Sempre que surge algo que causa revolta na sociedade, o País volta a falar de mais rigor nas punições a criminosos. Discute-se por longo tempo a redução da maioridade penal, por exemplo; fala-se em longos programas de rádios e TVs, além de artigos em jornais, em sites e blogs da possibilidade de se aumentar o tempo de prisão de quem comete crimes hediondos. Alguns citam até a pena de morte.
Tudo isso, no entanto, serve para esconder a grande penúria que vive a segurança pública no Brasil: as instituições policiais estão falidas em termos de infraestrutura; sofrem há décadas com atraso tecnológico – apesar de alguns esforços aqui, acolá para corrigir a situação, como é o caso do Estado do Espírito Santo –; nossas perícias estão sucateadas; os operadores de segurança pública são mal remunerados; o efetivo policial é super defasado (no caso capixaba,o governo vem fazendo concursos anualmente para recompor o efetivo); e, o mais grave, não há policiamento adequado e eficiente nas ruas. Ou melhor, a polícia sempre aparece, mas depois do fato consumado.
A falta de policiamento nas ruas é sentida em Vitória, Cariacica, Vila Velha, Viana, interior do Estado do Espírito Santo. É sentida, enfim, em todo o País. Não há por parte da União uma política segura e competente de segurança pública. O governo federal entra depois do caos consumado. E os governos Estaduais e municipais, salvo exceções, olham para o setor de segurança pública sempre com o viés político e não técnico.
Não adianta discurtir tão somente reforma no Código Penal Brasileiro, exigir penas mais duras para determinados tipos de crimes. As polícias têm que ser adequar à leis vigentes de um País.
A morte do policial civil José Bento Sório, 47 anos, ao reagir a uma assalto e perseguir os criminosos na noite de segunda-feira (20/05), no bairro Vila Capixaba, em Cariacica, é mais um exemplo da nossa triste e crua realidade.
Nos discursos oficiais, o Estado está no caminho certo. Nos discursos, o governador Renato Casagrande cita sempre que o Estado está reduzindo os índices de criminalidade. Pode até ser verdade – como, de fato, é –, mas enquanto professor, policial, comerciária – a que foi morta dentro do porta-malas de seu próprio carro, numa perseguição policial, quando estava sendo vítima de sequestro relâmpago –, gente do povo estiverem sendo assaltados e assassinados no meio da rua, será muito difícil a sociedade acreditar nos números oficiais. Isso sem falar nos dois policiais civis que foram mortos a tiros ao cumprir mandado de prisão em Sooretama.
Há muito, a sociedade capixaba já vinha pedindo um choque de ordem na segurança pública. Esta terça-feira (21/05) marca o segundo dia de trabalho do coronel Edmilson dos Santos no cargo de comandante geral da Polícia Militar. Não seria a hora de o próprio governador ou o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, exigir o tão sonhado choque de ordem?
E choque de ordem significa colocar nas ruas, para cercar toda o Estado por tempo indeterminado, do soldado recruta ao coronel. Seria utilizar as forças especiais da Polícia Civil para o mesmo fim. Ou vamos de novo precisar da Força Nacional de Segurança?
O Estado tem instrumento para isso. Basta executar. Do contrário, vamos continuar apenas batendo palmas para a prisão de bandidos e chorar a morte de inocentes, como o policial civil José Bento.
Mais importante do que prender o criminoso, seria evitar o crime. Como dizia o coronel da reserva PMES Michel Bassul, que por muitos anos comandou com eficiência, autoridade e linha dura o policiamento ostensivo da Grande Vitória, ”a polícia tem que perseguir o não fato”.Depois do fato, a polícia só chegará para apagar incêndios. E apagar incêndios significa também prender o criminoso.
Aí o estrago já foi feito: vide o policial civil José Bento Sório. De que adianta a prisão dos dois bandidos que o mataram? O que conta é que a sociedade perdeu mais uma vida; perdeu a vida de policial civil.