A pandemia assusta pela extensão de vivências que, de uma hora para outra, incorporaram-se ao nosso dia a dia. Assusta pelas vidas perdidas, pela dor, pelo sofrimento generalizado. Pela impotência diante da ameaça invisível, pelas incertezas do dia seguinte, pela ansiedade de quando voltaremos a ter uma vida dita normal e segura. Assusta, ainda, pelo caos social decorrente, sobretudo, da brutal redução da atividade econômica e suas consequências, tais como desemprego e endividamento público e privado.
Como as eleições municipais estão muito próximas, o exercício via reflexão é que nunca foi tão fundamental a ascensão de um líder dotado de inteligência emocional, afeito ao planejamento e à necessidade de adequar esse planejamento às circunstâncias que se apresentem. Outra habilidade desejável do administrador municipal é saber motivar equipe e munícipes, administrando as pressões, tensões e conflitos do cotidiano sempre com calma e maturidade.
A capacidade de comunicação será outro fator fundamental. Ao administrador caberá ser claro, assertivo, definir metas individuais e coletivas, sempre ouvindo e avaliando o contraditório, demonstrando confiança, entusiasmo, educação e engajamento, para que seus colaboradores adotem igual postura. A proatividade será, enfim, uma exigência ímpar para o enfrentamento da crise. Aqueles que agirem reativamente estão fadados ao fracasso.
O que vemos, hoje, é a busca do necessário ponto de equilíbrio entre salvar vidas da Covid-19 e a preservação da economia. Evidentemente que, em qualquer circunstância, salvar vidas é o mais importante.
Qual a lição que fica? Olhar para trás é fácil! Dizer que o isolamento foi precipitado e que deveria ter sido retardado e aplicado mais adiante é um diagnóstico relativamente cômodo. Na pandemia é diferente, principalmente em uma situação nova e quase inimaginável, que tomou a todos de surpresa.
Na esfera sanitária, os hábitos que a pandemia nos impeliu a adotar deverão permanecer por longo tempo, especialmente porque nem todos podem “ficar em casa”. Para a vida nesse novo mundo, que provavelmente será cada vez mais conectado pela tecnologia, é preciso haver melhorias significativas nas políticas de saúde pública.
E quanto à crise econômica? A saída está em uma travessia de grandes desafios para os gestores municipais. Mais do que nunca, os resultados exitosos estarão intimamente ligados à preparação prévia com planejamento. É como um carro capaz de imprimir uma velocidade máxima de 80km/hora quando a necessidade exigirá 120km/hora. A pressão será imensa e imediata, desde cada cidadão se reinventando em sua seara particular até o setor público, onde não se admitirão administradores que improvisam e agem reativamente.
Assim, espera-se dos futuros administradores públicos municipais uma sólida formação e experiência em gestão. Eles deverão contar com a assessoria de uma equipe técnica afinada e capaz de dar respostas eficazes no gerenciamento de recursos, custos, projetos e prioridades.
Como a história nos ensina que é na crise que vemos aflorar o melhor e o pior das pessoas, com um plano de governo eficiente e competente as chances de êxito serão mais alcançáveis, nos remetendo à citação do ex-presidente americano John Kennedy que afirmou: “A dificuldade é uma desculpa que a história nunca aceita”.
O gestor será julgado pelos resultados conquistados. Não poderemos apostar em meros improvisadores, sob pena de termos que pagar alto preço por isso. A desculpa das dificuldades iminentes e previsíveis não vale. Isso a história não aceita. Mas registra.
(Roberto Martins – Pós-graduado em História Social pela UFES, Educador Ambiental; Capitão PM RR e ex-secretário Municipal de Meio Ambiente de Guaçuí-ES)