Dirley Alves Rodrigues é Investigador de Polícia Civil no Espírito Santo, Estado que ele abraçou e adotou há mais de 30 anos. Nascido em Itaperuna, município fluminense localizado no Norte do Estado do Rio de Janeiro há 62 anos – completados no dia 6 deste mês de maio –, Dirley Rodrigues é querido pela categoria e um homem de fé.
Nesta entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, Dirley Rodrigues fica totalmente à vontade para expor seu ponto de vista sobre vários temas. Ficou livre, sobretudo, para falar de sua trajetória profissional e revelar que é, fundamentalmente, uma pessoa temente a Deus. Para todos os assuntos, principalmente os relacionados ao tema “Polícia”, ele cita passagens da Bíblia.
Dirley Rodrigues entra agora em outra fase da vida: prepara-se para se aposentar. O guerreiro, que tanto combateu a criminalidade como policial civil e foi também militar do Exército por mais de quatro anos, vai se dedicar a família após 34 anos atuando como investigador de Polícia. Prepara-se, inclusive, para deixar o Espírito Santo, pois pretende morar em Florianópolis, onde sua filha reside:
“Minha família está crescendo. Minha filha que mora em Santa Catarina está grávida. Eu e minha esposa vamos para lá a fim de ajudar a criar o netinho ou a netinha que vem por até. Ainda não sabemos o sexo do bebê”, diz Dirley Rodrigues, com um certo orgulho de ser avô pela primeira vez estampado no rosto.
Ele atendeu a reportagem na manhã do dia 14 de maio de 2016 durante o que pode ter sido seu último plantão – pois já se encontra de férias e depois vai entrar em licença-prêmio de três meses, antes de se aposentar em outubro – na sede da 2ª Delegacia Regional (antigo Departamento de Polícia Judiciária), em Vila Velha.
Início da carreira
Entrei na Polícia Civil em 17 de agosto de 1982. Antes, trabalhei durante 4 anos, 10 meses e 22 dias na Polícia do Exército, a partir de 1973. Entrei no Exército na época do governo Médici (Emílio Garrastazu Médici) e saí quando o presidente era o general João Batista Figueiredo. Depois, trabalhei um ano e três meses na Usina Nuclear (Angra dos Reis) e, posteriormente, três anos e três meses na antiga Ferro e Aço. Sempre atuando na área de segurança por conta da experiência adquirida como militar do Exército.
Quando entrei na Polícia Civil, o cargo se chamava Detetive de Polícia, posteriormente transformado em Investigador. Fiz concurso público durante o governo de Eurico Rezende. Fiz parte de uma turma de excelentes investigadores, que mais tarde viraram delegados, como os doutores Sérgio do Nascimento Lucas, Gilsinho Lopes (hoje deputado) e o agora promotor de Justiça Adélcion Caliman, dentre outros.
(Interrompe a entrevista para atender uma mãe que foi à 2ª Regional tentar prestar uma queixa contra um vizinho. Como o fato ocorreu em São Torquato, ela foi orientada a procurar a Delegacia do bairro. Não foi preciso, porque, quando ia saindo, a mãe e o filho, de 10 anos, foram abordados por Dirley, que procurou saber qual era o problema. Quando a mãe explicou que um de seus vizinhos reclamou porque o menino e outros amiguinhos estavam jogando bola na rua, Dirley foi objetivo:
“Rua não é lugar de jogar bola. Aqui em Vila Velha temos áreas próprias para crianças brincarem de bola. Tem ainda o Tancredão, que fica em Vitória e bem mais próximo da casa da senhora. Na rua, seu filho corre o risco de ser atingindo por bala perdida, principalmente porque a senhora mora numa região de conflitos constantes entre traficantes. Na rua, seu filho pode quebrar a vidraça da janela da casa ou do carro de um vizinho.” A mulher saiu do DPJ satisfeita, dizendo que não mais iria procurar a polícia e nem deixaria seu filho jogar bola na rua).
