O governador Renato Casagrande tem lamentado com alguns interlocutores que o retorno para a população aos altos investimentos feitos em seus três anos de administração na segurança pública deixa a desejar; não chega com a mesma proporção e nem na mesma velocidade que o avanço da criminalidade. Em 2013, o governo investiu R$ 1.384.100.205,00 no setor. Para este ano, o investimento continua significante, embora sofresse uma queda: a estimativa é de pouco mais de R$ 1,2 bilhão.
Ao assumir o governo, em janeiro de 2011, Casagrande reconheceu que um de seus maiores desafios seria o de reduzir, principalmente, o número de homicídios. Conseguiu a redução, embora os números sejam considerados pífios pelo próprio governador. “Precisamos melhorar”, diz ele sempre que discursa em eventos das polícias Civil ou Militar.
Renato Casagrande disse há exato um ano, num discurso no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, reconhecer que o resultado na segurança pública é sempre o mais demorado a surgir. “Nas áreas da educação e da saúde, duas outras prioridades do nosso governo, o resultado vem mais rápido”, afirmou ele na ocasião, explicando, porém, que a abertura de escola e mais leitos em hospitais facilita esse retorno. Na segurança, porém, não basta abrir somente uma nova delegacia ou uma unidade da PM, frisou o governador.
“Por isso, enquanto uma pessoa for assassinada no Estado, não vamos parar de buscar melhorias na segurança pública. É um desafio para todos nós”, completou em discurso para oficiais e praças da PM, em solenidade de formatura de soldados, no dia 8 de março de 2013.
Ainda na mesma ocasião, Casagrande fez outras duas importantes observações: ressaltou o compromisso dos novos soldados em prestar um serviço de qualidade à população e mais uma vez defendeu uma de suas bandeiras, que é a integração das polícias Civil e Militar no combate à violência:
“Ao se formar policial militar é necessário que os novos servidores da segurança tenham o compromisso de zelar pela segurança da população e, ao mesmo tempo, ser um exemplo de disciplina e liderança. Precisamos trabalhar de forma integrada com as demais polícias, com a Polícia Civil, para a obtenção de resultados. A população quer redução de violência e quer ver a polícia na rua. É uma profissão de grande responsabilidade e, por isso, temos investido cada vez mais para reequipar as polícias e formar policiais preparados para atender aos anseios da sociedade”.
Este sábado marca um ano desse importante ato presidido pelo governador Renato Casagrande. Doze meses depois, ele, entretanto, não tem muito motivo para estar feliz com os rumos da segurança pública.
Sua tão desejada integração entre as duas polícias saiu do papel raras vezes; acontece somente quando oficiais e delegados têm boa vontade para se unir. Esta boa vontade é verificada, geralmente, em municípios do Norte capixaba, onde delegados e oficiais da PM se unem diuturnamente em busca de uma melhor prestação de serviço na área de segurança pública. Contam, ainda, com apoio do Ministério Público e do Judiciário, que estão sempre dando carta branca para operações policiais em conjunto – mais abaixo, o leitor verá o resultado positivo dessa integração. A integração deveria ser estimulada e até exigida pelo secretário de Estado da Segurança Pública e Defesas Social, André Garcia.
O reflexo da desobediência ao desejo do governador Renato Casagrande aparece nas estatísticas: de 1º de janeiro a 6 de março – última quinta-feira – deste ano o Espírito Santo registrou 357 assassinatos, sem falar dos latrocínios (roubos seguido de morte). No mesmo período de 2013, o número de homicídios foi de 303, um crescimento de 17,8%.
Segundo dados da própria Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, a Região Sul do Estado foi onde a violência mais cresceu nos primeiros 65 dias do ano: 44%. Em 2013, foram 25 assassinatos de janeiro a 6 de março no Sul, contra 36 agora em 2014.
Já a Grande Vitória é disparada a região mais violenta do Estado, com 231 homicídios este ano, enquanto no mesmo período de 2013 o número de caso de assassinatos chegou a 183. Houve um aumento de 26,2% na Região Metropolitana.
A integração das Polícias Civil e Militar, todavia, fez cair o número de assassinatos nos municípios da Região Norte do Estado. No ano passado, o número de homicídios foi de 95, contra 90 em 2014. Uma queda de 5,3%. A integração no Norte, todavia, acontece por obra e capricho das autoridades locais; não por imposição ou estímulo da Sesp.
Os primeiros dias deste ano já sinalizaram para crescimento da violência. Em janeiro de 2013, foram 143 homicídios em todo o Estado, enquanto agora o número subiu para 171, segundo a Sesp. Em fevereiro deste ano, foram registrados 146 assassinatos, contra 140 em 2013. Em março de 2013, a Sesp registrou 145 mortes e 40 homicídios nos primeiros seis dias de março de 2014.
No cômputo geral, o Estado vem reduzindo o número de homicídios desde 2009, quando foram registrados 2.034 casos. No ano seguinte, a queda foi para 1.845; 1.708 em 2011; 1.660 assassinatos em 2012; e 1.564 mortes no ano passado.
No entanto, o que preocupa é que os primeiros 65 dias deste ano foram os mais violentos dos últimos quatro anos. Os 357 assassinatos de 2014 representam um contraste em relação a 2013 (335 homicídios); 2012 (335); 2011 (338); e 2010 (399).
Vários são os fatores que ajudam a motivar o recrudescimento da violência no Estado. Nenhum deles, porém, leva em conta o que o secretário André Garcia tentou empurrar para os leitores de A Tribuna para justificar o aumento no número de homicídios já em janeiro: a chegada de mais pessoas ao Estado por causa do verão e das férias.
É uma desculpa sem nexo, porque todos os anos o Estado recebe milhares de turistas. E não são os turistas que cometem crimes. Eles podem até ser as vítimas, mas os criminosos são bandidos da terra, já conhecidos da polícia capixaba. Eles matam e assaltam os próprios capixabas ou quem estiver na sua frente.
Além da falta de integração entre as polícias, existem outros que, somente quem conhece os bastidores da área de segurança pública, pode enxergar. Algo que, lamentavelmente, os principais assessores do governador Renato Casagrande conhecem, mas não levam até o conhecimento do chefe de Executivo.
Esses outros motivos são a criação de conflitos desnecessários entre as Polícias Civil e Militar, fomentada justamente por pessoas das instituições que têm dificuldade de entender as delimitações de cada uma; a ausência de um diagnóstico que possa analisar os fatores peculiares de cada área que influenciam no aumento de homicídios; e o mau gerenciamento na distribuição do policiamento.
Portanto, o governador Renato Casagrande tem razão quando lamenta com algumas pessoas com quem se reuniu nos últimos dias o fato de o retorno na área de segurança pública estar sendo pífio ou não chega na mesma velocidade que seu governo investe no setor.