Condenado a 15 anos de prisão por tráfico internacional de cocaína, o empresário capixaba Antônio Carlos Martin, o Toninho Mamão, que morreu no dia 21 de junho deste ano, acaba de receber uma homenagem da Prefeitura Municipal de São Mateus. Leva o nome dele a nova Unidade Básica de Saúde de Nova Aymorés (Km 35), interior de São Mateus, que foi inaugurada na quarta-feira (04/07/2012) pelo prefeito mateense, Amadeu Boroto, com a presença de moradores, familiares do homenageado e outras autoridades.
Toninho Mamão foi preso pela Polícia Federal no dia 9 de março de 1995. Na época, ele era dono de uma empresa de exportação e importação. Para a Federal, a empresa servia de fachada para o tráfico internacional de cocaína. Supostamente, a empresa de Toninho Mamão vendia pimenta do reino.
Filiado ao PMDB na ocasião, Toninho Mamão foi preso com 630 quilos de cocaína que seriam embarcados para Bruxelas em contêineres escondidos em um carregamento de pimenta, no antigo Cais de Capuaba, hoje Porto de Vila Velha.
Outros 30 quilos foram apreendidos, um dia depois, por agentes federais enterrados no meio de plantação de pimenta do reino na fazenda do empresário, em São Mateus. Junto com ele foi preso também um holandês.
Toninho Mamão, mesmo depois de condenado, sempre teve regalias por parte dos governadores do Espírito Santo. No governo Vitor Buaiz (PT), o traficante-empresário ficou cumprindo pena um longo tempo dentro de uma casa que ele próprio mandou construir dentro das dependências do quartel do 2º Batalhão da Polícia Militar, em Nova Venécia, município vizinho a São Mateus.
No governo de José Ignácio Ferreira, Toninho Mamão continuou “merecendo” regalias, mas logo foram cortadas pela então CPI Nacional do Narcotráfico que, quando veio ao Estado, descobriu as benesses oferecidas pelo Estado do Espírito Santo a um de seus maiores traficantes. Por determinação, então, da Justiça, provocada pela CPI do Narcotráfico, Toninho Mamão passou a cumprir pena numa cadeia comum.
Toninho Mamão jamais agiu sozinho no envio de cocaína para a Europa, embora ele tenha declarado no processo que a apreensão feita pela Polícia Federal foi a primeira vez que iria tentar enviar a droga para fora do Brasil.
Peças das investigações indicavam na ocasião que um verdadeiro grupo empresarial capixaba e de outros estados estaria por trás das atividades ilícita de Toninho Mamão. Porém, ele foi “homem suficiente” – como se diz na gíria dos marginais – para “segurar” sozinho a propriedade dos 660 quilos de cocaína.
Agora, 17 anos depois de sua prisão, Toninho Mamão é homenageado. Na quarta-feira, o prefeito Amadeu Borotto, de São Mateus, prestou a homenagem a Antônio Carlos Martin, o Toninho do Mamão, colocando o nome dele na nova Unidade Básica de Saúde de Nova Aymorés (Km 35). O prédio já foi inaugurado e a previsão é de que, até o final do mês, todos os serviços já funcionem nas novas instalações.
Depois que cumpriu sua pena, Toninho do Mamão voltou para São Mateus, onde virou produtor rural. Mesmo na prisão por quase 15 anos, manteve sua riqueza intacta. Seus bens jamais foram confiscados pela Justiça. Ele foi responsável pela doação de quatro lotes para a construção da unidade.
O prédio tem consultório odontológico, sala de vacina, consultório médico, consultório para enfermeiro, sala de reunião para agentes comunitários, cozinha, local de esterilização e recepção. O investimento é de R$ 363 mil, numa parceria da Prefeitura com o Governo Federal.
Fica uma questão: ao homenagear um homem condenado por tráfico internacional de drogas, o prefeito de São Mateus não estaria fazendo apologia ao crime? Não estaria enviando à sociedade uma mensagem de que o crime compensa?
Tudo bem que o cidadão Antônio Carlos Martin pagou por seu crime junto à Justiça brasileira, mas daí ser homenageado pelo Poder Público vai uma diferença muito grande.
Com a palavra, o Ministério Público Estadual.