O soldado Willyan Muniz, do Grupo de Apoio Operacional (GAO) do 14º Batalhão da Polícia Militar (Ibatiba), é um dos heróis que ajudaram a resgatar e salvar a vida de sete jovens que ficaram ilhados em uma cachoeira, no município de Iúna, Região do Caparaó, depois que uma forte chuva isolou a área. O grupo, que é de Manhuaçu (Minas Gerais), município vizinho, foi resgatado na manhã de domingo (14/12).
As fortes chuvas que caíram no final de semana deixaram os sete jovens, que estavam acampados na Cachoeira do Chiador, em risco. Por volta das 1h02, o 190 da Polícia Militar recebeu uma ligação de um jovem relatando que ele e um grupo de amigos de Manhuaçu estavam no local quando foram surpreendidos com o nível do rio, sendo impossibilitados de saírem da área.
O soldado Willyan Muniz faz um relato, para o Blog do Elimar Côrtes, do drama também vivido pela equipe comandada pelo tenente PM Rodrigues e pelos militares do Corpo de Bombeiros, que se deslocaram de Marechal Floriano e foram até a cachoeira resgatar os sete mineiros.
“Esses homens estão preparados para colocar em risco suas próprias vidas para proteger a sociedade”
“Chegávamos à sede do 14º Batalhão (Ibatiba) para encerrar o serviço quando o tenente Rodrigues, o Comandante do Policiamento da Unidade (CPU) daquele dia (sábado, 13/12), disse que tinham sete pessoas presas na Cachoeira do Chiador, no município de Iúna, e estavam correndo risco de serem carregados cachoeira abaixo pela forte correnteza que se formara após uma ‘tromba d´água’ que caiu por voltas 23 horas, surpreendendo as vítimas que só tiveram tempo de se salvar.
Segundo o tenente Rodrigues, uma das vítimas teria relatado, pelo celular, que já estavam dormindo quando começou uma chuva muito forte e eles começaram a escutar um estrondo muito grande de água caindo e que em minutos a água tomou conta do chão da barraca e que saíram correndo e subiram em uma pedra. O rapaz disse que só viu a água subindo muito rápido e foi carregando tudo; as barracas, alguns pertences e até uma motocicleta, com que os jovens chegaram ao local. Neste momento, um dos jovens ligou para o 190, dizendo que todos estavam muito desesperados e com muito medo.
Nossa equipe, de imediato, seguiu para o local acompanhada do tenente Rodrigues. Como não tínhamos equipamentos para o resgate, passamos na casa dos soldados Robson e Rodolfo e pegamos cordas que eles utilizam para prática do rapel e seguimos para a ocorrência.
Chovia muito, e o acesso até o distrito de Santa Clara é todo em estrada de chão (ainda bem que nossa P4, sob o comando do major Jomilson, disponibilizou dias antes uma caminhonete Ranger 4×4 para nosso GAO, senão jamais teríamos conseguido chegar ao local). A via mais próxima de chegada ao local estava tomada pela enchente e não havia como passar pela ponte, pois esta estava submersa pelas águas.
Tomamos um caminho alternativo e mais longe. E, assim, prosseguimos até o mais próximo do local. Desembarcamos da viatura e o tenente Rodrigues e o soldado Castilho ficaram encarregados de buscar o Corpo de Bombeiros, que já fora acionado, e ser o nosso ponto base para comunicação.
Entraram mata fechada adentro o cabo Sales e os soldados Teixeira e Rodrigues. Após uma hora de incursão na mata, chegaram até o ponto onde os jovens deixaram o carro que vieram. Para nossa surpresa, os jovens tinham aparentemente ido para o ponto mais perigoso da cachoeira, onde já havia históricos de mortes. Continuamos seguindo mata adentro, porque o caminho por onde se segue normalmente, estava tomado por água.
Após umas duas horas de incursão abrindo caminho na mata fechada, atingimos a margem do rio, uma laje imensa de pedra, usada para as pessoas deslizarem (chiador) até o posso d´água abaixo, que dá nome à cachoeira, mas não visualizamos ninguém. Voltamos mata adentro e atingimos a laje de pedra próxima à cachoeira. A cena que vimos foi apavorante até mesmo para nos acostumados com situações assim: um volume imensurável de água descia da cachoeira que antes era dois pequenos fios d´água, um estrondo ensurdecedor, e muita água descia formando uma correnteza muito forte.
Não conseguimos visualizar ninguém, quanto menos escutar. Mas começamos a subir o lago de pedra jogando feixes de lanterna em todas as direções no intuito das vitimas visualizarem. Após alguns minutos ouvimos uma fraca voz gritando “AQUI”. Seguimos em direção à voz e, enfim, encontramos as vítimas, no alto de uma pedra em meio à mata e ilhados pelas águas.
Após encontrá-los, um dos policiais ficou ali para marcar com a lanterna o ponto onde eles se encontravam, enquanto os outros dois militares tentavam abrir uma trilha mata adentro até chegar por cima de onde estavam os jovens. Porém, o esforço foi em vão, pois havia uma grande pedra no caminho. Os dois militares voltaram até o local e traçamos o plano de um militar ficar para dar tranquilidade às vitimas enquanto os outros dois voltariam ao ponto base para ver se os bombeiros haviam chegado.
Quando os militares chegaram ao ponto base, o soldado Castilho informou que o Corpo de Bombeiros havia chegado ao local, mas estava a quatro quilômetros do ponto base, pois a viatura deles não tinha condições de chegar ao local devido à falta de tração.
O soldado Castilho e o tenente Rodrigues deslocaram com nossa viatura do GAO até onde estavam os bombeiros e trouxeram o sargento BM Miguel, o cabo BM de Souza, o cabo BM Fardim e o soldado BM Guilherme Perin, do Corpo de Bombeiros de Marechal Floriano, que seguiram com os outros dois militares pela trilha aberta até chegar o local onde estavam as vítimas.
Já eram 5 horas de domingo quando a equipe do Corpo de Bombeiros conseguiu chegar ao local. Ainda estava escuro e o sargento Miguel achou melhor aguardar o dia clarear, pois, além da delicadeza da situação, o local onde se encontravam as vítimas era de difícil acesso. Seria mais seguro o resgate se a gente esperasse mais um pouco. Mas, enquanto o dia não clareava, os militares do Corpo de Bombeiro começaram a montar os equipamentos para o resgate, pois cada segundo seria imprescindível para o sucesso da operação.
Quando os primeiros sinais de luminosidade apareceram o cabo BM Fardim e o soldado Guilherme Perin iniciaram o resgate em meio à mata e as margens da cachoeira. Com a forte correnteza bem próxima dos seus pés, o risco de vida tanto dos bombeiros quanto das vitimas ainda era muito grande.
Em alguns minutos todas as sete vitimas foram resgatadas sãs e salvas e sem nenhum arranhão pelos valorosos homens do Corpo de Bombeiro Militar.Todos foram encaminhados ao ponto base, após confirmar que todos estavam bem e em condições. Todos foram encaminhados ao Pronto Atendimento de Itatiba para serem avaliados por um equipe médica e foram liberados e no mesmo dia voltaram para sua cidade.
A ação conjunta entre o Corpo de Bombeiros Militar e o Grupo de Apoio Operacional (GAO) da Polícia Militar foi imprescindível para o resultado positivo da operação. Esses homens são comprometidos e estão sempre prontos para qualquer missão, independente de hora, dia ou condições do tempo. Estão preparados para colocar em risco suas próprias vidas para proteger a sociedade.”
(Depoimento do soldado PM Willyan Muniz, do 14º Batalhão).