Integrantes da Igreja Cristã Maranata têm sido nos últimos meses alvo de denúncias. Desta vez, um ex-membro da cúpula da igreja, pastor Arlínio Rocha, disse que teria sido obrigado a assinar documentos por ordem do também pastor Gedelti Gueiros, que foi afastado da Presidência da Maranata por ordem da Justiça desde o final do ano passado.
O embate entre os dois pastores foi parar nas redes sociais: ambos gravaram vídeos sobre o assunto. Arlínio, faz as acusações; Gedelti se defende. A polêmica é grande e o Blog do Elimar Côrtes entrevistou o interventor designado pela Justiça Estadual para administrar a Igreja Cristã Maranata, o coronel da reserva da Polícia Militar Júlio Cézar Costa.
Blog do Elimar Côrtes – O que o senhor tem a dizer sobre as recentes acusações do pastor Arlínio Rocha contra o pastor Gedelti Gueiros?
Coronel Júlio Cézar – Como administrador judicial da Igreja Cristã Maranata, tenho vedação acerca de me manifestar sobre questões eclesiásticas. Entretanto, como membro da igreja há mais de duas décadas, me entristeço com tudo isto que está acontecendo, pois as pessoas envolvidas de ambos os lados têm o nosso respeito, por tudo que nos ensinaram no ambiente da fé Cristã.
– A Igreja Maranata sempre foi uma igreja muito fechada e de repente estoura uma crise que já perdura há mais de ano. Qual a verdadeira motivação dessa crise?
– Eu não acho que a Igreja Cristã Maranata seja fechada, pelo contrário, tenho dito e afirmado que ela é a mais internacional das entidades nascidas no Estado do Espírito Santo, além de ter grande representatividade no território brasileiro onde está presente em mais de 6 mil pontos. Para se ter uma ideia, a Igreja assiste membros em mais de 80 países do mundo e chega atualmente através da rádio e TV Web Maanaim a 108 países. É uma instituição de alcance mundial, não podendo ser rotulada como uma igreja fechada.
Quanto à crise pela qual vem passando, é muito natural que ela se dê, pois a sua origem teve como ponto de partida a busca pela sucessão interna. Como diriam os analistas e especialistas em administração, foi a busca pelo poder que gerou toda esta celeuma.
Ao meu ver, toda organização humana tem as suas crises internas e, diga-se como ponto positivo para a igreja Maranata, foi ela quem apurou todos os desvios e ajuizou ações pedindo o ressarcimento pelos danos que lhes foram causados.
– O senhor disse que foi a igreja que apurou as denúncias. Mas por qual motivo a cada dia surgem novas situações? A apuração foi incompleta?
– Entendo que muitos dos fatos que vem surgindo são conseqüências das apurações iniciais presididas internamente no âmbito da igreja pelo doutor Idelson Rodrigues que, além de ser pastor leigo e não remunerado, é também um respeitado juiz de Direito no Espírito Santo. O que tem surgido são fatos replicados e que, ao meu ver, não trazem nada de novo e agora partem para seara dos embates pessoais.
São provavelmente questões acumuladas ao longo do tempo sobre o viés do conflito relacional que agora afloram e se tornam notícias que talvez em outro tempo não passassem de discordâncias de pontos de vista. Os dogmas da fé não podem ser policializados, mesmo que alguns descontentes insistam em fazê-lo.
– A sua nomeação como interventor da igreja surpreendeu, pois era esperado que o interventor fosse uma pessoa que não tivesse vínculo com a Maranata. Por que o senhor aceitou ser interventor?
– Aceitei porque amo a Igreja Cristã Maranata como instituição de fé, e porque não tive participação nenhuma no processo de escolha do meu nome. A escolha se deu por vontade exclusiva do Poder Judiciário Estadual, hoje presidido pelo competente e corajoso desembargador Pedro Valls Feu Rosa. Foi uma repórter quem me deu a notícia de que eu havia sido escolhido para ser o interventor pelas mãos do juiz Marcelo Loureiro, juiz titular da Vara Central de Inquéritos.
– Como interventor o senhor encontrou muitas situações irregulares na igreja?
– Tenho trabalhado de 12 a 14 horas diariamente. Parei tudo que fazia para administrar a Igreja Cristã Maranata. Ao longo desses 70 dias que estou como administrador judicial, tenho procurado colocar as contas em dia, retomar a construção e reformas de centenas de templos e dar transparência através do site da igreja, em ícone próprio, de todos os meus atos e decisões. Os patrulheiros de dentro e de fora da igreja estão vendo a minha isenção e coragem para tomar decisões duras, porém necessárias. Fiz demissões e remanejamentos que julguei necessários, sempre com o apoio do poder judiciário.
