Há pelo menos quatro meses e poucos dias, o Alto Comando da Polícia Militar do Espírito Santo alertou o governador Paulo Hartung (PMDB), que está internado, e o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, sobre a insatisfação da tropa com o descaso do governo no atendimento aos pleitos da categoria. Os coronéis que integram o Alto Comando apresentaram a Hartung e ao secretário Garcia um diagnóstico da realidade da corporação e de seus efetivos. O mesmo alerta já havia sido dado também pelos dirigentes das associações de classe dos policiais e bombeiros militares.
O diagnóstico do Alto Comando da PM foi apresentado em quatro laudas, em reunião ocorrida no dia 23 de outubro de 2016, no Palácio Anchieta. Os coronéis presentes estavam acompanhando o então comandante-geral da PM, coronel Marcos Antonio Souza do Nascimento. No entanto, nenhuma providência foi tomada pelo executivo estadual.
Ao ignorar o alerta do Alto Comando da PM, Paulo Hartung e André Garcia acabaram atraindo a ira da tropa e dos familiares dos policiais militares, que desde sexta-feira (03/02) cedo ocupam os batalhões, companhias e até os quartéis do Comando Geral e do Batalhão de Missões Especiais, impedindo a saída de viaturas e deixando as ruas do Estado sem policiamento ostensivo.
De acordo com o Portal da PM na época – e as informações foram reproduzidas pelo Blog do Elimar Côrtes no mesmo dia –, o “encontro desta sexta-feira, no Palácio Anchieta, foi uma oportunidade que os coronéis tiverem para reduzir a distância entre o Alto Comando e o governador e passar um relatório do que os atuais coronéis puderam proporcionar nos últimos 12 anos à Polícia Militar.”
Segundo o mesmo texto, os “coronéis foram muito bem recepcionados por Paulo Hartung, a quem apresentaram um diagnóstico bem detalhado da segurança pública, especialmente o que concerne à PM.” Na mesma reunião, Hartung aproveitou para mostrar aos coronéis uma perspectiva do futuro do Espírito Santo, do Brasil e do mundo, dentro dos aspectos políticos e econômicos.
De acordo com o Portal da Polícia Militar, o Alto Comando apresentou ao governador informações gerais sobre os trabalhos desenvolvidos pela PM, “especialmente as providências para aprimorar os serviços prestados à comunidade dentro do atual cenário de restrições financeiras.”
O Alto Comando também apresentou a Paulo Hartung e a André Garcia o posicionamento e a preocupação dos oficiais “com relação a diversos temas de interesse da Instituição e da segurança pública do Estado como um todo.” Porém, o “ governador Paulo Hartung, por sua vez, apresentou informações sobre a situação do Estado dentro da atual conjuntura econômica nacional, bem como as ações e expectativas do governo no enfrentamento da crise.”
Nas quatro laudas de conteúdo repassadas Paulo Hartung e ao secretário da Segurança Pública, André Garcia, os coronéis abordam as queixas e críticas feitas por policiais militares – praças e oficiais – ao governo do Estado por meio das redes sociais. Falam ainda “do baixo o moral da tropa” diante das perspectivas de entrar no terceiro ano consecutivo sem sequer receber a reposição inflacionária em seus vencimentos; a falta de equipamentos; dentre outros temas.
De acordo com dois coronéis que participaram da reunião de outubro no Palácio Anchieta, o Alto Comando não conseguiu, na época, projetar que os familiares dos policiais militares iriam em breve iniciar o movimento atual de ocupação das entradas das unidades militares.
“Não abordamos essa questão (das famílias), porque os movimentos de insatisfações nas redes sociais é que preocupavam o Alto Comando. Por isso colocamos como uns dos itens”, salientou um coronel.
O governador Paulo Hartung está internado desde sexta-feira (03/02) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Diagnosticado com neoplasia de bexiga, ele passou por uma cirurgia no mesmo dia. Hartung evolui de maneira favorável e “sem necessidade de qualquer tratamento complementar”, informou a assessoria do governador na tarde deste sábado (04/02).
De acordo com o infectologista Lauro Ferreira Pinto, Hartung foi diagnosticado com câncer de bexiga e precisou submeter-se a uma cirurgia para remover um tumor maligno localizado no órgão do sistema urinário.
“O movimento das esposas, familiares e amigos dos policiais militares é legítimo. Quem tem fome tem pressa”, afirma major Rogério
A Associação dos Oficiais Militares Estaduais do Espírito Santo (Assomes/Clube dos Oficiais) e demais entidades de classe do militares também alertaram o governador Paulo Hartung e o secretário da Segurança Pública, André Garcia, sobre a insatisfação da tropa com o descaso do governo com a PM e seus profissionais.
De acordo com o presidente do Clube dos Oficiais, major PM Rogério Fernandes Lima, a entidade informou o governo por diversas vezes que a situação dos militares capixabas é precária,. Para ele, a manifestação dos familiares dos policiais é legítima e só vai parar quando as reivindicações sejam atendidas. Dentre outras reivindicações, os PMs lutam por melhorias salariais:
“A Assomes buscou um entendimento com o governo do Estado durante todo o ano de 2016. Apresentamos propostas para o debate e algumas delas não tinham repercussão financeira, mas, mesmo assim, não avançaram por causa do próprio governo. Já havíamos relatado, inúmeras vezes, que a situação dos militares estaduais era muito precária. O movimento das esposas, familiares e amigos dos policiais militares é legítimo. Quem tem fome tem pressa. O movimento das esposas continuará até que sejam atendidas”, afirmou o major Rogério, que aproveita para desejar melhoras ao governador do Estado, que está internado em São Paulo:
“ Por fim, estimamos melhoras e uma boa recuperação ao governador Paulo Hartung da cirurgia a que foi submetido”.