Em artigo encaminhado ao
Blog do Elimar Côrtes, intitulado “O despertar pedagógico da participação
social na segurança pública: para uma visão além dos imediatismos”, o major Sandro Roberto Campos, chefe da Divisão de Polícia
Comunitária da Diretoria de Direitos humanos e Polícia Comunitária da Polícia Militar do Espírito Santo, aborda a necessidade, em longo prazo, da
produção de condutas que a sociedade deve possuir individual e coletivamente
com foco nos impactos positivos no cenário da segurança, e da ordem pública.
Além disso, o artigo faz reflexões em torno da união de forças visando o
alcance do bem comum em contraponto às desesperanças inerentes ao cenário
criminal.
Blog do Elimar Côrtes, intitulado “O despertar pedagógico da participação
social na segurança pública: para uma visão além dos imediatismos”, o major Sandro Roberto Campos, chefe da Divisão de Polícia
Comunitária da Diretoria de Direitos humanos e Polícia Comunitária da Polícia Militar do Espírito Santo, aborda a necessidade, em longo prazo, da
produção de condutas que a sociedade deve possuir individual e coletivamente
com foco nos impactos positivos no cenário da segurança, e da ordem pública.
Além disso, o artigo faz reflexões em torno da união de forças visando o
alcance do bem comum em contraponto às desesperanças inerentes ao cenário
criminal.
O
despertar pedagógico da participação social na segurança pública: para uma
visão além dos imediatismos
despertar pedagógico da participação social na segurança pública: para uma
visão além dos imediatismos
Convido aos nobres leitores e
leitoras a uma reflexão em torno de uma questão central que aborda a
participação da sociedade num assunto que lhes diz respeito diretamente: Como
alcançar relevante adesão para se atingir necessárias transformações de ordem
pública?
leitoras a uma reflexão em torno de uma questão central que aborda a
participação da sociedade num assunto que lhes diz respeito diretamente: Como
alcançar relevante adesão para se atingir necessárias transformações de ordem
pública?
Faremos uma jornada
preliminar em torno da ambiência que estamos todos, friso, TODOS, situados: sessenta
mil brasileiros e brasileiras são assassinados por ano no País. Traduzindo em
miúdos: por dia, morrem 165 pessoas, corroborando uma antiga narrativa de
Alexandre Garcia, da qual um avião cai todos os dias em território nacional, mas
isso parece não mais nos consternar.
preliminar em torno da ambiência que estamos todos, friso, TODOS, situados: sessenta
mil brasileiros e brasileiras são assassinados por ano no País. Traduzindo em
miúdos: por dia, morrem 165 pessoas, corroborando uma antiga narrativa de
Alexandre Garcia, da qual um avião cai todos os dias em território nacional, mas
isso parece não mais nos consternar.
Em meio a números tão
estarrecedores, não só homicídios, mas que abrangem várias causas criminais, o
nebuloso horizonte que paira sobre as visões dos brasileiros é um só: não há
mais jeito. Não há mais soluções nem saídas. A desesperança invade nossos
corações e somos todos transportados para a anomia e a espera por soluções
mágicas e/ou inovadoras.
estarrecedores, não só homicídios, mas que abrangem várias causas criminais, o
nebuloso horizonte que paira sobre as visões dos brasileiros é um só: não há
mais jeito. Não há mais soluções nem saídas. A desesperança invade nossos
corações e somos todos transportados para a anomia e a espera por soluções
mágicas e/ou inovadoras.
Tradicionalmente, diante de
cenários criminais tão avassaladores, como é o caso do Brasil, o poder público
tem como principal enfoque a aplicação de recursos a ser destinados para
‘solucionar’ conflitos históricos e antigos. Mas entendamos que os recursos são
sempre em números decrescentes e instáveis. Jamais abordaremos os complexos
cenários contemporâneos com mais, e cada vez mais adoção de recursos. Muito
embora, ao mesmo tempo, não há como não falar deles.
cenários criminais tão avassaladores, como é o caso do Brasil, o poder público
tem como principal enfoque a aplicação de recursos a ser destinados para
‘solucionar’ conflitos históricos e antigos. Mas entendamos que os recursos são
sempre em números decrescentes e instáveis. Jamais abordaremos os complexos
cenários contemporâneos com mais, e cada vez mais adoção de recursos. Muito
embora, ao mesmo tempo, não há como não falar deles.
