Já era pouco mais de 1 hora desta quarta-feira (20/06) quando o juiz Jorge Orrevan Vaccari Filho, do Tribunal do Júri da Comarca de São Mateus, Norte do Estado, leu a sentença em que condena a prisão duas das três mulheres acusadas de ajudar traficantes a matar dois policiais militares há sete anos. Ediana Lacerda Machado pegou 32 anos de reclusão, enquanto sua parceira, Maria Adriana de Oliveira, foi condenada a 29 anos. A terceira acusada, Katiane Cristine Sales, foi absolvida pelos jurados.
As duas mulheres, segundo denúncia do Ministério Público Estadual, ajudaram uma gangue a matar, com tiros na cabeça, o sargento da Polícia Militar Adalberto da Cunha Júnior, 47 anos, e o cabo PM Altamiro Paulino Sodré, 43. O duplo homicídio ocorreu em 9 de dezembro de 2005.
A sentença de condenação foi lida pelo juiz Jorge Orrevan Vaccari Filho à 1h05 desta quarta-feira. O julgamento havia se iniciado na terça-feira de manhã: “É mais uma alívio para todos nós”, comentou Maria Lucimar Goltara, viúva do cabo Sodré.
No dia 18 de abril deste ano, o Tribunal do Júri de São Mateus já havia condenado os traficantes que também mataram o sargento Adalberto e o cabo Sodré. São eles: Marcionílio Rodrigues de Paula foi condenado a 40 anos de prisão; Flávio Correia Cristal pegou 39 anos e seis meses; e Renato Gomes Rodrigues foi sentenciado a 43 anos e oito meses. Os três, que já se encontravam presos, foram condenados a regime fechado. Já Katiane e Ediana, que estão soltas, ganharam o direito de recorrer da sentença em liberdade.
Para o vice-presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo (ACS/PMBM/ES), cabo Roberto Caetano, que vem acompanhando o caso desde 2005, o sentimento de justiça foi feito: “Sentimos que justiça foi feita. O importante é que essa tragédia não está ficando impune”.
Já o diretor Flávio Gava afirmou que mais uma vez o Judiciário capixaba dá exemplo de que crimes não vão ficar mais impunes no Estado. “Esses assassinos têm que pagar pelo que fizeram com dois valentes militares. Mataram o sargento Adalberto e o cabo Sodré e destruíram duas famílias. Eles não só mataram dois guerreiros, como atingiram o próprio Estado. Têm que pagar com a prisão”.
No dia 9 de dezembro de 2005, a Polícia Civil pediu à Polícia Militar que enviasse uma guarnição para buscar Marcionílio, que estava preso no cadeião da cidade, que funcionava anexo ao DPJ de São Mateus.
A intenção era levar Marcionílio, que estava preso por tráfico de drogas, a um consultório dentário. O preso alegou que estava com problema dentário. Ao chegarem ao consultório, porém, o sargento Júnior e o cabo Sodré – designados pelo comando da PM local a fazer a escolta do presidiário – foram interceptados por bandidos armados de pistolas, que atiraram nos policiais e os mataram com tiros na cabeça.
Os criminosos resgataram Marcionílio, mas logo em seguida outras equipes da PM entraram em ação e cercaram as principais ruas do centro de São Mateus. Um dos acusados foi morto na troca de tiros e os demais acabaram sendo presos.
Marcionílio confessou que havia tramado o resgate por intermédio de telefone celular que foi entregue para ele dentro do DPJ de São Mateus e em encontros pessoais que mantinha com sua mulher, Ediana, que o visitava quase que diariamente no DPJ.
Em agosto de 2011, a Justiça estadual já havia condenado, em primeira instância, o Estado do Espírito Santo a pagar indenização mensal às famílias do sargento Júnior e do cabo Sodré.
As duas sentenças, dadas pelo juiz Flávio Brasil Fernandes Reis, da 4ª Vara Cível de São Mateus, foram assinadas no dia 15 de agosto. O magistrado entendeu que o Estado falhou e por isso os militares foram mortos na emboscada.
Flávio Brasil concluiu ainda que, embora soubesse do plano de resgate a um presidiário, a Polícia Civil não comunicou o fato à Polícia Militar.