Vejam dois exemplos antagônicos no tratamento da segurança pública dispensado por dois governadores amigos, colegas de partido e vizinhos. Enquanto o governo do Rio de Janeiro anuncia o pagamento de bonificações a 6.439 policiais militares e civis, no Espírito Santo a Polícia Civil vive uma situação de caos: falta até papel nas delegacias para o preenchimento de boletins de ocorrências. Sem contar a falta de internet em dezenas de unidades, além do corte de combustíveis para as viaturas.
Curioso que ambos os Estados ficam na Região Sudeste, a mais rica do País; ambos os Estados são governados pelo PMDB: o Espírito Santo, por Paulo Hartung, que, nas duas gestões anteriores já havia demonstrado um certo descaso e desprezo com a segurança pública; e o Rio, com Luiz Fernando Pezão, mais cuidadoso e zeloso com a segurança pública desde quando foi vice de Sérgio Cabral.
Segundo o jornal Extra, as bonificações pagas pelo governo do Rio variam de R$ 4.500 a R$ 13.500. Os policiais cumpriram metas de redução de criminalidade. Ao todo, o Estado do Rio pagará R$ 61 milhões. O dinheiro, segundo o governo, será depositado na conta corrente dos 998 policiais civis e 5.441 militares no dia 12, data em da cerimônia de premiação no Teatro João Caetano, no Centro do Rio.
Policiais lotados nos Batalhões, nas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) e delegacias localizadas nas Áreas Integradas de Segurança Pública (AISPs) de Botafogo, Flamengo, Itaperuna, Resende e Paraíba do Sul — campeãs nas metas — ficaram em primeiro lugar na premiação por produtividade e receberão R$ 13.500.
As AISPs da Ilha do Governador, de Copacabana, de Volta Redonda e da Barra da Tijuca também atingiram as metas. Policiais lotados na Ilha receberão prêmio de R$ 5.334,00. Na área de Copacabana, o bônus será de R$ 5.005,00. Em Volta Redonda, de R$ 5.316,00. Na Barra da Tijuca, R$ 4.950,00. Policiais do Núcleo de Pesquisa em Justiça Criminal e Segurança Pública(Nupesp) receberão R$ 4.500,00, segundo o Extra informa em sua edição desta sexta-feira, 1º de maio, Dia do Trabalhador.
Para ter direito aos prêmios, é preciso ter sido lotado nas unidades das áreas vencedoras por pelo menos 90 dias no 2º semestre de 20140.
A Gazeta denuncia o caos na Polícia Civil do Espírito Santo
Enquanto isso, no Espírito Santo, o jornal A Gazeta publica nesta sexta-feira reportagem sobre o caos na Polícia Civil, denúncia feita pelo Blog do Elimar Côrtes desde o início da administração, em janeiro, por conta dos cortes impostos à Chefia de Polícia pelo governador Paulo Hartung.
Conforme este blog informou em primeira mão em várias reportagens, “o corte de verbas do Governo do Estado não poupou sequer os materiais de escritório da Polícia Civil, onde tudo falta e o dinheiro acaba saindo do bolso de delegados e investigadores. Cortes de combustível, material de limpeza, manutenção de equipamentos e restrições no uso de celulares são apenas alguns dos relatos.”
Ouvido por A Gazeta, assim como já havia se posicionado também para este Blog, o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Espírito Santo (Sindepes), Rodolfo Laterza,afirma que “as tesouradas têm comprometido o andamento das atividades da instituição” e provocado um colapso no sistema:
“A Polícia Civil trabalha fundamentalmente com produção de informação documentada. Isso acarreta em colapso de diversas unidades policiais. São questões fundamentais para o funcionamento de qualquer estrutura de repartição pública. Somos obrigados a promover improvisos, o que acaba afetando o rendimento do trabalho do profissional. Imagina os policiais serem obrigados a pagar do próprio bolso papel e manutenção de ar-condicionado? É muito preocupante”, explicou o dirigente de classe.