Isso não é fácil de enxergar
claramente, afinal, a espetacularização do crime cada vez mais efervesce a
opinião pública na direção do enfrentamento, mas não reflete suas causas com a
profundidade merecida.
claramente, afinal, a espetacularização do crime cada vez mais efervesce a
opinião pública na direção do enfrentamento, mas não reflete suas causas com a
profundidade merecida.
Deslocando o enfoque dos
recursos, pensemos no comportamento da demanda. Mas por que o crime ocorre? Esta
é a principal questão a ser alcançada. Pessoas estão cometendo crimes, condutas
não freiam diante das penas previamente culminadas presentes em pedaços de
papéis, então as práticas se perpetuam em progressão geométrica e contínua,
alicerçadas na impunidade.
recursos, pensemos no comportamento da demanda. Mas por que o crime ocorre? Esta
é a principal questão a ser alcançada. Pessoas estão cometendo crimes, condutas
não freiam diante das penas previamente culminadas presentes em pedaços de
papéis, então as práticas se perpetuam em progressão geométrica e contínua,
alicerçadas na impunidade.
Estamos certos de que o
sistema prisional sempre esteve em situação crítica e, segundo o último Anuário
Brasileiro de Segurança Pública (2016), a projeção é da construção de,
aproximadamente, mais sete mil novos presídios para abarcar uma população
prisional de dois milhões de brasileiros.
sistema prisional sempre esteve em situação crítica e, segundo o último Anuário
Brasileiro de Segurança Pública (2016), a projeção é da construção de,
aproximadamente, mais sete mil novos presídios para abarcar uma população
prisional de dois milhões de brasileiros.
Então a busca pela origem
criminal passou da hora de ser respondida. São muitas as respostas e teorias
que “tentam” explicar essa questão, e, dadas às complexidades envolvidas,
encontram inúmeras dificuldades. Aqui sugerimos o raciocínio apontando três
delas tendo como foco a necessária participação social.
criminal passou da hora de ser respondida. São muitas as respostas e teorias
que “tentam” explicar essa questão, e, dadas às complexidades envolvidas,
encontram inúmeras dificuldades. Aqui sugerimos o raciocínio apontando três
delas tendo como foco a necessária participação social.
Pensemos na teoria da Desorganização social citada
brilhantemente por Waldyr Lobão e Daniel Cerqueira no “texto para discussão n°
956 –
Determinantes da criminalidade: uma resenha dos modelos teóricos e resultados
empíricos”, que,
citando outros renomados autores, asseveram que:
brilhantemente por Waldyr Lobão e Daniel Cerqueira no “texto para discussão n°
956 –
Determinantes da criminalidade: uma resenha dos modelos teóricos e resultados
empíricos”, que,
citando outros renomados autores, asseveram que:
Trata-se
de uma abordagem sistêmica cujo enfoque gira em torno das comunidades locais,
sendo essas entendidas como um complexo sistema de redes de associações formais
e informais, de relações de amizades, parentescos e de todas as outras que de alguma
forma contribuam para o processo de socialização e aculturação do indivíduo.
Tais relações seriam condicionadas por fatores estruturais, como status
econômico, heterogeneidade étnica e mobilidade residencial. Além desses a
teoria tem sido estendida para comportar outras variáveis, como fatores de
desagregação familiar e urbanização. Sob esse ponto de vista, a organização
social e a desorganização social constituiriam laços inextricáveis de redes
sistêmicas para facilitar ou inibir o controle social [Sampson (1997)]. Desse
modo, a criminalidade emergiria como conseqüência de efeitos indesejáveis na
organização dessas relações sociais em nível comunitário e das vizinhanças
[Entorf e Spengler (2002)] como, por exemplo, redes de amizades esparsas, grupos
de adolescentes sem supervisão ou orientação, ou baixa participação social.
de uma abordagem sistêmica cujo enfoque gira em torno das comunidades locais,
sendo essas entendidas como um complexo sistema de redes de associações formais
e informais, de relações de amizades, parentescos e de todas as outras que de alguma
forma contribuam para o processo de socialização e aculturação do indivíduo.