Minha trajetória na segurança pública no Espírito Santo teve início na extinta Delegacia de Ordem e Política Social (Dops). Fui lotado lá, assim que assumi o cargo de Investigador, por minha experiência no Exército. No ano de 1982, ainda vivíamos o período da ditadura militar. Também atuei na antiga Delegacia de Entorpecentes; Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos; DP de Defraudações (Defa); antiga DP de Vila Velha; DP da Serra (Serra); DP Patrimonial; Homicídios, quando estava lotada no Parque Moscoso. Por muitos anos, fui o chefe de Investigação da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sendo responsável pela apuração de crimes contra a vida ocorridos em Cariacica e Viana. Há sete anos, estou aqui na 2ª Regional, que antes era conhecido como DPJ de Vila Velha.
História da sede da DHPP:
A DHPP, que hoje funciona na rua Doutor João Carlos de Souza, no Barro Vermelho, bairro nobre de Vitória, era localizada na avenida República, no Parque Moscoso (Centro). Estava num prédio totalmente sem estrutura, em péssimas condições. Sofríamos com o calor, presença de ratos no local. Quando chovia, surgiam as infiltrações nas paredes. Um local insalubre.
A Chefia de Polícia, na época, me recomendou a encontrar outro local para a sede da DHPP. Fui a um setor da Secretaria de Administração do Estado, que me passou os endereços de todos os prédios públicos que estavam em desuso. O melhor que encontramos foi onde funcionava a Cida, uma antiga empresa de engenharia. O local era um depósito de máquinas e tratores. Com ajuda da população, conseguimos reformar o prédio e nos mudamos para lá. Nessa primeira fase nas novas instalações, a DHPP era chefiada pelo doutor Germano Pedrosa. Posteriormente, o doutor Danilo Bahiense assumiu o comando da DHPP e promoveu a reforma definitiva do prédio.
Insatisfeitos no início, moradores de Barro Vermelho apoiam presença da DHPP na região
Quando souberam que o antigo prédio da Cida seria uma delegacia (DHPP), moradores de Barro Vermelho (bairro nobre, ligado à Praia do Canto) se revoltaram. Repudiaram a ideia de ver no bairro uma unidade de polícia. Tivemos conflitos com eles. Foi preciso que a então chefe de Polícia, a doutora Selma Cristina do Couto, e o seu chefe de Gabinete, Joel Lyrio Júnior, promovessem reuniões com as lideranças dos moradores do Barro Vermelho e mostrassem a todos a importância da Divisão de Homicídio na região, não só para eles – moradores locais –, mas, principalmente, para toda a população da Grande Vitória. Quem muito ajudou nessa discussão foi a juíza de Direito Maria Hermínia Azoury Silveira.
Moradores de outros bairros ajudaram na reforma da sede da DHPP, mas os habitantes de Barro Vermelho continuaram a reclamar. Mas hoje eles apoiam a presença da DHPP no bairro, porque viram que aumentou a sensação de segurança na região. A presença de viaturas e de policiais 24 horas por dia no local reduziu bastante o número de crimes contra o patrimônio no Barro Vermelho. Eu e outros colegas cansamos de sair correndo atrás de meliantes que praticavam assaltos na região. Dois colegas que ajudaram bastante na transferência da DFHPP do Parque Moscoso para Barro Vermelho foram o João Carlos Braga e o Floriano Vervloet. Hoje, os moradores de Barro Vermelho apoiam a presença da DHPP não bairro, pois aumentou a sensação de segurança para todos.
