A análise de interceptações telefônicas feitas pela inteligência policial nos últimos dias já permite às autoridades afirmar que a ordem para os seis assassinatos de policiais ocorridos entre os dias 12 e 23 de junho em São Paulo partiu de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Grampos detectando a ordem foram interceptados pelo Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), pelo Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e pela Divisão Antissequestro (DAS) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O jornal Estado da São Paulo publicou em sua edição de domingo (01/07) entrevista com a socióloga Camila Nunes Dias, que este blog publica na íntegra para análise de nossos operadores de segurança.
Para fazer a tese “Da pulverização ao monopólio da violência: expansão e consolidação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no sistema carcerário paulista”, defendida no ano passado na USP, a socióloga Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC, ouviu integrantes da facção. E descobriu que a “pacificação” de São Paulo depende de um equilíbrio precário de forças.
Estado de São Paulo – A senhora consegue compreender esses ataques?
Camila Nunes Dias – Parcialmente. A “pacificação” de São Paulo depende (ou dependia) de um equilíbrio precário de forças, envolvendo os agentes do “mundo do crime”, as forças policiais e o sistema prisional. Parece que alguns acontecimentos colaboraram para romper esse equilíbrio, trazendo à tona tensões que estavam latentes. A violência policial – sobretudo da Rota – é, certamente, um dos “detonadores” do equilíbrio precário.
Quais são as semelhanças e diferenças em relação aos ataques de 2006?
As semelhanças parecem ocorrer nos métodos – incêndio de ônibus, assassinato de policiais e, sobretudo, no que parece ser a retaliação das forças de segurança, haja vista o aumento de assassinatos não esclarecidos nos últimos dias. Há até chacinas, com fortes indícios de execução sumária. Já quanto às diferenças, embora possa ser cedo para avaliar, parece que há uma intensidade menor. Os ataques são localizados, pontuais ou em conta-gotas. Outra coisa que chama a atenção é o assassinato de policiais de folga, fora do horário de serviço.
O que mudou no PCC?
A “crise de maio de 2006” explicitou a expansão do PCC para além do sistema prisional, com forte presença em muitas regiões do Estado. Pelo menos por enquanto, não se percebeu nenhuma alteração substancial nessa situação.
Quais as principais características da facção?
O PCC atua como agência mediadora e reguladora no universo criminal, mas essa atuação vai além, abrangendo conflitos variados entre vizinhos, familiares etc. Ao mesmo tempo, atua economicamente como empresa voltada a negócios ilícitos, principalmente o tráfico.
Mudou o papel do PCC no mercado de drogas?
O PCC me parece um importante distribuidor de drogas em São Paulo, com presença em outros Estados da federação. Além de distribuir a droga, o PCC exerce um papel regulador nos conflitos envolvendo o varejo da droga, controlando de forma direta (pelo fornecimento) ou indireta (pela mediação dos conflitos) esse comércio ilegal.
As ações do governo são bem-sucedidas?
As ações do governo são, a meu ver, desastrosas. O descontrole das polícias, expresso pela corrupção de um lado e pela violência ilegal de outro, as guerras violentas entre as Polícias Civil e Militar e a expansão do sistema prisional, isso forma o caldo necessário não apenas para o aparecimento de grupos como o PCC, mas para seu fortalecimento e para explosões cíclicas de violência.
Fonte: Estado de São Paulo.