– Por qual motivo o senhor fez mudanças internas e demissões?
– Pela necessidade de ajustes administrativos e, no caso das demissões, por entender que era preciso fazê-las. A Igreja Cristã Maranata tem abrangência nacional e precisa ser administrada de forma profissional, visando atender centenas de milhares de membros que confiam os seus dízimos a uma causa de fé que reproduz uma sequência de valores que precisam ser preservados.
– Há uma crítica feita por pessoas que deixaram a Maranata e que procuraram este blog para denunciar que o senhor, como interventor, vem se reunindo com o pastor Gedelti Gueiros e outros membros da antiga cúpula. Isto procede?
– As minhas reuniões presentes e futuras com o pastor Gedelti ou com qualquer outro membro do Conselho Presbiteral da Igreja Maranata são atos legais, pois em decisão judicial obtive tal permissão para assim proceder. O estatuto da igreja não foi rasgado pela Justiça, nem tão pouco será por mim.
Tem questões estatutárias que só podem ser deliberadas pelo Conselho Presbiteral presidido pelo pastor Gedelti e não me furtarei a atender os reclames quando for convidado para reuniões ou mesmo quando precisar de me reunir com o conselho.
Os nossos acusadores estão desesperados porque o nosso trabalho tem sido íntegro e tido acolhimento pela sociedade. Na verdade, não são contra mim que se dirigem, queriam mesmo o fracasso da igreja, o que não aconteceu, pelo contrário, em recente pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Enquet ficou demonstrado que a igreja continua firme e crescendo.
– Ex-membros da igreja dizem que o senhor continuou dando aulas no Maanaim de Domingos Martins e que lá teria sido visto ao lado de pastores que foram afastados pela Justiça por estarem, segundo denúncia do Ministério Público Estadual, envolvidos com irregularidades na administração da Maranata. O senhor é amigo do pastor Gedelti Gueiros?
– Não posso me intitular um amigo do pastor Gedelti, pois com ele nunca tive convivência pessoal. Nutro por ele e pela família Gueiros profundo respeito e admiração. Em recente encontro com os empregados da igreja afirmei a todos que se a Igreja Cristã Maranata fosse uma empresa o seu proprietário deveria ser o pastor Gedelti, pois foi ele, com um grupo de abnegados homens e mulheres, que transformaram uma célula familiar em uma grande instituição de fé, como já disse anteriormente a mais internacional das entidades nascidas no Espírito Santo.
Até que se prove em contrário, o que dificilmente acontecerá, Gedelti Gueiros doou parte do seu patrimônio para construir o que é hoje a Igreja Cristã Maranata. Para ser interventor não tive que arquivar o meu caráter, nem tampouco deixar a honra de lado.
No dia que Gedelti morrer a Igreja Maranata não terá um sucessor da família Gueiros, pois a igreja é patrimônio de centenas de milhares de crentes no Brasil e no exterior e não uma monarquia.
Enfim, sou professor do Maanaim antes de ser interventor, estou autorizado a dar aulas e a falar com quem eu quiser e aonde eu quiser. Sou um homem livre e ciente da minha responsabilidade.
– Deixando um pouco de lado as questões da Maranata, como o senhor está vendo o aumento da insegurança no Espírito Santo?
– Sobre isto não me pronuncio. Como dizia o desembargador Antônio Feu Rosa, “sou um homem arquivado”.
– O senhor diz que não quer se pronunciar sobre esse tema, mas há pouco publicou artigo de opinião em A Tribuna e também um livro sobre segurança pública. O seu silêncio é proposital ou político?
– Nenhum dos dois. Os meus pronunciamentos se resumem à natureza acadêmica. Fui convidado para ser candidato a deputado federal e tenho recebido convites de alguns partidos para me filiar, mas não aceitei, pois já dei minha contribuição como um homem público ao criar a Polícia Interativa e o Propas, e agora quero me dedicar ainda mais ao estudo da Policiologia, à minha família e sobretudo ao meu Deus.
– O senhor tem algo mais a dizer?
– Somente agradecer e deixar bem claro que a minha tarefa como interventor da Igreja Cristã Maranata tem sido uma tarefa difícil, mas ao mesmo tempo agradável, pois me sinto servindo à comunidade e a Deus em mais esse desafio que agora enfrento.