Sobre a mesa do delegado Eduardo Carvalho Khaddour, duas bandeiras se destacam: a do Grupo de Operações Táticas (GOT) da Polícia Civil do Espírito Santo e do Flamengo. Carioca da Tijuca, Eduardo Khaddour assumiu o cargo de delegado de Polícia em terras capixabas em 2012, após ser aprovado em concurso público no ano anterior. No Rio de Janeiro, ele trabalhou 10 anos como inspetor na Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais da Polícia Civil fluminense. Tem uma vasta experiência no combate à criminalidade, como o tráfico de drogas. Ajudou, inclusive, na implantação das primeiras Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), com ações da Core antes de ocupações definitivas.
Nesta entrevista exclusiva, o delegado Eduardo Khaddour relata como é o trabalho do GOT, onde atuam somente policiais civis – delegado, escrivães, investigadores e agentes de Polícia. Trata-se de uma unidade de elite da Polícia Civil capixaba, que realiza operações em apoio a outros organismos da instituição, além de desencadear missões próprias.
O GOT conta com policiais bem treinados; já possui um atirador de precisão. Seus policiais realizam cursos em outras polícias e repassam o que aprendem para colegas de outras unidades. Para Eduardo Khaddour, o combate a violência exige do profissional de segurança pública conhecimento. No entanto, segundo o delegado, o Brasil somente conhecerá a cultura da paz com uma educação forte em todos os níveis. O GOT, segundo ele, procura ajudar nesse sentido, com seus profissionais realizando palestras em escolas para crianças e adolescentes:
“Nossos policiais realizam palestra e fazem apresentação de nosso trabalho para crianças e adolescentes. Mostramos aos jovens a importância dos estudos. O foco das palestras é, de fato, a educação. Creio que somente uma boa educação será capaz de reduzir a criminalidade em nosso País”, diz o delegado, que faz outra revelação: aprendeu ser flamenguista por causa do ex-craque Zico.
Blog do Elimar Côrtes – Com que finalidade o Grupo de Operações Táticas (GOT) da Polícia Civil foi criado?
Eduardo Carvalho Khaddour – O GOT surgiu, em 2004, para dar apoio às demais unidades da Polícia Civil quando precisam realizar operações ou cumprimento de mandados de prisões ou busca e apreensão em locais considerados como perigosos ou em missões para prender pessoas consideradas de alta periculosidade.
Nesse sentido, em 2013, participamos de 35 operações em apoio a outras unidades, que resultaram em 42 prisões. No ano passado o GOT participou também de apoio em cumprimento de mandados de busca e apreensão. Entre as missões de apoio e as operações desencadeadas pelo próprio GOT, foram 120 em 2013. Ainda efetuamos 18 prisões em flagrante, em missões que realizamos, às vezes, à noite, como forma de ajudar no policiamento de rua.
O grupo trabalha com três diretrizes que são nossos pilares: operação policial com qualidade; treinamento e cursos constantes para todo o efetivo; e a difusão de treinamento adquirido por nós para outras unidades da Polícia Civil.
– O que é realizar operações com qualidade?
– Criamos dentro da estrutura do GOT um setor de investigação, trabalhando em conjunto com outras unidades, como a Delegacia Anti-Sequestro. Em 2013, realizamos operações importantes, como as realizadas nos Morros da Fonte Grande e Piedade, no Centro de Vitória, com a prisão de vários traficantes que vinham espalhando terror na região.
Também atuamos junto ao Nuroc, na prisão de suspeitos de desvio de recursos públicos nas Operações Pixote e Derrama. Demos ainda apoio operacional à DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa). O GOT também investiga crimes, quando demandado pela chefia de Polícia Civil ou pela Superintendência a qual estamos vinculados – o GOT era ligado à Superintendência de Polícia Especializada e agora passou para a Superintendência de Ações Estratégicas e Operacionais.
– Como é a segunda diretriz?
– Ela estabelece um plano de treino semanal. Os policiais lotados no GOT, antes de assumirem sua função no dia a dia, realizam treinamento. É nesta segunda diretriz que nossos policias fazem cursos de especialização. Formamos, recentemente, o primeiro atirador de precisão da Polícia Civil do Espírito Santo. O Estado está na fase da aquisição de fuzis 7.62. É com esse modelo de arma que nosso atirador de elite vai trabalhar quando necessário. Este policial foi formado no Comando de Operações Táticas (COT), que é a unidade de elite da Polícia Federal.
Também formamos pela primeira vez um policial no curso de operações especiais da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro). Agora em fevereiro, vamos enviar um investigador para o Curso Explosivista da Core, porque estamos implantando no GOT uma seção de antibombas.