Tais relações seriam condicionadas por fatores estruturais, como status
econômico, heterogeneidade étnica e mobilidade residencial. Além desses a
teoria tem sido estendida para comportar outras variáveis, como fatores de
desagregação familiar e urbanização. Sob esse ponto de vista, a organização
social e a desorganização social constituiriam laços inextricáveis de redes
sistêmicas para facilitar ou inibir o controle social [Sampson (1997)]. Desse
modo, a criminalidade emergiria como conseqüência de efeitos indesejáveis na
organização dessas relações sociais em nível comunitário e das vizinhanças
[Entorf e Spengler (2002)] como, por exemplo, redes de amizades esparsas, grupos
de adolescentes sem supervisão ou orientação, ou baixa participação social.
O espaço de análises ganha
uma amplitude gigantesca quando, em meio a uma sociedade multifacetada, imersa
em difusos interesses e com desenvolvimento precário, impactariam de maneira
contundente na ordem pública.
uma amplitude gigantesca quando, em meio a uma sociedade multifacetada, imersa
em difusos interesses e com desenvolvimento precário, impactariam de maneira
contundente na ordem pública.
As relações sociais formais
e informais sistêmicas, desagregações familiares, dentre outros aspectos,
poderiam dificultar imensamente o controle social natural e estatal. Esse
abismo jamais será abordado adequadamente em sua totalidade tendo como foco a
imersão, tão somente, de operações policiais, prisões e/ou apreensões de armas
de fogo e drogas ilícitas. É preciso muito mais do que isso, é preciso repensar
condutas institucionais e sociais do poder público em geral.
e informais sistêmicas, desagregações familiares, dentre outros aspectos,
poderiam dificultar imensamente o controle social natural e estatal. Esse
abismo jamais será abordado adequadamente em sua totalidade tendo como foco a
imersão, tão somente, de operações policiais, prisões e/ou apreensões de armas
de fogo e drogas ilícitas. É preciso muito mais do que isso, é preciso repensar
condutas institucionais e sociais do poder público em geral.
Em outra vertente, os
referidos autores citam a Teoria
econômica da escolha racional. Segundo os mesmos, Gary Becker (1968) por
meio do artigo “seminal Crime and
Punishment: An Economic Approach” contextualizam o funcionamento
algorítmico da ação dos criminosos:
referidos autores citam a Teoria
econômica da escolha racional. Segundo os mesmos, Gary Becker (1968) por
meio do artigo “seminal Crime and
Punishment: An Economic Approach” contextualizam o funcionamento
algorítmico da ação dos criminosos:
[…] o
ato criminoso decorreria de uma avaliação racional em torno dos benefícios e
custos esperados aí envolvidos, comparados aos resultados da alocação do seu
tempo no mercado de trabalho legal. Basicamente, a decisão de cometer ou não o
crime resultaria de um processo de maximização de utilidade esperada, em que o
indivíduo confrontaria, de um lado, os potenciais ganhos resultante da ação
criminosa, o valor da punição e as probabilidades de detenção e aprisionamento
associadas e, de outro, o custo de oportunidade de cometer crime, traduzido
pelo salário alternativo no mercado de trabalho.
ato criminoso decorreria de uma avaliação racional em torno dos benefícios e
custos esperados aí envolvidos, comparados aos resultados da alocação do seu
tempo no mercado de trabalho legal. Basicamente, a decisão de cometer ou não o
crime resultaria de um processo de maximização de utilidade esperada, em que o
indivíduo confrontaria, de um lado, os potenciais ganhos resultante da ação
criminosa, o valor da punição e as probabilidades de detenção e aprisionamento
associadas e, de outro, o custo de oportunidade de cometer crime, traduzido
pelo salário alternativo no mercado de trabalho.
