O comandante do Batalhão de Missões Especiais (BME) da Polícia Militar, tenente-coronel Jocarly Martins de Aguiar Júnior, garantiu que a maior preocupação no momento é a recomposição psicológica dos militares que integram a tropa, que ficou abalada após o assassinato do soldado Dayclom Nascimento Feu, 28 anos; o apoio incondicional à família do policial; e operações constantes nos bairros São Gabriel, em Cariacica, e Central Carapina, na Serra.
O soldado Feu foi assassinado por traficantes com um tiro na cabeça, dentro de uma viatura do BME, durante patrulhamento pelas ruas do bairro Padre Gabriel, na madrugada de domingo (07/09). Os assassinos do soldado Feu são de Padre Gabriel e minutos antes do crime eles estavam com o foragido da Justiça Vanderson Dias da Rocha, o Preto, que é de Central Carapina. A polícia acredita que traficantes de Central Carapina têm estreita ligação com os criminosos de Padre Gabriel. Central Carapina é hoje um dos bairros que fornecem drogas e armas para traficantes de outras regiões da Grande Vitória.
O comandante Aguiar elogia o profissionalismo da tropa mesmo diante da tragédia: “Pelo menos 24 horas após a morte do soldado Feu, o BME já havia prendido os dois homens que atiraram em nosso colega de farda. Meus policiais demonstraram empenho, abnegação e profissionalismo. Tanto o criminoso adulto (Laclison Cajazeira de Almeida, que foi baleado na troca de tiros com os policiais e encontra-se internado no Hospital São Lucas, em Vitória) quanto o menor foram encaminhados com vida e estão às disposição da Justiça. Perdermos um soldado pelas mãos desses criminosos, mas garantimos a eles o direito à vida e o amplo direito de defesa. Os policiais do BME mostraram, assim, um alto grau de profissionalismo, imparcialidade e, sobretudo, respeito aos direitos humanos”, comentou o tenente-coronel Aguiar. “O respeito aos direitos humanos é uma das linhas da nossa Polícia Militar”.
O comandante do BME afirmou que desde o momento em que Feu foi baleado a unidade deu apoio aos familiares do soldado. O próprio Aguiar foi para o hospital, onde o policial recebeu os primeiros socorros, antes de morrer, por volta da 1h30 de domingo. De lá, manteve contato telefônico com a família do jovem policial, que chegou ao hospital uma hora depois.
Durante a semana, o comandante Aguiar reuniu os companheiros de farda do soldado do Feu para dizer que entendia a indignação da tropa. “Porém, frisei a todos os policiais que o BME tem de agir na legalidade, pois não podemos perder a credibilidade alcançada ao longo dos 28 anos de existência da unidade junto à sociedade do Espírito Santo.”
Na quarta-feira (11/09), Jocarly Aguiar visitou os familiares – pais, duas irmãs e a noiva – de Feu, na residência deles, no Parque Moscoso. “Expliquei a eles que toda a tropa está indignada com a tragédia”, disse o oficial, que convidou a família de Feu para fazer uma visita ao BME.
Na mesma quarta-feira, à noite, a mãe (dona Cleusa), as irmãs Verônica e Melissa e a noiva, Cristiane, foram ao BME e conversaram longamente com os militares que integram o Pelotão onde Feu estava lotado:
“Foi uma bênção a visita dos familiares. Por muito tempo, eles ficaram numa sala com todos os policiais do Pelotão. Foram momentos de muita emoção; todos conversaram, choraram e ficaram aliviados. A mãe do soldado disse que ficou até mais confortada. Deixei elas sozinhas com os policiais. A Verônica, uma das irmãs do Feu, pediu aos policiais que não fizessem nada e só agirem dentro da legalidade”, disse o comandante Aguiar.
O Batalhão de Missões Especiais já começou a adotar medidas para evitar novas baixas na unidade, assim como a de aumentar a repressão aos crimes violentos. Uma das medidas é intensificar patrulhamento ostensivo do BME, junto com as patrulhas dos batalhões locais, em Padre Gabriel e em Central Carapina.
“Estamos atrás do terceiro sujeito que é do grupo dos assassinos do soldado Feu. Esse rapaz, Vanderson, nada tem a ver com a morte do policial, mas está envolvido em outros homicídios em Central Carapina”, disse o tenente-coronel Jocarly Aguiar.
A operação em Central Carapina já começou nesta sexta-feira. De acordo com a PM, além da operação, sete viaturas e 33 policiais do BME devem fazer o patrulhamento no bairro durante todo o mês, por 24 horas. Segundo o comandante Aguiar, um dos estopins para a ocupação do bairro Central Carapina foi a morte do soldado Feu:
“O bairro Central Carapina é um dos aglomerados do programa Estado Presente. Uma das missões do Batalhão de Missões Especiais é fazer o patrulhamento nesses locais. Com certeza, após a morte do soldado Feu, iremos, por tempo indeterminado, realizar um patrulhamento mais contundente, mais efetivo nesse aglomerado”, disse Aguiar.
Ele assegura que em seus 28 anos de existência, o Batalhão de Missões Especiais está “salvando e preservando vidas”. Aguiar lembra que a unidade tem um grupo especializado em negociações em ocorrência com reféns e que jamais os militares do setor tiveram que atirar em criminosos:
“Já houve, nesse período, dois suicídios praticados por quem mantinha reféns. O BME sempre liberta os reféns e prende os criminosos sem disparar sequer um tiro. Portanto, reafirmo que o Batalhão está voltado para preservar e salvar vidas”, garantiu Aguiar.
Ele agradeceu o apoio que teve do governador Renato Casagrande, que decretou três dias de luto no Estado por conta da morte do soldado Feu, e do secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, “nesses momentos difíceis” para o BME:
“Nossa missão é a reconstrução emocional da tropa, o apoio à família do Feu e nos mantermos firmes no combate à criminalidade dentro da legalidade. Perdermos uma batalha, que foi a morte de um soldado – pela primeira vez de existência do BME um policial é morto em combate com bandidos –, mas não perderemos a guerra conta os crimes violentos no Espírito Santo”, finalizou Aguiar.