O governador Paulo Hartung deveria aproveitar a nova crise da segurança pública no Rio de Janeiro para explicar seu colega Sérgio Cabral – aliás, os dois governantes são do mesmo partido, o PMDB ¬- como conseguiu acabar com a onda de incêndios a ônibus no Espírito Santo sem precisar dar um tiro sequer em bandidos.
No Rio, a Polícia Militar informou nesta quarta-feira (24/11) que desde o início dos confrontos, quando criminosos começaram a incendiar veículos, 21 pessoas moram mortas, 29veículos incendiados e 153 pessoas presas.
Para ensinar seu colega Sérgio Cabral, Paulo Hartung terá que voltar no tempo. Mais precisamente no final de 2005. Dias antes, Hartung encarou a crise do grampo telefônico, em que a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), que tinha à frente o delegado federal Rodney Mirnda, grampeou clandestinamente os telefones da Rede Gazeta de Comunicação, durante as investigações do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho.
Exonerado do cargo, Rodney – que voltou quase dois anos depois e agora se elegeu deputado estadual – foi substituído pelo promotor de Justiça Evaldo Martinelli. E foi com Martinelli na Sesp que se deu início à onda de incêndios a ônibus.
A ação foi orquestrada de dentro das cadeias em represália a transferência de chefões dos presídios para a prisão federal do Paraná.
Foram momentos angustiantes vividos por Martinelli, sua equipe e pelo governador Hartung. Eles, entretanto, não perderam tempo e nem a tranquilidade. Com humildade ¬– que é muito importante nos momentos de crise -, eles tomaram a decisão de pedir ajuda do governo federal.
Já era início de 2006 quando tropas do Exército, que aqui no nosso Estado era comandado pelo então tenente-coronel Otávio, foram para as ruas da Grande Vitória por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atendeu pedido do governador Paulo Hartung.
Simultaneamente, também em atendimento a pedido de Paulo Hartung, Lula enviou ao Estado homens da Força Nacional de Segurança, que passaram a administrar presídios onde ainda estavam os xerifes do verdadeiro crime organizado capixaba.
Hoje, de volta ao Ministério Público Estadual – ele teve que deixar a Sesp porque a lei orgânica do Conselho Nacional do Ministério Público proíbe que um promotor ou procurador de Justiça ocupe cargo no Executivo enquanto está na ativa -, Evaldo Martinlli prefere não falar mais sobre o assunto. Nem ele e nem o hoje coronel Renato Duguay, que foi o seu subsecretário Operacional na Sesp.
No entanto, fontes ligadas à Sesp relembram hoje como foram os momentos angustiantes de Martinelli, de sua equipe e do governador Paulo Hartung.
Eles recordam que Martinelli criou uma Força Tarefa, formada pelas polícias Civil e Militar, que conseguiu prender pelo menos 15 dos 18 homens apontados como os executores dos incêndios.
Ao mesmo tempo, o governo continuou com sua política de livrar os presídios capixabas dos chefões do crime, mandando os cabeças para presídios em outros estados. Outros foram isolados por aqui mesmo. Houve uma trégua e os incêndios se cessaram.
No final de 2006, antes da saída do promotor de Justiça Evaldo Matinelli da Sesp, os bandidos voltaram a agir. E a polícia capixaba, novamente, agiu com serenidade e humildade. Paulo Hartung pediu de novo ajuda de forças federais e conseguiu.
Desta vez, porém, Martinelli, sua equipe e Hartung tiveram outra ideia e um apoio fundamental, que acabou de vez com os incêndios.
O governador se reuniu com os dirigentes dos principais veículos de comunicação do Estado e pediu que não deixassem de publicar as informações sobre incêndios, mas que evitassem dar chamada – que, na gíria jornalística, significa manchete – forte nas capas do jornais.
Hartung foi atendido e, em poucos dias, os incêndios se cessaram de vez. Em conversa reservada com agentes da Sesp, Paulo Hartung sentenciou, antes de fazer o pedido aos meios de comunicação: “Esses bandidos querem é aparecer. Se deixarem de ser manchete nos jornais, eles perderão força”
O governador tinha razão e poderia agora dar uma ajuda a Sérgio Cabral, que deveria seguir a humildade do governante capixaba e pedir ajuda das forças federais para dar apoio à polícia carioca no combate aos bandidos que estão aterrorizando a população daquele Estado.
Detalhe: enquanto no Rio já morreram 21 pessoas – inclusive inocentes, vítimas de bala perdida, em tiroteio entre polícia e bandidos -, no Espírito Santo a polícia capixaba não matou nenhum criminoso.