Em outras palavras, as
práticas criminais estão associadas à balança de lucro x prejuízo. Se a área é
erma e a vítima é uma pessoa idosa, por exemplo, minhas chances de praticar o
delito e ser “bem sucedido” são muito maiores. Ao passo que, numa área
iluminada, tenho menores chances em razão do controle social natural decorrente
do trânsito das pessoas em via pública local, dificultando imensamente minha
“empreitada”.
práticas criminais estão associadas à balança de lucro x prejuízo. Se a área é
erma e a vítima é uma pessoa idosa, por exemplo, minhas chances de praticar o
delito e ser “bem sucedido” são muito maiores. Ao passo que, numa área
iluminada, tenho menores chances em razão do controle social natural decorrente
do trânsito das pessoas em via pública local, dificultando imensamente minha
“empreitada”.
As duas teorias
anteriormente citadas impactam a ordem pública de maneira contundente. Conforme decreto nº 88.777, de 30 de
setembro de 1983, art. 2º, 21, ordem pública é entendida como sendo o:
anteriormente citadas impactam a ordem pública de maneira contundente. Conforme decreto nº 88.777, de 30 de
setembro de 1983, art. 2º, 21, ordem pública é entendida como sendo o:
Conjunto de regras formais, que emanam do
ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de
todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência
harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma
situação ou condição que conduza ao bem comum.
ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de
todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência
harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma
situação ou condição que conduza ao bem comum.
Neste sentido, a quebra
dessas regras formais enseja a necessária presença do Estado visando assegurar
seu restabelecimento. Mas, e se pensarmos para além da preservação da ordem
pública abordada unilateralmente através das forças policiais militares? Entram
em cena possibilidades de resoluções conflituosas com base nos próprios
entendimentos entre os seres humanos. Recorremos em meio a esse processo a
instrumentos de mediações de conflitos, mobilização comunitária ou até mesmo a
justiça restaurativa.
dessas regras formais enseja a necessária presença do Estado visando assegurar
seu restabelecimento. Mas, e se pensarmos para além da preservação da ordem
pública abordada unilateralmente através das forças policiais militares? Entram
em cena possibilidades de resoluções conflituosas com base nos próprios
entendimentos entre os seres humanos. Recorremos em meio a esse processo a
instrumentos de mediações de conflitos, mobilização comunitária ou até mesmo a
justiça restaurativa.
Então, a lógica da
reatividade e do patrulhamento aleatório acaba por se definhar em meio a tão
claras evidências. Não se pode estar em todos os locais ao mesmo tempo,
tampouco coexistir a onisciência e a onipotência. Esse discurso não objetiva eximir
as Instituições Policiais de suas incumbências, apenas problematizam suas
tradicionais atuações e lançam luzes em torno da temática.
reatividade e do patrulhamento aleatório acaba por se definhar em meio a tão
claras evidências. Não se pode estar em todos os locais ao mesmo tempo,
tampouco coexistir a onisciência e a onipotência. Esse discurso não objetiva eximir
as Instituições Policiais de suas incumbências, apenas problematizam suas
tradicionais atuações e lançam luzes em torno da temática.
Neste sentido, Bayley e
Skolnick (2001), citados pelo então tenente-coronel Cleucimar S. Rabelo de
Souza, da Polícia Militar do Mato Grosso, chegam a conclusões de estudos
realizados em seis cidades norte-americanas de que: aumento do efetivo policial na rua, patrulhamento motorizado aleatório,
patrulhamento direcionado em áreas críticas, policial em patrulha, melhoria do
tempo resposta possuem eficácia muito limitada no controle da
criminalidade.
Skolnick (2001), citados pelo então tenente-coronel Cleucimar S. Rabelo de
Souza, da Polícia Militar do Mato Grosso, chegam a conclusões de estudos
realizados em seis cidades norte-americanas de que: aumento do efetivo policial na rua, patrulhamento motorizado aleatório,
patrulhamento direcionado em áreas críticas, policial em patrulha, melhoria do
tempo resposta possuem eficácia muito limitada no controle da
criminalidade.
