O governador Paulo Hartung (PMDB), pelo menos no discurso, faz questão de destacar a competência e eficiência técnica de gestão de sua equipe de governo em todos os escalões. A Polícia Civil, no entanto, pelo que se observa em alguns setores – poucos, diga-se de passagem –, não segue a cartilha do comandante Hartung.
Exemplo da ineficiência e do descaso com dinheiro público foi tomado no dia 4 deste mês pelo chefe do Departamento de Administração Geral da Polícia Civil do Espírito Santo, delegado Paulo César Ferreira. Ele entregou pessoalmente Comunicação Interna (CI/Sesp/PMES/Dage) de número 081/2015 à Analista Executiva Daniele Cunha Klein com a seguinte comunicação: “Em face da necessidade do serviço, comunicamos à Vossa Senhoria que, a partir do dia 5 de maio deste ano, passará a prestar serviços na Divisão de Recursos Humanos (DRH). Outrossim, informamos ainda que o ato de localização está sendo providenciado pelo Gabinete da Chefia de Polícia”, o que ainda não ocorreu até a postagem desta reportagem.
Nada de anormal não fossem alguns detalhes: Daniele não é policial civil. Ela foi aprovada em concurso público de 2007 realizado pala Secretaria de Gestão e Recursos Humanos do Estado do Espírito Santo (Seger). O cargo que ela ocupa na estrutura de Governo (Analista do Executivo) foi criado pela Lei Complementar nº 633. Formada em Administração de Empresas, Daniele tem, dentre outras atribuições, a função de “planejar, coordenar e supervisionar as atividades de sua competência.”
O concurso foi elaborado pelo governo com o objetivo de deslocar os aprovados para setores onde profissionais praticavam desvio de função, como a Polícia Civil e a Secretaria de Estado de Educação. Na ocasião, professores eram retirados da sala de aula para fazer serviços burocráticos na Sedu; e policiais civis eram retirados do serviço de investigação, por exemplo, para trabalhar em áreas administrativas.
No caso de Daniele, quando foi nomeada na Seger, ela tinha que escolher sua localização entre a Sedu e Polícia Civil: optou pela polícia, onde está desde 2008. Dois anos depois – em 5 de novembro de 2010 –, ela se casou com o investigador de Polícia Jorge Emílio Leal, que, em 19 de agosto de 2013, assumiu a Presidência do Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo (Sindipol).
Começou aí o calvário de Daniele na Polícia Civil. Se na vida pessoal tudo ia (e vai) bem, na profissional ela passou a ter pesadelos: “A partir do momento em que tomei posse no Sindipol, minha esposa começou a ser perseguida pela Administração da Polícia Civil. Isso ainda em 2013. Não satisfeitos em perseguir nós, dirigentes classistas, a Administração da Polícia persegue também nossos familiares”, denuncia Jorge Emílio.
Naquela ocasião, a Polícia Civil era chefiada pelo delegado Joel Lyrio Júnior, que foi alvo de denúncia do Sindipol, junto ao Ministério Público, pela suposta prática de irregularidades na contratação de empresa que vai vender uniforme para policiais. A perseguição continuou com a nova chefe de Polícia, delegada Gracimeri Gaviorno.
Chegou ao ponto de Daniele Klein enviar carta à secretária de Estado de Gestão e Recursos Humanos, Sandra Bellon, em que relata uma série de perseguições e retaliações que sofre por parte da Administração da Polícia, inclusive assédio moral. Ela pede para que seja tornada sem efeito sua cessão à Polícia Civil.
No dia 26 de janeiro deste ano, a delegada Gracimeri Gaviorno encaminhou ofício à Daniele comunicando à servidora que estava sendo transferida do Gabinete da Chefia de Polícia Civil para a Divisão de Suprimentos, Zeladoria e Manutenção, vinculada à Dage. Sem conhecer a própria instituição que comanda e sem uma assessoria jurídica para lhe dar apoio, Gracimeri usou o artigo 29, alínea ‘a’ da Lei número 3.400/1981, para justificar a transferência de Daniele. Só tem uma observação: a Lei 3.400/81 é o Estatuto dos Policiais Civis do Estado do Espírito Santo – Daniele Cunha Klein, como já foi dito, não é policial.
O mais absurdo é que Daniele Klein está agora na Divisão de Recursos Humanos da Polícia Civil, onde substitui uma servidora que ocupa o cargo de contínua – uma espécie de auxiliar de serviços gerais, em que uma das funções é servir café para os demais funcionários do setor. Daniele Klein, que foi aprovada em concurso público para ser Analista do Executivo, tem hoje salário de R$ 4.489,73 por mês. A servidora que Daniele está substituindo recebe bruto R$ 1.379,15.
Numa empresa privada, os responsáveis por essa anomalia são demitidos.