A Polícia Federal investiga o suposto envolvimento de políticos capixabas e empresas que prestam serviços à Petrobras no Espírito Santo no esquema de corrupção montado a partir do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Agentes federais que trabalham na Operação Lava Jato, com base na Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba, já têm nomes de políticos do Espírito Santo que teriam recebido doação, de maneira informal, dos dois homens acusados de desviar milhões de reais da Petrobras.
Delegados da Polícia Federal têm informações das visitas constantes que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e seus emissários, além de empresários ligados ao suposto esquema de desvio de dinheiro da estatal, faziam a políticos do Estado, principalmente durante as eleições municipais de 2005 e 2008, e estaduais, em 2010.
Outra linha de investigação tem como base uma investigação interna da própria Petrobras. Segundo a Revista Época desta semana, um relatório confidencial e documentos da Petrobras revelam que o descontrole de gastos na estatal permitiu a um gerente de Comunicação (Geovane de Morais), com poderes para autorizar pagamentos de até R$ 32 mil, desviou ao menos R$ 57,4 milhões em 2008, ano de eleição municipal e que elegeu diversos prefeitos ligados ao PT.
A documentação mostra fortes indícios de um esquema de desvio de dinheiro na Gerência de Comunicação do Abastecimento Corporativo, subordinada ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que exerceu o cargo entre 2004 e 2012 e está preso, acusado de receber propina de empreiteiras em troca de facilitar contratos bilionários. No caso do gerente Geovane de Morais, segundo a Época, o desvio ocorreu por meio de contratações de “pequenos serviços”, na definição interna da Petrobras, que totalizaram R$ 150 milhões em um ano.
Após investigações internas que apontaram sua responsabilidade por desvios, Geovane, hoje com 47 anos, foi afastado do cargo no começo de 2009 e obteve uma licença médica para se tratar de uma “doença psiquiátrica”. O ex-gerente ficou quatro anos e meio longe da estatal, mas recebendo salário de R$ 16,4 mil. Em agosto de 2013, 13 dias após voltar ao trabalho, foi demitido por justa causa.
De acordo com a revista, Geovane recorreu à Justiça do Trabalho para anular a demissão, alegando que a Petrobras nada havia apurado contra ele. Na ação judicial, o ex-gerente afirmou também que apenas cumpria ordens “de escalões superiores” da Petrobras, “interessados em turbinar campanhas políticas”.
A Petrobras apurou, segundo a Época, que Geovane dispunha de um orçamento de até R$ 30 milhões em 2008. Gastou R$ 150 milhões. A Gerência de Comunicação de Abastecimento custeava eventos esportivos, festas, shows e até bailes de carnaval para divulgar a marca Petrobras no Estado do Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
“O então gerente realizou impressionantes 3.487 contratações, média de quase dez por dia, incluindo-se finais de semana e feriados. Tamanha movimentação de dinheiro levantou suspeitas na estatal, acostumada a números altos. Foi criada uma comissão interna para fazer uma devassa nas contas do gerente. O resultado foi um relatório confidencial com graves suspeitas de desvio de dinheiro”, informa a Época. Até aqui o documento era mantido sob sigilo. Publicamente, a Petrobras só admitia “quebra de confiança e de desrespeito aos procedimentos da companhia”.
Preso pela Operação Lava Jato da Polícia Federal e alvo de ações que o acusam de uma série de crimes, o doleiro Alberto Youssef vai fazer uma “confissão total dos fatos” nos depoimentos que prestará nos próximos dias, segundo o seu advogado, Antônio Figueiredo Basto. Youssef será ouvido a partir de um acordo de delação premiada, na qual diz o que sabe aos investigadores em troca de redução da pena. Esse acordo precisa ser aprovado pela Justiça, algo que ainda não ocorreu.
“Acordo de colaboração pressupõe a confissão integral dos fatos, responder todos os fatos que for perguntado, a responsabilidade em colaborar com a Justiça”, afirmou o advogado do doleiro em entrevista ao Estado. “As outras pessoas (apontadas por Youssef) vão ter o direito de se defender”, ressaltou Basto.
Deflagrada em março deste ano, a Operação Lava Jato desbaratou um esquema de lavagem de cerca de R$ 10 bilhões liderado por Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O ex-executivo da estatal já firmou um acordo de delação premiada no qual acusou uma série de políticos da base do governo da presidente Dilma Rousseff de receber dinheiro desviado de contratos irregulares da Petrobras.
As investigações da PF apontam que o doleiro, assim como o ex-diretor da Petrobras, tinha contato com vários políticos. Youssef também é suspeito de fazer negócios com dirigentes partidários. Uma das linhas de investigação da PF mira no tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O petista, segundo as investigações, era um dos contatos de fundos de pensão com a CSA Project Finance, empresa de fachada de Youssef.
Crédito Foto: Revista Época.