Mas oras! O que fazer então diante
de um cenário criminal brasileiro tão absurdamente alto? Não se pode abrir mão
de realizar operações, prisões e apreensões de produtos ilícitos?
de um cenário criminal brasileiro tão absurdamente alto? Não se pode abrir mão
de realizar operações, prisões e apreensões de produtos ilícitos?
Esses questionamentos estão
presentes em torno da desesperança que obscurece nossas visões com foco nos
recursos, e, geralmente, retroalimentado pela espetacularização da violência. O
que sugiro nessas breves linhas é focar nossas lentes para a demanda. É nesse
horizonte que os fatos estão ocorrendo, vejam a figura abaixo numa leitura
tradicional:
presentes em torno da desesperança que obscurece nossas visões com foco nos
recursos, e, geralmente, retroalimentado pela espetacularização da violência. O
que sugiro nessas breves linhas é focar nossas lentes para a demanda. É nesse
horizonte que os fatos estão ocorrendo, vejam a figura abaixo numa leitura
tradicional:
Fonte: Elaborado pelo autor
A figura representa,
resumidamente, o histórico atendimento em regra geral no Brasil e em várias
partes do mundo. Quando os delitos aumentam na ponta do atendimento, somos
levados a questionar se a quantidade de recursos está ou não sendo o
suficiente. Mas não pensamos que as causas estão concentradas na outra ponta, é
ali que os problemas estão sendo gerados.
resumidamente, o histórico atendimento em regra geral no Brasil e em várias
partes do mundo. Quando os delitos aumentam na ponta do atendimento, somos
levados a questionar se a quantidade de recursos está ou não sendo o
suficiente. Mas não pensamos que as causas estão concentradas na outra ponta, é
ali que os problemas estão sendo gerados.
Agregando à discussão, em
paralelo às duas teorias citadas, pensemos na teoria das janelas quebradas de James
Q. Wilson e George Keeling (1983) retratando que as circunstâncias estruturais
de um ambiente potencializam a incidência criminal. Locais mal iluminados,
pichações, dependências químicas disseminadas, imóveis abandonados, arbustos
sem poda, dentre outros aspectos, delineiam uma degradação que alimentarão a
interpretação econômica no cometimento dos delitos. Além disso, maturam e
acabam por dar concretude à desorganização social. A “desordem” gerando
“desordem”.
paralelo às duas teorias citadas, pensemos na teoria das janelas quebradas de James
Q. Wilson e George Keeling (1983) retratando que as circunstâncias estruturais
de um ambiente potencializam a incidência criminal. Locais mal iluminados,
pichações, dependências químicas disseminadas, imóveis abandonados, arbustos
sem poda, dentre outros aspectos, delineiam uma degradação que alimentarão a
interpretação econômica no cometimento dos delitos. Além disso, maturam e
acabam por dar concretude à desorganização social. A “desordem” gerando
“desordem”.
As três teorias apresentadas
se entrecruzam, a desorganização de uma sociedade somada ao raciocínio
matemático da escolha racional da oportunidade para o cometimento de delitos à
degradação social de espaços urbanos conduzem ao pensamento coletivo sobre o
qual um labirinto se forma.
se entrecruzam, a desorganização de uma sociedade somada ao raciocínio
matemático da escolha racional da oportunidade para o cometimento de delitos à
degradação social de espaços urbanos conduzem ao pensamento coletivo sobre o
qual um labirinto se forma.
As soluções parecem não mais
ser enxergadas nesse contexto e a participação social se minimiza a minúsculas
cifras, as comunidades acabam por se contentarem com soluções parciais,
momentâneas e de caráter paliativo.
ser enxergadas nesse contexto e a participação social se minimiza a minúsculas
cifras, as comunidades acabam por se contentarem com soluções parciais,
momentâneas e de caráter paliativo.
Vamos aqui apenas fazer
algumas sugestões: pensemos numa coletividade preocupada com os comportamentos
de cada um de seus integrantes. Não apenas sob um viés de “errou pagou”, mas um
olhar inclusivo e participativo. O entendimento dos impactos que uma conduta
pontual pode gerar para uma multidão.
algumas sugestões: pensemos numa coletividade preocupada com os comportamentos
de cada um de seus integrantes. Não apenas sob um viés de “errou pagou”, mas um
olhar inclusivo e participativo. O entendimento dos impactos que uma conduta
pontual pode gerar para uma multidão.
