nesta terça-feira, pelas redes sociais, o diretor-presidente da organização, sem citar o Presidente brasileiro, se manifestou e afirmou que pessoas sem renda merecem ter a dignidade garantida e convocou os países a desenvolverem políticas que forneçam proteção econômica a essas pessoas.
“Eu cresci pobre e entendo essa realidade. Convoco os países a desenvolverem políticas que forneçam proteção econômica às pessoas que não possam receber ou trabalhar devido à pandemia da covid-19. Solidariedade”, disse em mensagem retuitada pela OMS.
Saúde
Bolsonaro afirmou que o governo está adquirindo novos leitos com respiradores, equipamentos de proteção individual (EPI), kits para testes e outros insumos. Também destacou o adiamento, por 60 dias, do reajuste de medicamentos no Brasil.
O Presidente voltou a falar que a hidroxicloroquina parece eficaz contra o novo coronavírus, mas que ainda não há vacina ou remédio com eficiência cientificamente comprovada.
“Na última Reunião do G-20 [grupo das vinte principais economias do mundo], nós, os chefes de Estado e de Governo, nos comprometemos a proteger vidas e a preservar empregos. Assim o farei”, disse.
Jair Bolsonaro destacou o emprego das Forças Armadas no combate ao novo coronavírus e a criação de um Centro de Operações para realizar ações de montagem de postos de triagem de pacientes, apoio a campanhas, logística e transporte de medicamentos e equipamentos de saúde.
O Presidente destacou que determinou ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “que não poupasse esforços, apoiando através do SUS todos os estados do Brasil, aumentando a capacidade da rede de saúde e preparando-a para o combate à pandemia”.
Bolsonaro agradeceu ainda os profissionais de saúde e voltou a falar da importância da colaboração de Legislativo, Executivo, Judiciário e sociedade civil para a preservação da vida e dos empregos.
“Aproveito a oportunidade para me solidarizar e agradecer o empenho e sacrifício pessoal de todos os profissionais da saúde, da área de segurança, caminhoneiros e todos os trabalhadores de serviços considerados essenciais, que estão mantendo o país funcionando. Bem como aos homens e mulheres do campo, que produzem nossos alimentos”, disse o Presidente, que concluiu:
“Com esse mesmo espírito, agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto para preservação da vida e dos empregos. Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade.”
(Com informações também da Agência Brasil)