Ele tem um jeito calmo, sereno e tranqüilo de fazer polícia. Conversa de maneira lúcida; aonde chega para fazer uma blitz vai logo se desculpando com o cidadão que a ser abordado.
Durante meses, atuou no hoje extinto Destacamento Policial Militar do Morro do Quadro, na região da Grande Santo Antônio, em Vitória.
O morro era violento. Quando ele chegou para acalmar a população e dar um basta à violência dos traficantes, a região acabara de ser abalada pelo brutal assassinato de dois policiais militares, que, cercados por bandidos quando iam entregar uma intimação a um morador, foram torturados e executados com tiros de pistola na cabeça. Isso foi em janeiro de 1997.
Na época, o hoje major Jailson Miranda era capitão. Assumiu o comando da Companhia da PM da Grande Santo Antônio com foco voltado para o Morro do Quadro. Colocou boa parte da marginalidade na cadeia, com a ajuda do então imbatível Serviço Reservado de Informação (PM-2) da PM.
Na condição de capitão, Miranda ganhou prêmio para o tipo de polícia – comunitária – que desenvolveu no Morro do Quadro. O prêmio, é claro, ele deu para a comunidade. Sua luta no morro virou livro, escrito por um paranaense.
O hoje major Miranda continua aquele oficial de jeito simples, calmo e sereno, porém sem perder de vista o senso e a responsabilidade que aprendeu com outros oficiais de bem, que lá atrás, nas tranqüilas cidades de Alegre e Guaçuí, criaram a nossa orgulhosa Polícia Interativa.
Um dos oficiais ainda está na ativa, é o coronel Julio Cezar Costa, chefe da Diretoria de Apoio Logístico (DAL) da PM.
O major Miranda vem repassando os ensinamentos que teve para seus subordinados, sejam eles praças – soldados, cabos e sargentos –, suboficiais ou mesmo oficiais.
E a turma tem aprendido a lição: polícia se faz com interatividade, com a participação da sociedade, do povo. Nada de brutalidade. Truculência só quando o momento exigir e contra quem precisar.
E foi com esse jeito responsável, calmo e sereno de gente que sabe fazer polícia ao lado do povo que a Polícia Militar do Espírito Santo participou da Feira do Conhecimento, durante a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg), realizada em Brasília, e conquistou o primeiro lugar na votação popular. É o segundo título conquistado por um tipo de policiamento comunitário criado pela PM capixaba. Motivo de orgulho para todos os capixabas.
A PM esteve presente no evento com o projeto “Rede de Promoção de Ambientes Seguros (Repas), que é o Batalhão Participativo”, desenvolvido pelo 10º Batalhão da PM, localizado em Guarapari.
O projeto ganhou destaque durante o evento entre os pesquisadores da área de segurança pública. Representantes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU) participaram da Feira e conferiram de perto a iniciativa de policiamento interativo capixaba.
Para o idealizador do projeto, o atual coordenador estadual de Polícia Comunitária Interativa da PM, major Jailson Miranda, os trabalhos dos militares da PM foi elogiado diante da sistematização e controle de produtividade das ações.
“Tivemos a oportunidade de ter o nosso projeto reconhecido por pesquisadores do PNDU, o que muito nos engrandece. A interação e a promoção dos direitos humanos da Polícia Interativa do Estado foram fatores relevantes e elogiados por estes pesquisadores, que já produziram a metodogia da Feira do Conhecimento trabalhada e exposta em países como Colômbia, Argentina e El Salvador, por exemplo”, destacou Miranda.
Os soldados Wagner Cardoso Ferraz e Rafael Pires Leite foram uns dos expositores da PM capixaba na Feira. Durante as apresentações, os militares enfatizaram os procedimentos de trabalhos desenvolvidos na Repas e toda a inovação do processo de diagnóstico de ambientes seguro em Guarapari.
“Destacamos os resultados alcançados na diminuição significativa da violência e da criminalidade na região. O que proporciona que a cidade seja mais segura e agradável para a população”, concluiu Miranda.
O projeto Repas de Guarapari é desenvolvido por meio de parceria que envolve o 10º Batalhão, a Polícia Civil, secretarias municipais, o Conselho Tutelar, Ministério Público, o Juizado da Infância e da Juventude de Guarapari, a Associação de Moradores do Centro (Amocentro), o Conselho Interativo de Segurança, além de outras instituições.
O grupo tem por finalidade detectar problemas no município, apresentar diagnósticos de prevenção, apresentar soluções às demandas e promover ações em conjunto para a melhoria da segurança, com o intuito de obter resultados imediatos ou de médio e longo prazo.
O projeto foi idealizado pelo major Miranda. Segundo ele, que na época era subcomandante do 10º BPM, a ideia era reunir os diversos atores capazes de influenciar, de alguma forma, na eliminação de fatores de riscos e na consequente construção de ambientes mais seguros.
“Não basta a atuação da polícia. Existem variáveis com forte influência sobre a segurança pública, sob responsabilidades de outros órgãos. Criar ambientes mais seguros é distribuir responsabilidades e atuar proativamente na eliminação de fatores que criam condições para o aparecimento do crime e da violência”, ensina o major Miranda.