O delegado Olair José dos Santos entrou na Polícia Civil do Espírito Santo em maio de 1999. Nesses quase 15 anos, já passou por diversas unidades. Hoje, ele comanda a 12ª Regional da PC, localizada em Santa Teresa e responsável também por mais cinco municípios. O delegado reconhece a importância da parceria que mantém com o sistema de Justiça – Judiciário e Ministério Público –, mas lamenta a falta de integração com “certos atores da Polícia Militar”.
Nesta entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, Olair dos Santos revela que o profissional de segurança pública no Brasil é estigmatizado pela sociedade: “Quando a educação vai mal, você não vê e nem ouve ninguém malhando o professor, e sim o Município ou o Estado; quando a saúde vai mal, você não vê e nem ouve ninguém malhando o médico, e sim o Município ou o Estado. Porém, quando a segurança vai mal, se reclama é da polícia.”
Blog do Elimar Côrtes – Por quais delegacias o senhor já passou?
Olair José dos Santos – Crimes contra o Patrimônio do Departamento de Polícia Judiciário (DPJ) de Colatina por dois anos; cinco anos na Delegacia de São Gabriel da Palha; mais quatro meses na Delegacia de Crimes contra a Vida de Cariacica e Viana. Também fui chefe do DPJ de Colatina por três anos e dois anos da DP de Aracruz. Passei ainda seis meses na DP de Santa Teresa; seis meses no Plantão do DPJ de Colatina; e oito meses na Delegacia de Polícia de João Neiva. Atualmente, estou há oito meses na 12ª Regional de Santa Teresa.
– Transformada em Delegacia Regional, a unidade de Santa Teresa passa a ser responsável por quantos e quais municípios?
– Santa Teresa, São Roque do Canaã, Itaguaçu, Itarana, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina.
– Quais os tipos de crimes mais comuns em Santa Teresa e municípios vizinhos?
– Com certeza, a violência doméstica, delitos de trânsito e furtos.
– No ano passado, quantos homicídios foram registrados em Santa Teresa e quantos já foram elucidados?
– Foram quatro homicídios no ano passado. Elucidamos três, inclusive com prisão dos suspeitos. O último assassinato ocorreu no mês de dezembro. Já sabemos quem é o autor, pois se trata de uma dessas pessoas que vêm trabalhar na agricultura, e o empregador não possui nenhum documento do empregado, mas já fiz o retrato falado do suspeito. Acredito que o mais breve possível vou prendê-lo.
– Como é o trabalho desenvolvido entre a Polícia Civil e as comunidades locais?
– Um bom entrosamento, pois há confiança da população local em passar informações para a Polícia Civil, principalmente, quando há pessoas estranhas na cidade.
– Como é o trabalho da Polícia Judiciária em Santa Teresa com o sistema de Justiça (Judiciário e Ministério Público) e com a própria Polícia Militar?
– Não temos nenhuma dificuldade com o órgão do Ministério Público nem com o Poder Judiciário, pois sempre que solicitamos alguma medida cautelar, somos atendidos o mais breve possível. Entretanto, com a Polícia Militar, ainda falta melhorar um pouco mais, pois parece-me que alguns atores não compreenderam a política de integração proposta pelo Governo do Estado.
– Quais as dificuldades que delegados enfrentam no dia a dia no Espírito Santo?
– Vou completar agora em maio 15 anos como delegado de Polícia. Nesse curto período na carreira já vi e vivi várias experiências. No passado bem próximo já administrei delegacia com uma média de 70 presos, tendo apenas quatro policiais para atender no plantão, ou seja, não tinha nenhum policial para exercer as atividades de rua.
Isto acontecia na maioria das delegacias e DPJs. Coisa que não mais ocorre, porque hoje não temos mais presos nas unidades da Polícia Civil e todas as delegacias possuem viaturas e policiais fazendo o seu trabalho, ou seja, investigando, mas o número ainda é aquém das necessidades.
Entendo que uma das coisas que ainda nos atrapalha é a ingerência de outros órgãos em nossas atribuições, pois no passado, como não tínhamos condições de desempenharmos nossas atribuições, porque as delegacias viviam abarrotadas de presos, não possuíamos recursos material e nem pessoal. Por isso, nossas atribuições eram feitas pela Polícia Militar que geravam os flagrantes.
No entanto, os inquéritos instaurados por portaria iam se avolumando e até hoje temos inúmeros procedimentos de anos anteriores sob a nossa responsabilidade, fatos a serem apurados por muitos de nós que nem éramos delegados ainda. E temos o dia a dia com inúmeras ocorrências chegando e temos que dar uma resposta urgente. Mesmo numa região como esta, que é sabidamente mais tranquila, não passa um dia que não se tenha uma ocorrência que exija uma investigação de imediato.
– A questão salarial é hoje motivo de desânimo por parte dos operadores de segurança pública?
– Não posso responder por todos, mas desempenhamos uma função de fundamental importância para o Estado, onde, para o delegado não tem hora: estamos em alerta 24 horas por dia, pois a qualquer momento você tem que tomar uma decisão, seja estando trabalhando ou de folga. Trabalhamos à noite, finais de semana, exercendo nossas atribuições com um machado amarrado sobre a nossa cabeça com uma linha bem fina, podendo arrebentar a qualquer momento, enquanto outros profissionais com mesma formação Jurídica exercem seu trabalho com bem mais tranquilidade e recebem três vezes mais do que nós.
– O senhor acredita que o policial no Brasil é um profissional estigmatizado pela sociedade?
– Vou responder com a seguinte colocação: quando a educação vai mal, você não vê e nem ouve ninguém malhando o professor, e sim o Município ou o Estado; quando a saúde vai mal, você não vê e nem ouve ninguém malhando o médico, e sim o Município ou o Estado. Porém, quando a segurança vai mal, se reclama é da polícia.