Quando um grupo de empresários pediu há uma semana, em A Tribuna, um choque de ordem na segurança pública, parecia já estar prevendo o aumento do caos nas ruas da Grande Vitória. Num intervalo de 24 horas, uma mulher foi vítima de latrocínio e outra, de tentativa de latrocínio. Três dias antes, um outro jovem também havia sido vítima de latrocínio – quando bandidos matam a vítima para roubar.
O latrocida é uma das piores espécies de seres humanos. Eles já vão para o assalto com a arma engatilhada. A desculpa dada por advogados dos bandidos, que dizem que “eles atiraram porque se assustaram com a vítima”, é mentirosa. É para enganar trouxas. O latrocida vai disposto para roubar e matar. Quem se assusta é a vítima; não o bandido.
Diferente do que algumas autoridades possam imaginar, a presença da Polícia Militar nas ruas inibe (e também evita) assaltos. A PM do Espírito Santo sofre hoje com a falta de efetivo.
O governo tem vindo a público, por intermédio de seu secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Henrique Herkenhoff, para reconhecer a escassez de policiais militares. Ao mesmo tempo, tem garantido que a reposição acontecerá todos os anos, com a realização de concursos para soldados.
Mas a espera por concursos não resolve o problema, que acontece agora, neste momento. É preciso, sim, um choque de ordem nas ruas da Grande Vitória. O secretário Herkenhoff talvez já tenha reconhecido a necessidade, ao declarar, na edição desta quinta-feira (15/03) de A Tribuna, que “o problema é grave, que não surgiu recentemente. Colhemos o que foi plantado há cerca de 20 anos”.
A segurança pública, de fato, colhe hoje o que os antecessores de Renato Casagrande – principalmente o petista Vitor Buaiz e Paulo Hartung (PMSDB). O primeiro foi responsável por um dos priores momentos da segurança pública que o Estado conheceu. Teve a coragem de nomear como secretário de Segurança Pública um deputado estadual-delegado que havia sido sócio da extinta Scuderie Le Cock.
Já Hartung, que tanto benefícios trouxe para o Estado, principalmente para a economia, virou as costas para a segurança em boa parte de seu governo. Deixou para realizar concursos somente nos dois últimos anos – ele governou por oito anos.
Acabou com a Polícia Interativa e ainda desmantelou um dos poucos legados deixado por seu antecessor, José Ignácio Ferreira, que foi o Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública (Propas).
Paulo Hartung queria que a segurança pública tivesse a sua cara ou a de seu secretário da Segurança Pública, Rodney Miranda. E teve: a cara da incompetência e da soberba.
Por isso, hoje, o governador Renato Casagrande e Henrique Herkenhoff “colhem o que foi plantado há 20 anos”. Entretanto, Casagrande e Henrique Herkenhoff devem lembrar da máxima que se aprende em administração de empresas: quem assume o ativo, leva junto o passivo.
Eles são, portanto, responsáveis diretamente pelo sucesso e pelo fracasso da segurança pública. E, por esse motivo, vêm cobrando com insistência do comandante geral da PM, coronel Ronalt Willian, e do chefe de Polícia Civil, delegado Joel Lyrio, o papel que as instituições devem protagonizar e de maneira unida.
O primeiro é lembrado sempre que lugar de policiais militares é nas ruas, fazendo o policiamento ostensivo; o segundo é cobrado com freqüência que o Estado deve melhorar as investigações.
Essas lembranças, entretanto, não significam que a Polícia Civil deve deixar de lado um papel também operacional. Hoje não se vê mais investigadores e delegados da Divisão de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio realizando operações nas ruas ou em bairros onde, notadamente, se escondem quadrilhas de assaltantes ou onde mais ocorrem assaltos.
Se a lei fala que à PM cabe o policiamento ostensivo, mas ela não vem dando conta, que vá para o espaço a lei. A partir de agora, a Polícia Civil pode e tem condições de ir também para as ruas inibir assaltos. Afinal, a PC já recebeu 312 novos investigadores há uma semana. O momento é de necessidade e não de burocracia.
As Superintendências de Polícia Especializada e Metropolitana já deveriam ter estudos que mostram onde há necessidade de as delegacias e divisões especializadas fazerem operações diárias em busca de bandido foragidos.
Já a PM vai para as ruas basicamente com seus praças. Porém, inúmeros outros praças e oficiais trabalham em setores administrativos.
O choque de ordem pleiteado pela sociedade exige um esforço coletivo: que o Comando Geral da PM determine, pelo menos por alguns dias da semana, a redução de serviços administrativos e ponha um maior número de praças e oficias nas ruas. Seria a volta da chamada “Operação Fecha Batalhões”.
O choque de ordem na segurança pública pode ser adotado por qualquer polícia. O que o povo quer ver é a polícia na rua, não importa qual.
Prender o assaltante depois que ele atira na vítima é importante. Palmas para a polícia. Mais importante, porém, seria evitar o crime.
Como dizia o coronel PMES Michel Bassul, que por muitos anos comandou com eficiência, autoridade e linha dura o policiamento ostensivo da Grande Vitória, ”a polícia tem que perseguir o não fato”.
Depois do fato, a polícia só chegará para apagar incêndios. E apagar incêndios significa também prender o criminoso.
Aí o estrago já foi feito: vide as três últimas vítimas dos latrocidas.