Trinta anos depois do misterioso desaparecimento – que culminou em assassinato – do empresário e dono do antigo jornal O Povão, José Roberto Jeveaux, a Justiça capixaba vai iniciar o julgamento do único acusado que continua vivo. Trata-se do ex-policial civil Moacir de Souza Rodrigues, 65 anos, acusado de matar com um tiro na cabeça o empresário Jeveaux e de ferir com três tiros o vigia do prédio onde O Povão funcionava, Valdivino Conceição da Costa, 52 anos. O crime aconteceu na noite do dia 21 de maio de 1984, em Vitória.
O processo nº 0034539-92.1998.8.08.0024, que tramita na 1ª Vara Criminal de Vitória (Privativa do Júri da Capital), apurava o “desaparecimento” de Jeveaux. Porém, com as declarações do ex-delegado Cláudio Antônio Guerra, dadas aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto e publicadas no livro “Memórias de Uma Guerra Suja”, confirmaram o assassinato do dono do Povão.
O livro foi lançado em 3 de maio de 2012. Em razão dessas informações, a Justiça reabriu as investigações como assassinato e não manteve a informação de desaparecimento, como queria acreditar a Polícia Civil na ocasião.
O juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Victor Ribeiro Pimenta, ouviu novamente as testemunhas do caso e, para incrementar ainda mais o processo, em uma das audiências, ocorrida em junho de 2012, o advogado de defesa de Moacir, confirmou que seu cliente está vivo, “mas em lugar incerto”. De acordo com informações do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, em 19 de abril de 2004, Moacir transferiu o título de eleitor de Teresópolis para Araruama.
As intimações foram endereçadas pela 1ª Vara Criminal para Moacir Rodrigues na rua Luiz Augusto, nº 394, Araruama, Rio de Janeiro, CEP 28.970.000. As intimações o convocavam a comparecer às audiências de instruções, mas ele não compareceu em nenhuma delas. Como a última testemunha a ser ouvida na 1ª Vara será às 14 horas do dia 19 de setembro deste ano, o juiz Victor Ribeiro Pimenta vai poder dar a sentença de pronúncia – em que manda um réu a júri popular – e designar a data do julgamento, mesmo à revelia, caso o ex-policial continue a desobedecer às ordens da Justiça.
Na segunda-feira, dia 22 de maio de 1984, um vizinho do Jeveaux chamou a polícia, pois havia entrado na residência do dono do Povão, porque o portão só estava encostado e viu uma poça de sangue e marcas de sangue que revelavam que um corpo havia sido arrastado em direção à garagem onde estaria o carro que foi usado para descartar o cadáver da suposta vítima. A perícia técnica fez uma análise no local e informou que a pessoa poderia ter sido morta no dia anterior, 21 de maio.
Naquele dia, a Polícia Civil continuou fazendo investigações e foi informada que um rapaz, identificadopor Valdivino, havia sido baleado dentro da sede do jornal o Povão, na noite de domingo (21 de maio de 1984). E logo fez a ligação com o desaparecimento de Jeveaux.
Valdivino havia sido socorrido e levado para o Hospital Evangélico, no bairro Alecrim, em Vila Velha. Valdivino passou a ter escolta da polícia, temendo que ele fosse executado no leito do hospital.
Recuperado dos tiros, Valdivino foi ouvido pela polícia no dia 29 de maio de 1984 e contou que estava na sede do Povão, na rua Caramuru, no centro de Vitória, quando Levi Sarmento – que era operador de rádio da Polícia Civil – e Moacir estacionaram um Voyage verde, na porta do jornal, e o chamaram. Valdivino abriu a porta, conforme contou, e na sala foi empurrado e levou três tiros no peito e caiu.
Pensando que ele estava morto, conforme contou Valdivino, Levi Sarmento e Moacir pegaram no carro um galão cheio de gasolina e colocaram no centro da sala do jornal e acenderam um pavio de pólvora e foram embora, sem verificar que Valdivino fingia estar morto. O pavio apagou e o galão de gasolina não pegou fogo.
Levi e Moacir desapareceram assim que tomaram conhecimento que Valdivino estava vivo, pois era perigoso para eles, pois sabiam que ele conhecia os dois muito bem, pois estavam sempre na sede de O Povão conversando com Jeveaux, inclusive ajudando na distribuição do jornal. Valdivino, na ocasião, foi levado à Delegacia de Homicídios para fazer o reconhecimento dos assassinos por fotografias. Ele identificou Levi e Moacir.
O crime virou um mistério, pois até hoje o corpo de Jeveaux não foi encontrado. Meses depois do crime, em 15 de outubro de 1984, Levi se apresentou à polícia, para prestar depoimento e disse que o Voyage verde usado no dia do crime havia sido vendido para Moacir em março daquele ano. Porém, negou sua participação no assassinato de Jeveaux.
No entanto, Moacir não justificou a sua ausência no trabalho, onde foi visto pela última vez em 18 de maio de 1984, três dias antes do sumiço do dono do jornal. Depois foi submetido a uma acareação, na Polícia Civil, onde Valdivino reconheceu Levi, como um dos executores do atentado contra ele, na sede do jornal. Levi, porém, não viveu muito tempo. Foi executado com 15 tiros, por volta das 20 horas do dia 5 de fevereiro de 1985, na avenida Carlos Lindenberg, na entrada do bairro Santa Inês, em Vila Velha.
(Texto cedido ao Blog do Elimar Côrtes pelo jornalista Paulo César Dutra)