A Polícia Civil está investigando o envolvimento do perito criminal Celso Marvila Lima no assassinato do sargento PM Marcos Antônio Garcia da Silva, ocorrido há dois anos. A equipe do delegado de Santa Maria de Jetibá, Diego Bermond, onde ocorreu o crime, chegou ao nome de Marvila após a prisão do comerciante Romar Gums, de 35 anos, o Mazinho – condenado pela acusação de tráfico de drogas –, que teria sido o pistoleiro que, usando uma luneta em um rifle, atirou no sargento Marcos Garcia. O assassino utilizou, assim, aparelho de pontaria usado por sniper.
A Polícia Civil acredita que o policial Marcos Garcia foi vítima de crime de mando e um dos suspeitos de ser o mandante seria o ex-prefeito da Serra, Adalton Martinelli, condenado por ser também o mentor intelectual do assassinato do advogado Carlos Batista de Freitas, crime ocorrido há 27 anos.
Lotado no Grupo de Apoio Operacional da Polícia Militar, o sargento Marcos Garcia foi baleado com um tiro na cabeça às 14h30 do dia 8 de fevereiro de 2017, no início da “greve” dos PMs capixabas, quando estava na porta de uma loja lotérica, localizada na Rua Florêncio Augusto Berger, em frente à Secretaria de Cultura de Santa Maria de Jetibá. Socorrido, ele foi transferido para um hospital de Vitória e morreu no dia 18 do mesmo mês.
O comerciante Mazinho, que possuía na ocasião uma oficina de serralheria na cidade, foi preso numa operação das Polícias Civil e Militar no dia 24 de março de 2017, quase um mês após a morte do sargento. Consta no Auto de Prisão em Flagrante, analisada pelo juiz Salim Pimentel Elias, da 2ª Vara de Santa Maria de Jetibá, em Audiência de Custódia, que, em cumprimento a mandado de busca e apreensão (processo nº 0000287-97.2017.8.08.0056), “a Polícia se dirigiu Rua Henrique Potratz, nº 210, Centro, Santa Maria de Jetibá/ES, residência do flagranciado, tendo sido apreendidos, no interior e nas áreas externas do imóvel: a) 200 munições intactas, calibre ponto 22; b) um soco inglês; c) quatro munições deflagradas, calibre 22; d) uma luneta Bushmaster 20-60×60; e) 92 munições intactas, calibre 22; f) um artefato explosivo improvisado; g) um rifle CBC calibre 22, modelo 7022, número ELL 3611176, com um (01) carregador; h) quantia indeterminada de pólvora negra; i) seis pedras pretas e uma translúcida, de naturezas desconhecidas; j) uma besta, marca Jaguar; k) cem cápsulas deflagradas, calibre 22; l) uma munição intacta, calibre 36; m) uma carcaça de roedor enterrada, possivelmente uma paca; n) uma peça de coxa de uma animal pequeno, possivelmente paca; o) 27 pedras pequenas e uma pedra grande de substância análoga a crack; p) sete buchas de substância semelhante a maconha; q) duas pedras de substância semelhante a crack; e r) dois reboques, um para carga geral e o outro para transportar pequenas embarcações, ambos com a mesma placa (MSO5547).
Na época da operação policial, o delegado Diego Bermond já suspeitava do envolvimento de Mazinho na morte do PM Marcos Garcia. Tanto que, em interrogatório, o condenado por tráfico foi indagado a respeito do crime e deu as seguintes declarações:
“Que conhece de vista a pessoa do sargento Marcos Garcia, ex-integrante do GAO de Santa Maria de Jetibá/ES, pois o militar cumpriu pelo menos um mandado de busca na casa do interrogado; que nunca foi abordado em outras oportunidades pelo sargento Garcia; que nunca teve qualquer tipo de desentendimento o referido policial; que nunca disse em qualquer oportunidade que iria pegar o policial Garcia”.
O delegado encerrou o Inquérito Policial relativo às apreensões feitas na casa de Mazinho e continuou com a investigação do assassinato do sargento Marcos Garcia. Diego Bermond solicitou e a Justiça acolheu pedido da quebra de intercepções telefônicas do traficante Mazinho.
Nas ligações interceptadas, a Polícia Civil constatou conversas entre o condenado por tráfico Romar Gums, o Mazinho, e o perito criminal Marvila, em que o ex-prefeito Martinelli também é citado. Pelos diálogos, fica nítida a ligação de amizade entre o policial civil Marvila e o homem condenado por tráfico, Romar Gusmam, o Mazinho.
A Polícia, no entanto, não pode passar mais informações porque o Inquérito Policial que investiga o assassinato do sargento Marcos Garcia tramita em segredo de justiça.
Todavia, foi com base nas interceptações telefônicas que a Justiça de Santa Maria de Jetibá, acolhendo pedido do delegado Diego Bermond e parecer favorável do Ministério Público Estadual, decretou a prisão de Marvila na semana passada, conforme o site Blog do Elimar Côrtes informou com exclusividade.
Em função da prisão em flagrante de Romar Gums, o Mazinho, com farto material bélico, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo o denunciou à Justiça, imputando a ele a prática dos crimes de tráfico de drogas (art. 33 da Lei n° 11.343/06), adulteração de sinal identificador de veículo automotor (art. 311 do CP), posse irregular de arma de fogo e/ou munição de uso permitido e artefato explosivo (arts. 12 e 16, parágrafo único, III, da Lei n° 10.826/03).
Denúncia aceita, Mazinho foi condenado pelo juiz Salim Pimentel Elias apenas pelas práticas dos crimes no artigo 33, caput, da Lei n° 11.343/06 e artigo 311 do Código Penal. Pelo tráfico de drogas, pegou seis anos de prisão e, pela adulteração de sinal identificador de veículo automotor, três anos totalizando, assim, nove anos de reclusão e regime fechado. O magistrado absolveu o réu nas demais sanções (posse irregular de arma de fogo e/ou munição de uso permitido e artefato explosivo).
Ex-prefeito já foi condenado a 23 anos de cadeia por morte de advogado
O ex-prefeito Adalto Martinelli encontra-se em liberdade, mas responde a outras ações penais. Em 13 de dezembro de 2009, ele foi condenado a 23 anos de prisão pela acusação de ser um dos mandantes do assassinato do advogado Carlos Batista de Freiras, ocorrido em 1992.
Em 2012, a Justiça da Bahia já havia determinado a extinção de punibilidade em favor de Martinelli, último réu ainda vivo do processo do assassinato do também ex-prefeito serrano José Maria Miguel Feu Rosa e seu motorista, Itagildo Coelho de Souza.
A decisão de extinguir o processo foi tomada pela juíza de Direito Substituta Karina Silva de Araújo. Na sentença de extinção de punibilidade da pena, dentro dos autos de número 0000088-79.2003.805.0111, a juíza informa que se trata de um processo de crime aviado pelo Ministério Público do Estado da Bahia contra Adalton Martinelli e outros, por terem, em tese, praticado o crime previsto no art. 121, § 2º, inciso I e IV do Código Penal (por duas vezes), em foram vítimas Itagildo Coelho de Souza e José Maria Miguel Feu Rosa, pelo quais foram pronunciados. O crime ocorreu em 8 de junho de 1990.