Um cenário um tanto utópico.
Mas é essa mesma utopia que nos faz levantar pelas manhãs, projetos que nos
séculos passados pensavam ser impossíveis, hoje são realidades inimagináveis em
outras épocas.
Mas é essa mesma utopia que nos faz levantar pelas manhãs, projetos que nos
séculos passados pensavam ser impossíveis, hoje são realidades inimagináveis em
outras épocas.
Então pensemos em três
teorias que poderiam ser abordadas nesse cenário: social crítica, patrocínio
normativo e voluntariado.
teorias que poderiam ser abordadas nesse cenário: social crítica, patrocínio
normativo e voluntariado.
Recorrendo aos nossos
eternos e honrados professores de polícia comunitária, Trojanowicz e Bouqueroux
(1994) quando citavam Fay (1984):
eternos e honrados professores de polícia comunitária, Trojanowicz e Bouqueroux
(1994) quando citavam Fay (1984):
A
teoria social crítica procura responder como e porque as pessoas se juntam para
corrigir e superar os obstáculos sócio-econômicos e políticos que os impedem de
satisfazer suas necessidades (FAY, 1984). As três ideias centrais da teoria
social crítica são: [1] Esclarecimento – as pessoas devem ser esclarecidas
sobre circunstâncias, antes de pleitear mudanças. [2] Poder – as pessoas
precisam agir para melhorar suas condições. [3] Emancipação – as pessoas podem
atingir a liberação através da reflexão e da ação social. (SENASP, 2007, p.
296).
teoria social crítica procura responder como e porque as pessoas se juntam para
corrigir e superar os obstáculos sócio-econômicos e políticos que os impedem de
satisfazer suas necessidades (FAY, 1984). As três ideias centrais da teoria
social crítica são: [1] Esclarecimento – as pessoas devem ser esclarecidas
sobre circunstâncias, antes de pleitear mudanças. [2] Poder – as pessoas
precisam agir para melhorar suas condições. [3] Emancipação – as pessoas podem
atingir a liberação através da reflexão e da ação social. (SENASP, 2007, p.
296).
Percebam que as pessoas
precisam trabalhar juntas, esquecer suas diferenças individuais e compreenderem
que o cenário é preocupante já de longa data e carente de união. Essa teoria nos
remete às reflexões de que as pessoas necessitam ser claramente orientadas a
agir de maneira a garantirem suas independências, muito embora todos precisem
de todos.
precisam trabalhar juntas, esquecer suas diferenças individuais e compreenderem
que o cenário é preocupante já de longa data e carente de união. Essa teoria nos
remete às reflexões de que as pessoas necessitam ser claramente orientadas a
agir de maneira a garantirem suas independências, muito embora todos precisem
de todos.
A independência de que
retrata a teoria aponta para que todos possuam liberdade de raciocínio,
propostas e a promoção de ações transformadoras de um horizonte de
desesperanças.
retrata a teoria aponta para que todos possuam liberdade de raciocínio,
propostas e a promoção de ações transformadoras de um horizonte de
desesperanças.
A teoria do patrocínio
normativo, segundo os mesmos autores citando Sower (1957),
normativo, segundo os mesmos autores citando Sower (1957),
[…]
postula que a maioria das pessoas tem boa vontade e irão cooperar com as outras
para facilitar a construção de um consenso (SOWER, 1957). Quanto mais diversos
grupos partilham valores, crenças, e objetivos comuns, mais provavelmente irão
concordar a respeito dos objetivos comuns, quando interagem com propósito de
melhorar os bairros. (SENASP, 2007, p. 296).
postula que a maioria das pessoas tem boa vontade e irão cooperar com as outras
para facilitar a construção de um consenso (SOWER, 1957). Quanto mais diversos
grupos partilham valores, crenças, e objetivos comuns, mais provavelmente irão
concordar a respeito dos objetivos comuns, quando interagem com propósito de
melhorar os bairros. (SENASP, 2007, p. 296).
