O presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado do Espírito Santo (ACS/ES), sargento PM Renato Martins Conceição, adiou para o dia 15 de fevereiro a Assembleia Geral Extraordinária que seria realizada nesta quarta-feira (25/01). O adiamento revoltou a tropa, que gostaria de deliberar, de imediato, por alguma manifestação contra o governo em represália aos baixos salários da categoria, que vai para o terceiro ano consecutivo sem reajuste salarial – sequer recebeu a recomposição da inflação.
O dirigente usou as redes sociais para anunciar o adiamento da Assembleia Geral Extraordinária, em que ele aparece num vídeo – com um fundo musical do Hino Nacional – explicando a sua decisão. Um dos motivos para o adiamento seria, de acordo com o presidente da ACS/ES, o forte calor que está fazendo nesta época do ano. A assembleia estava marcada para o Campo do Caixas, localizado na avenida Maruípe, local, no entender do dirigente da ACS/ES, que causa desconforto para os associados.
“Recebemos muitas ligações de associados reclamando do local da assembleia. O Campo do Caixas é um local aberto, sem cobertura. Seria muito desconfortável para todos discutirmos assuntos tão importantes debaixo de um forte calor”, disse Renato Martins no vídeo.
Outro motivo é que, de acordo com os sargento Renato Martins, “muitos militares” que não são associados da ACS/ES estariam telefonando para a entidade perguntando se têm direito a voto. Ele diz no vídeo que a resposta é “não”, pois somente podem votar numa assembléia os filiados à ACS. No entanto, ressalta que os não-associados podem participar dos debates.
Nas redes sociais, a decisão do presidente da ACS/ES ganhou apoio, mas também provocou bastante revolta. Um dos apoiadores, João Adalberto do Nascimento, postou na página da ACS/ES no Facebook a seguinte mensagem: “Muito bem pensado Renato, e assim TMB (também) teremos mais tempo de compartilhar a assembléia e TMB discutir sobre os temas que serão expostos no dia.”
Contudo, o adiamento causou mais revolta do que elogios, principalmente quanto ao primeiro argumento do presidente Renato que é o forte calor: “Como se os MEs (Militares Estaduais) não fossem acostumados com o calor…”, escreveu um internauta.
Mais revoltada ainda, uma associada disparou: “Acho que já estão se vendendo para o PH, todos sabem como a tropa está inflamada e querem ganhar tempo pra esfriar nossa indignação por receber nada mais nada menos que o pior salário do Brasil.”
Outro associado ponderou: “Sinto muito mas isso acaba dando um descrédito a proposta da associação para com os associados. Fica parecendo que fizeram um acordo com o governo (como aconteceu várias vezes na administração passada) para adiarem a assembleia para não termos tempo de nos mobilizar a cerca de uma possível paralisação no carnaval (o que acho que seria apoiado por todos na assembleia dia 25). Agora adiar por que do calor, acho que deveriam ter estudado uma desculpa melhor. Só acho. Aqui no batalhão já tem gente que desistiu de ir por conta disso.”
Mais críticas: “Barrigados novamente … a tropa tá morrendo e vocês pensando em ar condicionado arrego.”
Um militar escreveu: “Cheio de desculpas, como se os MEs não são acostumados a ficar nesse calor, principalmente agora que é para A LUTA DOS NOSSOS DIREITOS, infelizmente isso e uma vergonha, prolongando o sofrimento da tropa…”
Teve também apoiadores, que chegam a chamar proteção de Deus para resolver a situação dos PMs capixabas: “Boa propaganda (quanto ao vídeo), só não gostei do fundo musical que me deu sono, e quem quiser se unir a ACS, sejam bem vindos , estamos bem representados , como disse no final do vídeo a união faz a força , amém .que Deus com sua intervenção divina tenha piedade dá PMES.”
Por fim, mais duas postagens que resumem o pensamento da maioria dos internautas que comentaram o assunto: “Por causa do Sol? Fala sério. Nós trabalhamos no sol quente de segunda a seguna. Para de enrolar a tropa.” E: “Decepção. A tropa estava toda engajada, mas agora com essa barrigada muitos irão desanimar. A ACS não representa os associados e nenhum policial militar do ES. Não temos tempo pra esperar mais 20 dias, já são 03 anos sem nada, NADA! Precisamos que a ACS assuma uma postura enérgica urgente. Me desfiliarei o mais rápido possível, pois já que não ganho aumento corto os gastos, e vou começar pelo mais inútil, o da ACS.”
O presidente do Conselho Deliberativo da ACS/ES, cabo Alecsandro Coutinho Sousa, disse lamentar toda a situação. Salientou, porém, que entende a posição da Diretoria Executiva da entidade em se preocupar com o forte calor. Todavia, pondera que não havia necessidade de se adiar a Assembleia Geral Extraordinária, sobretudo porque o anúncio do adiamento foi quase que em cima da hora:
“Se a Diretoria Executiva tivesse mudado apenas o local do Ato, talvez pudesse ter causado menos reclamações como podemos constatar na página do Facebook da ACS/ES”, disse o cabo Alecsandro.
A pauta da Assembleia Geral Extraordinária tem os seguintes assuntos: apresentação da proposta de reajuste salarial; autorização para ingresso da ACS/ES na Justiça solicitando os reajustes anuais concedidos pelo Estado aos militares; pedido de promoção de todos os cabos com mais de 12 anos de PM a sargento e promoção de todos os soldados com mais de seis anos a cabo; regularização do Clube Social de Jardim Camburi junto à Prefeitura de Vitória.