Os 10 anos como chefe de Investigação
Fui chefe de Investigação da Delegacia de Crimes contra a Vida de Cariacica, uma das unidades da DHPP, por 10 anos. Foi num período em que não havia celulares, com poucas condições tecnológicas. Nosso parâmetro era fazer o local de crime de imediato, buscando o máximo de informações. Hoje as condições de trabalho da Polícia Civil são bem melhores: temos acesso à tecnologia e trabalhamos com viaturas modernas. Para enfrentar as dificuldades, tínhamos um diferencial: tratávamos muito bem as testemunhas de um crime. Levávamos as testemunhas para depor na delegacia e depois entregávamos em casa, de carro, para sua segurança.
Futuro é cuidar do netinho em Florianópolis
Tiro férias a partir de hoje (14 de maio) e, ao retornar, vou tirar meus três meses de licença-prêmio a que tenho direito. Depois, lá para outubro, pretendo me aposentar. Sou casado, pai de três filhos e vem um netinho por aí. Minha filha que está grávida reside em Florianópolis com o marido, que é professor na Universidade Federal de Santa Catarina. Eu e minha esposa pensamos em nos mudar para Florianópolis para ficarmos mais próximos do neto.
Trabalho religioso
Sou membro da Assembleia de Deus e, devido à atividade policial, acabei me envolvendo com questões sociais e religiosas. Esse trabalho social e religioso se intensificou quando fui transferido para o antigo DPJ (Departamento de Polícia Judiciária) de Vila Velha. Aqui havia uma carceragem, que chegou a abrigar, de uma só vez, mais de 300 presos. Foi aí que comecei a difundir em nosso público (presos, vítimas de crimes, testemunhas e seus familiares) a palavra de Deus. Todas as pessoas que procuram a Delegacia Regional podem ser orientadas com uma mensagem de fé. Em Ezequiel 7:23, a palavra já dizia: “Faze uma cadeia, porque a terra está cheia de crimes de sangue, e a cidade está cheia de violência.”
Também somos procurados e provocados diariamente por moradores de rua e pessoas que perambulam por aí porque estão drogadas. Neste momento, temos de lembrar novamente a palavra de Deus, que, em Hebreus 13:3, diz “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles; e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo.”
Esse meu trabalho religioso começou, efetivamente, quando eu ia com demais colegas da Crimes contra a Vida de Cariacica e da DHPP a locais de homicídios. Procurava sempre levar uma palavra e conforto aos familiares das vítimas. Dei sequência quando presos tinham que ficar dentro de num micro-ônibus, no pátio da DHPP, até serem transferidos para um presídio. Também faço visitas a hospitais, conversando com pessoas que estejam internadas. Esse tipo de trabalho me ajuda ficar mais acesso.
Ligação com Deus
Quando eu estava na Delegacia Patrimonial, um caso que marcou minha carreira de Investigador foi a perseguição a uma quadrilha de roubo a banco, iniciada em Jacaraípe, na Serra. Na ocasião, nossa equipe trocou tiros com os suspeitos, já em Guaraná, distrito de Aracruz. Fui atingido de raspão. No tiroteio, três bandidos morreram e dois foram presos.
Deus sempre esteve me ajudando. Sempre busco apoio de Deus para me dar sabedoria em todos os momentos da vida pessoal e profissional. Quando saio em missão, reflito a palavra de Deus, que, em 2º Crônicas, 7:14, nos ensina: “E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.”
Palavra de Deus ajudou na prisão de homem que roubou R$ 300 mil em fibra óptica
Na última quinta-feira (12/05), ao chegar para trabalhar em meu plantão aqui na 2ª Regional, o delegado me incumbiu de prender um sujeito que havia, um dia antes, roubado cerca de 300 metros de fibra óptica, além de fios de telefonia celular, na região de Interlagos, em Vila Velha. Na fuga, o sujeito teve problemas e abandonou o carro, com os materiais roubados, e esqueceu no local um documento pessoal. A empresa de telefonia, alvo dos roubos, nos repassou o documento e localizamos o endereço do ladrão, mas o encontramos em outro local, quando ele estava indo à Polícia Civil prestar queixa do “roubo de seu carro”.