A reportagem de A Gazeta, em conjunto com a Rádio CBN, constatou situação curiosa: na Delegacia de Turismo (Deptur) falta impressoras; já na Delegacia Fazendária há a carência de papel. Ambas ficam no Edifício Valia, no Centro de Vitória. Quando é necessário, funcionários da Deptur vão até o terceiro andar, onde fica a Fazendária, e trocam um pacote de papel A4 por impressões.
“Essa ajuda não se restringe apenas a colegas de instituição. A internet também não foi poupada dos cortes. Pelo menos 40 delegacias foram afetadas com a suspensão de conexões ou a diminuição da velocidade da rede. Para trabalhar, investigadores recorrem a internet de vizinhos”, relata a reportagem. “Olha que humilhante, tem casos que o vizinho ajudou na provisão de internet. Casos do comércio local resolver bancar a internet. É um absurdo, uma vergonha. O cidadão já paga impostos e ainda tem que pagar a internet da polícia à título de solidariedade”, protestou o delegado Rodolfo Laterza.
Nas delegacias percorridas pela reportagem de A Gazeta, os relatos são preocupantes. Sem internet boa no trabalho, policiais carregam inquéritos para usar a conexão de casa. O prazo dado pela Chefia da Polícia Civil para restabelecer a internet, segundo Laterza, era de 30 dias.
Segundo a reportagem, falta também gasolina. A cota estabelecida para o uso do combustível é de R$ 500 mensais o que afeta o cumprimento de intimações e investigações na rua. É o que destaca Jorge Emílio Silva, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol).
“Não tem como policial sair para fazer investigação. Não tem cota de combustível. Se precisar viajar e ir para o interior, não tem como. Não pode pagar do próprio bolso. Fica difícil trabalhar sem as mínimas e necessárias condições”, observa Emílio.
Ainda de acordo com a Gazeta, o uso de telefone celular também ficou restrito. Com o fim do contrato com a terceirizada, faltam ainda materiais de limpeza, papel higiênico e até água. A manutenção de ar-condicionado é bancada pelos policiais.
O mais incrível na reportagem de A Gazeta, no entanto, é a postura “não estou nem aí” da chefe de Polícia Civil, delagada Gracimeri Soeiro Gaviorno. É como se o mundo estivesse desabando ao seu redor e ela não está vendo nada. Para A Gazeta, ela nega tudo que a reportagem apurou.
No caso da internet, ela Gracimeri afirma que a suspensão ocorreu em “apenas 16 unidades” para readequação de links contratados, mas que na última sexta-feira (24/04) foi realizado um pedido de religamento. Informou ainda que essas delegacias foram beneficiadas com modem 3G durante o período de suspensão.
Gracimeri ainda nega cortes no contrato de limpeza, sob alegação de mais readequações de contratos. Gracimeri também afirma desconhecer problemas de falta de material. “São inverdades. Nós temos um serviço de material e zeladoria em que o policial pode fazer a requisição e pegar o esse material. Não procede essa informação”, esclareceu.
Sobre a cota de gasolina, a chefe da Polícia Civil, afirmou que economia de gasolina é feita desde sempre e que a cota pode ser remanejada. “A Polícia Civil já há muito tempo faz o dever de casa no sentido de ter controle da nossa frota e consumo de combustível. Temos responsabilidade com o dinheiro público. Existem delegacias que tem nove viaturas para sete policiais. Então, é uma questão só de distribuir a cota de combustível, que não é nova. A cota é diferenciada conforme a demanda da unidade. Sempre que é necessário, essa cota é suplementada pelo Departamento de Administração Geral”, afirmou Gracimeri.
A reportagem de A Gazeta voltou a manter contato com suas fontes da Polícia Civil, que reafirmaram continuar sem internet. Informaram ainda que as requisições de materiais não são atendidas.
Fica a indagação: quem quer enganar quem nessa história da Polícia Civil? Por sua postura, Gracimeri Gaviorno vai continuar chefe de Polícia Civil enquanto Paulo Hartung for governador do Estado: ele gosta de gente assim.
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