Em março, outro policial fará o Curso de Operações Aéreas da Core, pois pretendemos criar uma seção de Operações Aéreas. Recentemente, formamos um grupo de policiais para atuar como negociadores, em ocorrências com reféns. O curso foi em Brasília, realizado pela Polícia Federal. Também estamos montando no GOT uma seção de gerenciamento de crise.
– Como é a difusão de treinamentos para policiais de outras unidades?
– Esta é a terceira vertente de nossas diretrizes. Em 2013, realizamos o primeiro curso de operações policiais, aberto para todas as unidades da Polícia Civil. Para se ter uma ideia da importância do curso e dos treinamentos, dos 52 policiais inscritos, somente 16 conseguiram chegar até o final, porque foi muito puxado. Os demais foram sendo eliminados no decorrer do curso. Porém, no segundo semestre deste ano, haverá mais uma turma. Foram realizadas instruções no Quartel do Corpo de Bombeiros, no Batalhão do 38º Batalhão de Infantaria do Exército (Vila Velha) e em outros locais da Grande Vitória.
– É difícil ser delegado de Polícia no Espírito Santo?
– Posso garantir que não. Gostei muito de Vitória. Antes de ser aprovado no concurso público de 2011, eu havia passado por Vitória somente uma vez. Eu e minha esposa gostamos bastante da cidade e temos interesse em permanecer por aqui. Eu me sinto bastante realizado como delegado de Polícia, pois este sempre foi meu sonho desde menino. Fiz Faculdade de Direito, na Estácio, do Rio, já pensando em ser delegado. Fiz um concurso no Rio, mas fui eliminado na segunda fase. Graças a Deus passei no Espírito Santo.
– Como o senhor foi diretamente para o grupo de elite da Polícia Civil, que é GOT, logo que assumiu o cargo de delegado?
– Quando aconteceu minha designação, houve a oferta de vaga no GOT. Optei e fui aceito. Devido à minha experiência de 10 anos como inspetor de Polícia Civil na Core, me adaptei logo no Grupo de Operações Táticas de nossa polícia. A ideia é agregar conhecimento, adquirido na Core, para implantar aqui.
– O fato de o delegado de Polícia Civil do Espírito Santo receber o segundo pior salário do País desestimula o profissional?
– Nosso intuito é o de trabalhar cada vez mais em prol da sociedade capixaba, que é a destinatária final de nossos serviços. O trabalho dignifica a carreira de delegado. Tivemos conquistas importantes, como a lei que criou a carreira jurídica para nossa categoria e a lei de promoção, duas bandeiras de luta do nosso Sindelpo (Sindicato dos Delegados). Quanto à questão salarial, espero que logo seja equacionada.
– Quais os planos do GOT para o futuro?
– Nossa meta é colocar o GOT como referência nacional no âmbito tático operacional. Para tanto, estamos buscando sempre o aprimoramento da equipe. Uma parte fundamental do policial de um grupo tático é o controle emocional. Por exemplo: ele tem que saber atirar com perfeição, mas é melhor quando não precisa atirar. Ou seja, precisamos agir sempre com inteligência.
Fizemos as operações na Fonte Grande e Piedade sem dar sequer um tiro. Nessas duas missões, prendemos 17 suspeitos de tráfico, pessoas consideradas de alta periculosidade. Portanto, quem atua dentro de grupos táticos especiais tem que estar sempre pronto para qualquer emergência.
– O GOT faz trabalho preventivo?
– Às vezes, equipes saem às ruas para realizar investigações, ao mesmo tempo em que atuam em abordagens. Desta forma, realizamos no ano passado 18 prisões em flagrante. Porém, ou trabalho preventivo é escolas públicas e privadas. Nossos policiais realizam palestra e fazem apresentação para crianças e adolescentes. Mostramos aos jovens a importância dos estudos. O foco das palestras é, de fato, a educação. Creio que somente uma boa educação será capaz de reduzir a criminalidade em nosso País. Somente com crianças, adolescentes e jovens bem educados e bem formados conseguiremos alcançar uma cultura de paz. É isso que procuramos ensinar aos alunos: a paz social se conquista com educação, com respeito aos pais e ao próximo.
Nas visitas que fazemos às escolas, as crianças geralmente nos perguntam: “O que devemos fazer para virar policiais?” Respondemos: estudem.
– Como nasceu a paixão pelo futebol?
– Como eu morava na Tijuca, próximo ao Maracanã, ia muito ao estádio aos domingos à tarde desde criança. Não importava a quem estava jogando, eu queria ver bom futebol. Curioso é que minha família é toda de tricolores. Só eu me tornei flamenguista. Quando criança, via muito o Flamengo de Zico. Me apaixonei pelo clube. Aos poucos, meu pai foi perdendo as esperanças e um dia concluiu: “Com esse não tem mais jeito. Ele é mesmo Flamengo”. A única saudade que tenho do Rio, além de meus familiares, é claro, é do Maracanã. Mas do velho Maracanã.