Então, necessariamente, a
partir de tragédias anunciadas ano após ano, por meio de altíssima e pandêmica
criminalidade, forma-se um grande objetivo comum: sobreviver em meio a tão
violento cenário. A partir da sensibilização contínua e crescente, a ideia é a
elaboração de uma arquitetura pedagógica que permita que a sociedade seja
educada e orientada à prática de valores e agendas positivas.
partir de tragédias anunciadas ano após ano, por meio de altíssima e pandêmica
criminalidade, forma-se um grande objetivo comum: sobreviver em meio a tão
violento cenário. A partir da sensibilização contínua e crescente, a ideia é a
elaboração de uma arquitetura pedagógica que permita que a sociedade seja
educada e orientada à prática de valores e agendas positivas.
Quando retratamos, por fim,
o ‘voluntariado’, percebemos uma implacável busca pela moralidade na ajuda ao
outro:
o ‘voluntariado’, percebemos uma implacável busca pela moralidade na ajuda ao
outro:
[…]
considera-se que o voluntariado, na perspectiva da solidariedade, presente nas
discussões de elaboração das políticas sociais, pode caracterizar o retorno à
refilantropização que se constrói não a partir de referências políticas, mas
baseada na moral de ajuda ao outro,
reforçando que não se produzam direitos possíveis de serem reclamados
judicialmente. Nesse sentido, este tratamento, em termos mais gerais, faz-se
acompanhar pela destituição de direitos sociais, pela erosão das políticas de
proteção social, preconizadas na Constituição de 1988. (FAGUNDES, 2006, p.12) (Grifo
nosso)
considera-se que o voluntariado, na perspectiva da solidariedade, presente nas
discussões de elaboração das políticas sociais, pode caracterizar o retorno à
refilantropização que se constrói não a partir de referências políticas, mas
baseada na moral de ajuda ao outro,
reforçando que não se produzam direitos possíveis de serem reclamados
judicialmente. Nesse sentido, este tratamento, em termos mais gerais, faz-se
acompanhar pela destituição de direitos sociais, pela erosão das políticas de
proteção social, preconizadas na Constituição de 1988. (FAGUNDES, 2006, p.12) (Grifo
nosso)
De igual maneira a
Organização das Nações Unidas aponta seu conceito:
Organização das Nações Unidas aponta seu conceito:
[…] o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido
a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo,
sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de
bem estar social, ou outros campos…
a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo,
sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de
bem estar social, ou outros campos…
Percebam, as pessoas
precisam despertar para uma consciência maior. Mas essa maturidade é gradual e
leva considerável tempo para ser efetivamente alcançada. Sairmos de uma taxa anual
brasileira de aproximadamente 30 homicídios para cada grupo de 100 mil
habitantes, ou em determinadas regiões mais que o triplo disso, para,
aproximadamente, (0,3) no Japão, por exemplo, depende de uma mobilização
colossal, de um processo de conscientização em massa.
precisam despertar para uma consciência maior. Mas essa maturidade é gradual e
leva considerável tempo para ser efetivamente alcançada. Sairmos de uma taxa anual
brasileira de aproximadamente 30 homicídios para cada grupo de 100 mil
habitantes, ou em determinadas regiões mais que o triplo disso, para,
aproximadamente, (0,3) no Japão, por exemplo, depende de uma mobilização
colossal, de um processo de conscientização em massa.
Mas ainda que seja algo de
difícil monta, este é o nosso fim, o objetivo maior da obtenção de maiores
indicadores de qualidade de vida estão em ações planejadas e executadas em longo prazo. Geralmente
consideráveis transformações decorrem de imensuráveis tragédias, infelizmente.
A mensagem é a de que não devamos chegar até lá para agirmos.
difícil monta, este é o nosso fim, o objetivo maior da obtenção de maiores
indicadores de qualidade de vida estão em ações planejadas e executadas em longo prazo. Geralmente
consideráveis transformações decorrem de imensuráveis tragédias, infelizmente.
