O titular da Delegacia de Homicídio e Proteção à Mulher (DHPM) do Espírito Santo, delegado Adroaldo Lopes, passou uma semana no olho do furacão. Desde o dia 21 de setembro, quando a dançarina Alini Gama, 21 anos, assassinada covardemente pelo caminhoneiro Deivid Correia da Silva, ele e sua equipe se debruçaram sobre provas técnicas e testemunhais e elucidaram o crime em menos de uma semana. Prenderam o assassino e os mandantes – os também dançarinos Juliermeson Bastos Vieira, 20, e Adayane Matis de Aguiar, 20, namorada do assassino.
Mas uma vez, o carioca Adroaldo Lopes, que está radicado no Espírito Santo há um bom tempo – desde que assumiu o cargo de delegado de Polícia Civil, aprovado em concurso público –, deu conta do recado.
O trabalho dele é reconhecido nacionalmente e neste domingo (30/09) será destaque no Fantástico, da Rede Globo, que enviou uma equipe a Vitória para acompanhar o desenrolar das investigações do assassinato da dançarina.
Na sexta-feira (28), após concluir o inquérito do assassinato da jovem dançarina e enviar o relatório à Justiça, o delegado Adroaldo Lopes atendeu ao Blog do Elimar Côrtes, onde falou sobre a fama negativa do Espírito Santo de liderar o ranking nacional de violência contra mulheres – o Estado registra taxa de 9,6 homicídios de mulheres para cada 100 mil habitantes, segundo o Mapa da Violência 2012 do Ministério da Justiça:
“Quando eu morava no Rio, sempre ouvia dizer que no Espírito Santo a coisa era resolvida na bala. O que temos a fazer é mudar esta cultura…Enfim, temos um Governo que pensa dessa forma”, disse o delegado Adroaldo Lopes.
Desde que a Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher foi instalada, em 3 de setembro de 2010, 204 inquéritos relativos a assassinatos praticados contra mulheres foram abertos. Deste total, 138 já foram esclarecido pela equipe do delegado Adroaldo Lopes e encaminhados à Justiça.
Blog do Elimar Côrtes – Durante dois anos de atuação, o trabalho da DHPM já evitou que mulheres fossem assassinadas?
Adroaldo Lopes – Na verdade a DHPM apura crime de homicídio consumado. É lógico que com a prisão de vários homicidas que já fizemos, com certeza já evitamos que tenham cometidos outros crimes de homicídio, inclusive contra mulheres.
– Pela sua experiência como delegado de Polícia, a que podemos atribuir esse grande número de crimes contra a mulher em nosso Estado?
– Na verdade, o nosso Estado possui um histórico negativo de crime de homicídios. Quando eu morava no Rio, sempre ouvia dizer que no Espírito Santo a coisa era resolvida na bala. O que temos a fazer é mudar esta cultura. Isso se faz com políticas de Governo. Sempre se falou em segurança pública como problema de Polícia. Não é verdade, segurança pública é politica de Governo. Enfim, temos um Governo que pensa dessa forma. Pena que os frutos da atual política talvez não sejam colhidos pelo atual Governo.
– O senhor acaba de elucidar um homicídio que, aparentemente, seria de difícil solução. O criminoso estava numa moto e de capacete. Foi o caso da morte da dançarina Alini. Como foi chegar ao assassino e às demais pessoas envolvidas no homicídio?
– Hoje o delegado que não usar a Inteligência está fadado a contar somente com a sorte. Sorte de uma informação pela denúncia anônima. Sorte pela informação de uma testemunha, etc. A investigação hoje tem que ser feita com o Serviço de Inteligência e para isso precisamos contar com os meios que nos são fornecidos. Infelizmente, nos dão uma carteira e um título de policial e falam: “Vai, investiga!”. Não é assim, precisamos de meio.
Imagina você se trabalhando como repórter teu chefe te fala: “Vai, faz essa reportagem”, mas não te dá meios (transporte, câmera, telefone…etc). É preciso flexibilizar às informações, não é mais possível dizer que ter acesso a uma conta telefônica ou ao reverso das chamadas seja quebra de sigilo.
Na minha opinião, esse tipo de informação tem que estar ao alcance da Polícia e sob controle do Poder Judiciário. Isso daria celeridade às investigações e maior produtividade. O problema é que os nossos políticos, aqueles que fazem às leis, não querem isso. Na verdade, eles têm medo de provar do próprio veneno.
– O senhor diria que esse um típico ato (assassinato da dançarina) de covardia?
– Sim, com certeza. Quando um ser humano decide que para ele subir na vida tem que matar as pessoas que estão no seu caminho, Só Deus pode salvar.
– O senhor defende mudança no Código Penal Brasileiro como forma de se aumentar as penas para assassinos de mulheres? Ou para qualquer tipo de assassino? O que poderia, na sua avaliação, segurar um assassino condenado na cadeia? Seria acabar com a progressão de pena?
– As nossas leis, de uma maneira geral, são boas. O que precisamos é diferenciar, DIREITO e DEVERES.
Se nossas penas fossem cumpridas, na impunidade não teria lugar. Hoje, infelizmente, entre fazer mais presídios e soltar os presos, a segunda opção é a escolhida.
Espero que não se pense assim com a saúde. Imagine se entre disponibilizar mais leitos, ou deixar o paciente morrer, resolverem escolher a segunda.
– O assassinato da dançarina Alini virou tema nacional.
– Esse crime (dançarina) foi tão horrível, do ponto de vista ético e moral com relação à motivação, que causou uma comoção nacional. Foi divulgado em vários jornais de alcance nacional. A ponto da Rede Globo deslocar uma equipe ao Estado para fazer uma reportagem para o Fantástico.