O funcionário da Petrobras que entrou em contato com o Blog do Elimar Côrtes para mostrar a preocupação dele e de seus colegas com a P-58, fundeada a 85 quilômetros da costa do Espírito Santo, lembra que viveu situação semelhante – de problemas técnicos – na Plataforma P-36, no Campo de Roncador, na Bacia de Campos, Norte do Estado do Rio de Janeiro, na madrugada de 16 de março de 2001. Naquela madrugada, uma explosão matou 11 pessoas e provocou o afundamento da plataforma cinco dias depois do acidente.
“Sei o que estou falando, porque já vivi muita coisa em plataformas. Já participei de treinamentos na área de salvatagem, dados pela Petrobras, mas desta vez os novos funcionários que estão chegando à Plataforma P-58 não estão recebendo a devida capacitação. Observamos que falta muito a ser concluído no processo de produção, gerando uma insegurança muito grande em todos nós residentes a bordo da unidade”, disse o funcionário.
Ele recorda da tragédia de março de 2001 e afirma que o acidente na P-36 “foi provocado exatamente por uma concentração de gás natural numa coluna de sustentação da plataforma semisubmersível, por onde passava o elevador que dava acesso ao submarino da plataforma.”
Ele explica mais: “A versão da Petrobras é outra. Mas ficou concluído, pela perícia, que o erro de projeto somado a outras irregularidades levou a aquela situação. Nunca uma linha de gás natural poderia passar pela coluna de sustentação da plataforma sendo que essa coluna tinha um elevador com botoeira de acionamento fora dos padrões de segurança. A botoeira não era a prova de explosão.No momento em que o operador entrou no elevador e acionou a botoeira e a mesma não era a prova de explosão e a concentração de gás no ambiente era muito alta,veio o start que gerou a explosão.”
Ele se recorda ainda que “o operador morreu na primeira explosão aos 15 minutos do dia 16 de março de 2001 e, minutos depois, a Brigada de Incêndio, formada por 10 homens, adentrou numa área contaminada por gás, e os macacões usados pelos bombeiros ficaram contaminados. Assim, seus organismos inalaram o mesmo gás. Aos 35 minutos, veio a segunda explosão levando consigo todos os brigadistas. Foram 11 companheiros mortos”, lembrou, já bastante emocionado, o funcionário da Petrobras, que disparou:
“A questão do desespero é menor do que as mentiras oficiais”. Ele concluiu: “Por ter vivenciado situação semelhante na Bacia de Campos, digo que há um risco muito grande na operação de uma plataforma de petróleo sem os devidos critérios de segurança em ordem.”
Ele tem razão de estar preocupado 13 anos depois. O relatório da Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) concluiu que o acidente com a Plataforma P-36 foi causado por erros de projetos, manutenção e operação. Conforme a ANP informou um mês após a tragédia, a principal causa da explosão foi um problema no fechamento de uma válvula.
Entre as deficiências do projeto, estão até a classificação da área onde se localizava o tanque que explodiu, que não era considerada como área de risco. De acordo com o relatório, deveriam ser utilizados dispositivos de detecção e contenção de gás e ainda equipamentos resistentes a explosões.
Conforme a Folha de São Paulo informou na ocasião, outra deficiência no projeto foi a ligação do tanque de emergência a um equipamento chamado “manifolde de produção”, onde ficam armazenados óleo e gás.
Maior plataforma de produção de petróleo em alto-mar à sua época, a P-36 tinha a dupla função de servir como um instrumento importante para exploração petrolífera na costa brasileira. Custou à Petrobras US$ 350 milhões.
Conforme O Globo informou em março de 2001, sua construção exigiu técnicas inéditas de engenharia e a realização por etapas em locais distintos. Começou pelo casco, na Itália, em 1995, e foi concluída no Canadá, em 2000. Começou a ser operada pela Petrobras em 2000 no campo do Roncador, na Bacia de Campos. Localizava-se a 130 quilômetros da costa do Rio de Janeiro e produzia cerca de 84 mil barris de petróleo por dia.