Colocamos o suspeito na viatura e ele negou o roubo, afirmando que tinha sido vítima de ladrões, que levaram seu carro. Porém, percebi que, em alguns momentos de nosso diálogo, ele demonstrava ter conhecimento da palavra de Deus. Ainda dentro da viatura, eu li para ele 2º Coríntios 6:3, que diz: “Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado.”
Prossegui, dizendo que para mim ele não precisava mentir, como fizera para seus chefes, quando disse ter sido vítima de roubo. Ele caiu na real e confessou o roubo: foi autuado em flagrante; o crime é inafiançável até pelo valor do roubo (que passou de R$ 300 mil), além do prejuízo material que deu a centenas de pessoas, que ficaram sem comunicação por várias horas; e se encontra à disposição da Justiça.
Satisfação
Uma de minhas maiores satisfações é ver a recuperação das pessoas que um dia eu ajudei a prender e a ser condenadas pela Justiça. É uma alegria muito grande andar pelas ruas e encontrar as pessoas que estavam presas, com a vida mudada, evangelizadas, andando nos caminhos do Senhor. É comum eu reencontrar com um sujeito que já prendi quando estava na DHPP e ele ainda me cumprimentar. É uma prova de que cumpri minha missão institucional.
Disputa sindical
Já fiz parte, com grande satisfação, da diretoria do Sindipol. Fui vice-presidente na gestão da Maria Helena (Maria Helena Cota Vasconcelos), que hoje está no Conselho Fiscal da entidade. Penso que um dos grandes problemas na nossa Polícia Civil capixaba, e que atrapalha a categoria a evoluir, é a briga interna entre os próprios policiais. Essa briga mata a Polícia Civil. A vaidade, a briga pelo poder entre associações e Sindicato (Sindipol), que se arrasta por anos, não ajuda a categoria em nada.
Sempre fui a favor da unificação da categoria. Como sindicalizado desde o início do Sindipol/ES, sempre fui a favor do sindicato atuando como entidade representativa, pois sempre segui o que prega a Constituição Federal. Da mesma forma, sou a favor da associação como entidade associativa, sem querer passar por cima do Sindipol, que é legítimo representante de todos os policiais civis do Espírito Santo, não importa qual o cargo que ocupam.
Quando todos os policiais civis se unem, fica mais fácil negociar com o governo. Hoje, poderíamos obter mais vitórias e mais conquistas se não tivesse essa tribulação das associações com o Sindicato legítimo, que é o Sindipol. Não critico as associações, apenas lamento as divisões. Sempre digo o seguinte: quem estiver insatisfeito com a atuação do Sindicato, que se organize e dispute eleição. Só peço uma coisa: não se pode criar inimizade dentro da categoria Policial Civil.
O que é ser policial
Ser policial é ter a oportunidade de exercer uma atividade muito especial. Requer coragem, sabedoria, fé e também muito amor pelas almas, pelas pessoas, não importa se autores de crimes ou vítimas. Outro aspecto que sempre me acompanhou ao longo desses mais de 30 anos de profissão é a ligação e a interação com a imprensa. Não consigo entender policial que não consegue se relacionar com os jornalistas e radialistas responsáveis por levar diariamente notícias para a sociedade. A imprensa ajuda a polícia na apuração de crimes e vice-versa. Vejamos o caso da Operação Lava Jato. Se o juiz federal Sérgio Moro não fizesse publicidade das decisões que toma, talvez nem teríamos o processo de impeachment da presidente Dilma.
Agradecimentos
Hoje, só tenho a agradecer por tudo em minha vida. Agradeço a Deus, à minha família, aos policiais civis de todos os cargos, aos policiais militares e policiais federais com quem tive contato durante todo esse tempo. Agradeço toda a diretoria do Sindipol pelo reconhecimento. Agradeço ainda a todo povo capixaba, que me recebeu muito bem desde quando saí do Rio de Janeiro até os dias atuais.