O Ministério Público Estadual tem uma grande chance, a partir desta segunda-feira (19/11), de corrigir decisão tomada por um de seus membros. No julgamento de três acusados – que ainda estão vivos, porque os demais já foram assassinados – de envolvimento no assassinato do ex-presidente do Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo (Sindirodoviários), João Nato Juliana, o MP deveria acrescentar mais réus no processo.
Deverão ser julgados – o termo é deverão, porque a defesa de um dos réus poderá promover uma manobra jurídica para adiar o julgamento – pelo Tribunal Popular do Júri de Cariacica o coronel da reserva da Polícia Militar Walter Gomes Ferreira, o cabo PM Manoel Prado Neto e Orceni Vieira Costa. O julgamento está previsto para começar às 8h30, no Fórum de Cariacica, no trevo de Alto Laje.
Três promotores de Justiça do Grupo Especial de Trabalho em Persecução Penal dos Crimes Dolosos Contra a Vida e de Auxílio aos Promotores de Justiça das Varas Criminais do Tribunal do Júri (GETPEJ), do Ministério Público, vão atuar no caso. João Nato foi assassinado no dia 6 de junho de 1997, às 21h30, no bairro São Geraldo, em Cariacica.
De acordo com a segunda denúncia feita pelo MPES, João Nato, que na época tinha acabado de assumir a presidência do Sindirodoviários, teria se negado a dar continuidade a um pagamento feito ao coronel Ferreira, cobrado em troca de serviços de segurança indicados por ele.
Segundo as provas arroladas no inquérito policial, o cabo Prado teria atuado como motorista dos executores Orceni, José Luiz Generoso, o Titio, e Renato Garcia Ferreira, o Renatinho. Os criminosos teriam utilizado um carro roubado, cedido por Renatinho, que exercia a função de segurança do sindicalista.
Titio foi assassinado a tiros em 13 de agosto de 1997, na estrada que liga Santa Leopoldina a Cariacica. Renatinho foi executado, também a tiros, em 29 de junho de 2004, no bairro Boa Sorte, em Cariacica.
O Ministério Público, por meio do então promotor de Justiça Sócrates de Souza – ele agora é procurador de Justiça –, acompanhou todas as investigações, feitas à época pelo então chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Germano Henrique Pedrosa.
Elucidaram, primeiramente, o crime de execução. Os acusados de assassinar João Nato foram presos horas após o crime. Posteriormente, Sócrates de Souza e Germano Pedrosa passaram para a fase da apuração dos supostos mandantes.
Chegaram, não só ao nome do coronel Ferreira, bem como aos diretores do Sindirodoviários. Os sindicalistas foram até presos na ocasião.
No entanto, o caso passou a ser acompanhado, mais tarde, por outro promotor de Justiça, Marcelo Zemker, que, diferente de seu colega Sócrates de Souza e do delegado Germano Pedrosa, não viu nada que pudesse levá-lo a oferecer denúncia contra outras pessoas que também, em tese, teriam participado da trama do assassinato de João Nato.
Na primeira versão da denúncia do Ministério Público, os diretores do Sindirodoviários teriam contratado o coronel Ferreira para ser o intermediário na execução da morte de João Nato. O coronel, segundo a DHPP e o MP, teria, então, contratado os pistoleiros para matar o sindicalista. Não há, portanto, nenhum inocente nessa história.
No dia 18 de março de 2011, este Blog publicou reportagem sobre o assunto, com o seguinte título: “Decisão do Ministério Público Estadual livra a cara de oito dos 12 acusados no assassinato do presidente do Sindicato dos Motoristas”. O texto completo está no link http://elimarcortes.blogspot.com.br/2011/03/decisao-do-ministerio-publico-estadual.html
A trama montada para matar João Nato foi tão forte que seu sucessor, Laurindo Gonçalves, morreu meses depois de ter sido preso pela acusação de ser um dos mandantes do assassinato.
Até hoje, a Polícia Civil e os familiares de Laurindo suspeitam que ele tenha sido morto por envenenamento. O delegado Germano Pedrosa chegou a pedir a exumação do corpo, para realizar nova autópsia, mas a Justiça capixaba não autorizou.
Mais um motivo para Ministério Público rever o equívoco de não denunciar outros possíveis mandantes. E, quem sabe, insistir na exumação do corpo de Laurindo para comprovar ou não as suspeitas da família e da Polícia Civil.
Outras duas reportagens postadas neste Blog podem ajudar num melhor entendimento dessa polêmica. Veja os seguintes links: http://elimarcortes.blogspot.com.br/2011/03/viuva-de-pistoleiro-revela-como-foi.html
http://elimarcortes.blogspot.com.br/2011/05/ex-presidente-do-sindicato-dos.html
Matador de João Nato voltou a trabalhar para Sindirodoviários após sair da prisão
Renatinho – um dos pistoleiros que atiraram em João Nato –, ao sair da prisão temporária por decisão da Justiça, voltou a trabalhar para o mesmo Sindirodoviários, de onde – manda o bom senso – deveria ser demitido sem direito a nada. Voltou como motorista de Laurindo, justamente o sucessor de João Nato.
Vai aí mais uma informação para os eficientes promotores de Justiça do Grupo Especial de Trabalho em Persecução Penal dos Crimes Dolosos Contra a Vida e de Auxílio aos Promotores de Justiça das Varas Criminais do Tribunal do Júri: coube a Renatinho colocar estriquinina (um alcalóide cristalino muito tóxico. Foi muito usado como pesticida, principalmente para matar ratos. Porém, devido à sua alta toxicidade, não só em ratos, mas em vários animais e também o homem, o seu uso é proibido em muitos países) na comida de Laurindo, segundo suspeitas da família e da Polícia Civil.
Esta é, portanto, a hora do Ministério Público corrigir o equívoco e fazer prevalecer a justiça e o fim da impunidade. Fatos não faltam.