Uma investigação feita pela Polícia Federal indica que um vereador de Vitória é o intermediário entre bicheiros e um grupo de policiais civis e militares e políticos do Espírito Santo, que seriam favorecidos com recebimento de propina da contravenção.
Esse vereador, que já ocupa o cargo há vários mandatos, seria o responsável por entregar malas de dinheiro a representantes de partidos políticos e a pelo menos dois delegados, que já integraram a alta cúpula da Polícia Civil. Hoje eles não fazem mais parte do staff da instituição, embora ainda estejam na ativa, trabalhando normalmente. Os nomes dos envolvidos não estão sendo divulgados por este Blog porque eles ainda são alvo de investigação.
O vereador, segundo investigações do serviço de Inteligência da Polícia Federal – às quais o Blog do Elimar Côrtes teve acesso –, atuava junto com um líder comunitário também de Vitória e de um agente federal já aposentado, que virou advogado – ele é responsável pela defesa de bicheiros cariocas em processos que tramitam no Espírito Santo.
As investigações da Polícia Federal que chegaram ao nome do vereador começaram em 2007 e foram concluídas em 2010. O resultado, que já está em poder da Justiça Federal, leva em conta investigações feitas, anteriormente, pela própria Polícia Civil, por meio da Delegacia de Costumes e Diversões e pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e a Corrupção (Nurocc), da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp).
Ao se depararem com os nomes dos delegados, os policiais civis – delegados e investigadores – que estavam à frente das investigações começaram a ter problemas. Como encontraram também com a prática de crimes federais, os delegados que atuavam na época no Nurocc e na DP de Costumes e Diversões entenderam que seria mais prudente repassar as investigações para a Polícia Federal. Houve, todavia, pressão do alto escalão da época – 2010 – da Polícia Civil para tentar abafar as investigações.
Vale ressaltar que a atual cúpula da Polícia Civil, tendo à frente o delegado Joel Lyrio Júnior, assumiu em janeiro de 2011, depois da posse do governador Renato Casagrande, e não tem nada a ver com essa ‘maracutaia’:
“Em alguns momentos, a gente via esse vereador na Chefatura de Polícia Civil entregando o dinheiro da corrupção a um dos delegados”, disse um investigador que trabalhou no caso. “Mas, infelizmente, naquela época, entre 2007 e 2010, não podíamos fazer nada. A situação, hoje, é outra, graças a Deus”, completou.
Foi graças a essas investigações que a Polícia Federal realizou, no dia 20 de outubro de 2011, a Operação Safári, que prendeu 16 pessoas – 15 no Espírito Santo e uma em São Paulo – acusadas de integrar uma organização criminosa com atuação na exploração de jogos de azar a partir da utilização de máquinas caça níqueis com componentes de origem estrangeira.
Um dos homens presos é investigador da Polícia Civil capixaba. Ele foi solto menos de uma semana depois, após pagar fiança de R$ 50 mil arbitrada pela Justiça Federal – o salário dele, como investigador, é inferior a R$ 5 mil mensais. Nessa mesma operação foi preso também o empresário Epaminondas Pimentel, conhecido como Jeová.
Há outros vereadores investigados por ligação com bicheiros e que são patrocinados pela contravenção no Espírito Santo. Recentemente, em Vila Velha, quase que um forte partido político conseguiu emplacar o nome de um vereador-bicheiro na chapa de um candidato a prefeito.
O vereador-bicheiro seria candidato a vice, mas, sabiamente, o cabeça da chapa, que é um homem honesto – conhecedor profundo da bandidagem capixaba – buscou outro companheiro.
Na semana passada, ao informar o resultado da Operação Capone – que prendeu dezenas de bicheiros e apreendeu mais de R$ 4 milhões –, o Nurocc revelou que investiga a ligação de bicheiros com políticos e policiais.
O inquérito que se desenrola atualmente no Nurocc é diferente do que já foi concluído pela Polícia Federal, o que significa que vem mais chumbo grosso por aí contra políticos e policiais suspeitos de ligação com contraventores.