O Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol/ES) acredita que a megaoperação coordenada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) na última quinta-feira (17/08) foi uma tentativa frustrada de esconder a crise na segurança capixaba e potencializar a imagem de candidatos para as eleições de 2018.
De acordo com a entidade, “parecia cena de filme. Helicóptero pousando na rua, uma comunidade cercada por centenas de policiais e uma das mais movimentadas avenidas de Vitória fechada por três horas”. O trânsito parou e a população foi prejudicada. O Sindipol lembra que 381 policiais civis, militares, federais e rodoviários federais foram convocados para combater o tráfico de drogas no bairro Jesus de Nazareth, mas o resultado de uma ação improvisada, sem planejamento e, principalmente, sem o trabalho de Inteligência Policial, conforme já pontuado pelo Blog do Elimar Côrtes, não poderia ser outro: apenas cinco armas apreendidas e seis pessoas presas. Todos os detidos foram liberados pela Justiça em menos de 24 horas.
“A megaoperação realizada pela Sesp foi um verdadeiro fiasco. Só reforçou a intenção política de mascarar a crise na segurança capixaba fazendo um espetáculo midiático com as forças policiais”, lamenta o presidente do Sindipol, Jorge Emílio Leal.
Na avaliação dele, foi mais uma estratégia de pré-campanha política onde o mais importante foi empregar os agentes de segurança em uma operação sem coerência e completamente desorganizada. A justificativa é sempre a mesma, “dar uma resposta à população”.
A Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB/ES) e a Arquidiocese de Vitória repudiaram a postura da Secretaria Estadual de Segurança. Para a OAB, a operação foi arbitrária, pois aconteceu graças a um mandado de busca e apreensão coletivo obtido pela Sesp junto à Justiça, um artifício ilegal e arbitrário para dar a polícia poder de invadir à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social de invadir a casa de qualquer pessoa.
Para a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, “o simples fato de residir em um bairro de menor poder aquisitivo justificou a ‘fundada suspeita’ de que todos ali estariam envolvidos na criminalidade”.
No entender do Sindipol, “o fracasso da operação da última semana também é reflexo da falta de investimentos na Polícia Civil, que deveria investigar crimes e fornecer informações suficientes para otimizar os trabalhos de campo durante uma operação desse porte”.
Atualmente, a Polícia Civil do Estado possui uma defasagem superior a 50%. O número é ainda pior comparando ao número de policiais que atuam na Superintendência de Polícia Técnico-Científica, onde a defasagem gira em torno de 80%. O presidente do Sindipol/ES, Jorge Emílio, que também é vice-presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol) e especialista em Inteligência Pública, lembrou que diversas delegacias foram fechadas desde 2015 no Espírito Santo:
“Não é brincadeira. Temos vários exemplos de delegacias, algumas novas, que foram fechadas por não ter um número suficiente de policiais para trabalhar. Durante as inspeções sindicais, encontramos delegacias em condições precárias e inquéritos amontoados, que dificilmente serão investigados”, frisou Jorge Emílio.
O presidente do Sindipol/ES também disse que governo estadual publicou um decreto, em 2001, que institui o número mínimo de policiais para trabalhar nas delegacias capixabas. Na teoria, deveriam ser dois delegados, seis escrivães, 16 investigadores e seis agentes de Polícia. Na prática, afirma Jorge Emílio, as delegacias estão sucateadas, funcionando, geralmente, com quatro policiais civis.
Por isso, inevitavelmente, quando organizam uma megaoperação, como foi a de Jesus de Nazareth, os serviços oferecidos à população pela Polícia Civil ficam ainda mais comprometidos.
“Só vemos policial civil na rua em grande número nessas operações que servem apenas de trampolim político, não para proteger a sociedade”, finalizou o presidente do Sindipol/ES.
Abaixo, a nota divulgada na segunda-feira (21/08) pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória.
“Ação pirotécnica e aviltante do Estado”
“A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, na sua missão de defender incondicionalmente a vida, vem a público manifestar indignação e perplexidade com a recente operação policial realizada no bairro Jesus de Nazareth. Fazemos isso para reafirmar a opção preferencial da Igreja pelos pobres. Cercados por terra, céu e mar, todos os moradores transformaram-se em pretensos criminosos e viram suas casas serem alvo de mandado de busca e apreensão genérico e anticonstitucional. O simples fato de residir em bairro de menor poder aquisitivo justificou a ‘fundada suspeita’ de que todos ali estariam envolvidos na criminalidade. Acreditamos que a ação pirotécnica e aviltante das forças de segurança do Estado não teve como foco o verdadeiro combate à criminalidade, senão que apenas serviu para lançar uma cortina de fumaça diante da gravíssima crise pela qual atravessa a Segurança Pública do Espírito Santo desde a greve da Polícia Militar.”