Mais uma vez, o governo do Estado do Espírito Santo recorre a um bem dos policiais e bombeiros militares para tentar salvar o já tão combalido sistema de saúde capixaba. Leva o Pronto-Socorro do Hospital Estadual Infantil de Vitória para funcionar no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Bento Ferreira. O funcionamento começará, efetivamente, a partir de março. O anúncio foi feito na segunda-feira (09/01) com pompas e festa pelo secretário de Estado da Saúde, Ricardo de Oliveira, em coletiva de imprensa.
“É uma enorme satisfação poder fazer esse anúncio porque durante muitos anos vimos mães subindo aquela ladeira para buscar atendimento para seus filhos no Hospital Infantil de Vitória. Trazendo o pronto-socorro para a planície, melhoramos o acesso ao serviço. Onde hoje funciona o hospital não havia espaço para ampliação, então fizemos um acordo com a Diretoria de Saúde da Polícia Militar, a quem eu agradeço publicamente”, comentou o secretário da Saúde.
Ao todo, o pronto-socorro terá 96 leitos – 32 leitos para os atendimentos de pronto-socorro e emergência, oito leitos de tratamento intensivo pediátrico, seis de cuidado semi-intensivo pediátrico e 50 de enfermaria. Desse total, 70 são leitos novos, sendo seis de pronto-socorro e emergência, 50 de enfermaria, oito de tratamento intensivo pediátrico e seis leitos de cuidado semi-intensivo.
Até cerca de um mês, no local onde vai funcionar o atendimento pediátrico de emergência no HPM, estava instalado o Pronto-Socorro do Hospital São Lucas. Foi desativado e voltou para seu espaço original, no bairro Forte São João. Foi o governador petista Vitor Buaiz que, em 1º de janeiro de 1996, transferiu o PS do São Lucas para o mesmo prédio da instituição militar. Começava ali a agonia do HPM, que se encontra literalmente na UTI pronto para ser destruído em definitivo pelos governantes capixabas.
O HPM tem uma história muito forte e positiva com a população em geral do Espírito Santo, apesar de parte da sociedade – sobretudo, grupos de defesa dos direitos humanos, partidos de esquerda, baderneiros que se infiltram em movimentos sociais e estudantis e setores da imprensa que ainda têm uma visão míope, demagógica e ideológica de segurança pública –
enxergar a Polícia Militar e seu efetivo com preconceito.
A construção do HPM foi iniciada em 1981 e o hospital foi inaugurado em 5 de setembro de 1992. Foram abertas, inicialmente, as enfermarias de clínica médica e cirúrgica, o laboratório de análises químicas, o setor de esterilização de materiais, as caldeiras, a central elétrica, a cozinha e os refeitórios.
Segundo conta o pesquisador e historiador, coronel PM da Reserva Gelson Loiola, o primeiro passo para a construção do Hospital da Polícia Militar foi dado no ano de 1968 com a nomeação da Comissão para estudos do anteprojeto da obra.
Em 1972, é instituído o Fundo de Saúde da Polícia Militar através da Lei 2.701, e por meio da Portaria nº 660-P, a Secretaria de Segurança Pública transfere pela primeira vez na história da corporação um oficial combatente, o capitão PM Otávio de Carvalho Sobrinho, para o Quadro de Saúde, no cargo de capitão PM Médico.
A Policlínica da Polícia Militar foi instituída pela Lei nº 3.044, no ano de 1975 e, na época, ocupou o pavimento térreo da Diretoria de Pessoal, em Maruípe. Mais tarde, a Policlínica passou a ocupar algumas casas da antiga Vila dos Subtenentes e Sargentos e as instalações do extinto Instituto Educacional da PMES, onde hoje funciona o Batalhão de Missões Especiais (BME).
A cessão gratuita do terreno para a instalação do HPM, conta o coronel-historiador Gelson Loiola, aconteceu no ano de 1978, através do decreto nº 82.637, assinado pelo presidente da República, Ernesto Geisel.
Por meio do Decreto nº 3.317-N, no ano de 1992, o governador Albuíno Cunha de Azeredo recria como órgão de direção setorial a Diretoria de Saúde (DS). O Hospital foi inaugurado no dia 05 de setembro de 1992, na Avenida Joubert de Barros, em Bento Ferreira, sob a direção do coronel PM Médico Otavio Carvalho Sobrinho. O relato histórico é do coronel Gelson Loiola, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
No HPM há suor, sacrifício, trabalho e, principalmente, dinheiro de cada policial e bombeiro militar. Foi com recursos particulares dos policiais militares que o hospital foi construído e administrado. O desconto em folha de pagamento era obrigatório. Claro que teve também contrapartida financeira do Estado do Espírito Santo.
Para o presidente da Associação dos Oficiais Militares Estaduais do Espírito Santo, major PM Rogério Fernandes Lima, os militares entendem a necessidade do Estado em melhorar o atendimento de urgência e emergência na área de pediatria e reconhecem que a estrutura do HPM estará sempre à disposição da sociedade . Porém, ressalta:
‘É preciso que o governo encontre também alternativas para melhorar a saúde dos policiais e bombeiros militares. A construção do HPM exigiu sacrifício, suor, trabalho e dinheiro de todos os militares e mais uma vez o HPM é aberto para a população civil. Estamos sempre fazendo a nossa parte, mas o governo tem que fazer a dele também, sobretudo, em relação a nós militares”, frisou o major Rogério.
O major-médico Antônio Carlos Avanza Júnior, especialista em cardiologia, acrescenta que o HPM, na verdade, hoje é muito mais do público não-militar do que dos policiais e bombeiros militares capixabas:
“Atualmente, 98% das pessoas atendidas no HPM são civis. Ou seja, não são militares. Mesmo antes de o HPM abrir as portas para o SUS, nosso hospital já registrava atendimento de 70% do público externo”.
Estrutura
O pronto-socorro do Hospital Estadual Infantil ficará no térreo do HPM, onde funcionou a unidade de urgência e emergência do Hospital Estadual São Lucas. O local está passando por reformas e adaptações para receber os pacientes pediátricos.
O espaço tem 888,32 m² e contará com seis consultórios (dois de ortopedia e quatro de pediatria geral); quatro salas de observação; duas salas cirúrgicas; uma sala de pequenas cirurgias; uma sala de medicação; uma sala de curativos; uma sala de punção; uma sala de estabilização e uma sala de gesso.
A estrutura também dispõe de uma recepção e duas salas para acolhimento e classificação de risco; além de banheiros masculinos e femininos, ambos adaptados para cadeirantes (dois na recepção e dois na área interna do pronto-socorro).
A obra conta com o trabalho de 20 detentos do regime semiaberto que cumprem pena na Penitenciária Semiaberta de Cariacica. Eles são coordenados pela Diretoria de Engenharia e Arquitetura (Digea) da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) e executam projeto arquitetônico elaborado pela Sesa. Conforme prevê a Lei de Execução Penal, os detentos que trabalham são beneficiados com a remição da pena. Desta forma, a cada três dias de trabalho, um dia é abatido da pena a ser cumprida.
(Com informações também do Portal do Governo do Estado)