A mensagem é a de que não devamos chegar até lá para agirmos.
Uma grande aposta está nas
organizações intituladas como as do ‘terceiro setor’. Aquelas que colaboram
imensamente quando o Estado não consegue gerir sozinho, as questões
microrregionais. Os moradores de uma dada localidade possuem plena liberdade constitucional
de se reunirem e se associarem com vistas ao alcance de soluções para seus
problemas comuns, dentre os quais, os de ordem pública.
organizações intituladas como as do ‘terceiro setor’. Aquelas que colaboram
imensamente quando o Estado não consegue gerir sozinho, as questões
microrregionais. Os moradores de uma dada localidade possuem plena liberdade constitucional
de se reunirem e se associarem com vistas ao alcance de soluções para seus
problemas comuns, dentre os quais, os de ordem pública.
Neste sentido, ganham
espaços os Conselhos Comunitários de Segurança Pública, entidades com vida
própria e independente do poder público, muito embora devam interagir junto com
este. Etimologicamente, ‘conselhos’ são nada mais que orientações, direções, diálogos,
enfim, uma arquitetura pedagógica de educação da sociedade em torno da
resolução conjunta de seus conflitos mais diversos.
espaços os Conselhos Comunitários de Segurança Pública, entidades com vida
própria e independente do poder público, muito embora devam interagir junto com
este. Etimologicamente, ‘conselhos’ são nada mais que orientações, direções, diálogos,
enfim, uma arquitetura pedagógica de educação da sociedade em torno da
resolução conjunta de seus conflitos mais diversos.
Enfim, o despertar de uma
sociedade depende da continuidade de ações. As pessoas precisam ser
continuamente educadas e orientadas tendo como foco os objetivos comuns e para
onde ainda podemos chegar sem nos entendermos e dialogarmos. O afastamento de
programas/projetos/ações de curto prazo e baixos impactos deve estar em pauta.
sociedade depende da continuidade de ações. As pessoas precisam ser
continuamente educadas e orientadas tendo como foco os objetivos comuns e para
onde ainda podemos chegar sem nos entendermos e dialogarmos. O afastamento de
programas/projetos/ações de curto prazo e baixos impactos deve estar em pauta.
O alcance da
intersetorialidade e interdisciplinaridade, na prática, reside exatamente em
nossa capacidade individual e psíquica de oferecer respeito às opiniões,
estabelecer escutas ativas, mútua compreensão, honestidade, transparência e
percepção de que ninguém é autossuficiente.
intersetorialidade e interdisciplinaridade, na prática, reside exatamente em
nossa capacidade individual e psíquica de oferecer respeito às opiniões,
estabelecer escutas ativas, mútua compreensão, honestidade, transparência e
percepção de que ninguém é autossuficiente.
Todos possuem o dever
pedagógico de despertar a todos a percepção de sobrevivência, solidariedade, consideração
e respeito ao próximo. Longo prazo x curto prazo: uma visão para além dos imediatismos!
Terceiro setor: uma bela maneira de refletir um futuro mais acolhedor e
inclusivo!
pedagógico de despertar a todos a percepção de sobrevivência, solidariedade, consideração
e respeito ao próximo. Longo prazo x curto prazo: uma visão para além dos imediatismos!
Terceiro setor: uma bela maneira de refletir um futuro mais acolhedor e
inclusivo!
REFERÊNCIAS
10º Anuário Brasileiro
de Segurança Pública (2016).
Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em: < http://www.forumseguranca.org.br/storage/10_anuario_site_18-11-2016-retificado.pdf
>. Acesso em 10 jun. 2017.
de Segurança Pública (2016).
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Atlas da violência
(2017). Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Disponível em: < http://www.ipea.gov.br/portal/images/170602_atlas_da_violencia_2017.pdf>.
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Decreto nº 88.777, de 30 de setembro de 1983.
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Aprova o regulamento para as policias militares e corpos de
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em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d88777.htm>.
Acesso em 19 dez. 2017.
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Acesso em: 08. Set 2012.
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Rio de Janeiro: PMERJ, 1994.
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