O Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol/ES) realizou mais uma fiscalização surpresa no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória e encontrou uma unidade precária, sem espaço para receber corpos de vítimas e péssimas condições de trabalho para os policiais civis – médicos-legistas, auxiliares de perícia, peritos criminais, dentre outros.
Desde 2015, o Sindipol vem realizando inspeções nas unidades da Polícia Civil. Graças a essas inspeções, a Justiça determinou, em alguns casos, que o Estado tomasse providências. No entanto, sem a interferência da Justiça, o governo Paulo Hartung (leia-se também ex-secretários da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia e Nylton Rodrigues) nada fez para melhorar as condições das delegacias, DML e sedes do Instituto Médico Legal (IML) nas cidades do interior.
“Por diversas vezes, enviamos ofício às autoridades do governo Hartung relatando, com textos, vídeos e fotos, a situação precária do DML e das demais unidades da Polícia Civil. Infelizmente, nada foi feito pelos ex-gestores da Segurança Pública do governo Hartung”, lamenta o presidente do Sindipol/ES, Jorge Emílio Leal.
De acordo com o Sindipol, o DML de Vitória não possui um sistema de climatização, o que acelera o processo de decomposição dos corpos. Os policiais tiveram que fazer uma “vaquinha” para consertar o ventilador da sala de necropsia e, segundo o Sindipol/ES, a temperatura no ambiente chega a 40 graus.
A geladeira usada para guardar corpos apresenta pane e funciona com “gambiarras”. Além disso, a geladeira está lotada. Tem capacidade para 48 vagas, mas 40 estão ocupadas permanentemente com corpos sem identificação. Situação que se agravou na sexta-feira (01/03), com o fechamento do Serviço Médico Legal de Cachoeiro (SML), no Sul do Estado. O Sindicato encontrou corpos em sacolas no corredor do DML.
“Pela manhã tinha 12 corpos no DML e não cabiam todos na geladeira. São corpos de pessoas da Grande Vitória e do Sul do Estado. Como a geladeira está lotada, alguns corpos foram deixados na sacola no corredor. Isso é um total falta de respeito com os profissionais e com os familiares dos mortos”, disse Jorge Emílio.
Para o Sindipol, as condições de trabalho no DML da capital são insalubres. A rede elétrica está comprometida, com fios expostos, o que, na visão do sindicato, pode causar um incêndio ou até um acidente fatal.
“Tem água e sangue pelo chão. Um policial com a luva molhada pode ser eletrocutado. O risco de um acidente ou incêndio é real. Os policiais estão correndo risco lá dentro”, explicou Humberto Mileip, vice-presidente do Sindipol/ES.
Mileip disse ainda que a água de levar corpos, sangue de vítimas e produtos químicos usados pelos profissionais do DML de Vitória vão direto para a rede de esgoto comum, sem nenhum tratamento.
De acordo com o Sindipol/ES, o número de policiais civis que trabalham no DML é baixo. Ao todo, são 45 profissionais divididos em quatro plantões: 16 médicos legistas, 16 auxiliares de perícia e 13 agentes e investigadores. O DML funciona 24 horas.
“A situação é caótica e insalubre. Esses profissionais estão correndo sério risco, até mesmo de contaminação. O governo não pode negar que avisamos. Como nada foi feito, as condições de trabalho no DML de Vitória só pioraram”, finalizou Jorge Emílio.
A diretoria do Sindicato dos Policiais Civis vai oficiar o IEMA, Ibama, a Cesan, Vigilância Sanitária, a Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa, os Bombeiros, a Secretaria de Segurança, o Ministério Público do Trabalho, a Procuradoria Geral de Justiça e a própria Policia Civil, para que providências sejam logo tomadas urgentemente.
“Recebemos uma segurança pública totalmente falida”, diz diretor-geral da Polícia Civil
O diretor-geral da Polícia Civil, delegado José Darcy Arruda, anunciou que já tomou providências para reestruturar o DML de Vitórias. Ele reconheceu que o DML nunca foi reformado no governo passado, de Paulo Hartung. “Recebemos uma segurança pública totalmente falida, sem estrutura”, afirmou Arruda, em entrevista à TV Capixaba.
Segundo ele, a administração percebeu que há necessidade de reforma imediatamente no DML: “Já fizemos um diagnóstico e solicitamos ao nosso Setor de Projetos a elaboração de estudos para o início imediato de obras, como nova iluminação, refrigeração e a melhoria das condições físicas do DML”, garantiu o diretor-geral da Polícia Civil capixaba.