Conciliar a vida de mãe, de esposa, os cuidados com a família e os desafios de uma carreira que é, predominantemente, exercida por homens não é uma tarefa fácil. Mas a delegada de Polícia Denise Carvalho e a investigadora de Polícia Giovana Juliatti fazem isso há mais de 20 anos.
Juntas, as duas contabilizam mais de 40 anos atuando na Polícia Civil do Espírito Santo (PC-ES). Denise Carvalho ingressou na Polícia em 1999 e, atualmente, ocupa o cargo de chefe da Superintendência de Polícia Especializada (SPE).
“Hoje, essa é a maior Superintendência da Polícia Civil. São, aproximadamente, 600 policiais que atuam nas unidades especializadas do Estado. É um desafio muito grande comandar todas essas pessoas, em sua maioria, homens, mas não tive problemas nisso pelo fato de ser mulher”, relatou.
A delegada conta que nem sempre foi assim. “Antes de ser delegada aqui no Espírito Santo, fui investigadora de polícia durante oito anos na Polícia Civil de Minas Gerais. Entrei muito nova e fui trabalhar na Divisão de Tóxicos e Entorpecentes, considerada uma unidade de ponta. Como a sociedade mineira é muito machista, eu sofri sim preconceito nessa época”, disse.
Ela conta que quando passou no concurso de delegado no Espírito Santo, há mais de 20 anos, também sentiu um pouco de resistência por parte das pessoas. “No início da carreira, quando trabalhava na Delegacia de Homicídios, eu ia a locais de crime e quando eu chegava as pessoas e os próprios policiais civis e militares diziam: ‘Ah, você que é a delegada?’ ou ‘Gostaria de falar com um delegado’”, lembrou.
Já a investigadora Giovana Juliatti conta que, quando ingressou na Polícia em 1998, a discriminação existia pelo fato de ela ser nova na instituição e por ser mulher.
“No meu caso, eu tive sorte porque fui para Cariacica e lá o chefe de investigação tratava todos com igualdade e, por ele ser assim, os outros policiais também faziam igual. No entanto, já ouvi inúmeros relatos de colegas minhas dizendo que sofreram algum tipo de discriminação”, revelou ela, que, após 21 anos de atividades, sendo 18 deles trabalhados no plantão da 4ª Delegacia Regional em Cariacica, aposentou-se em janeiro deste ano.
No entanto, a delegada de polícia Denise Carvalho acredita que essa realidade está mudando.
“Desde que ingressei na polícia, a mulher vem cada vez mais conquistando o seu espaço, principalmente nos últimos 10 anos. No início da carreira todos reparam mais a aparência e isso gera um certo preconceito pelo fato de ser mulher. A vaidade feminina pode acabar atrapalhando a nossa carreira. Depois que as pessoas te conhecem e sabem como é o seu trabalho, acabam deixando de lado um pouco essa discriminação, mas é claro que depende também da postura proativa da mulher para romper essa barreira”, avalia.
Giovana Juliatti concorda e também acredita que a postura da mulher faz toda diferença no enfrentamento ao preconceito. “Acredito que a atitude que as mulheres tomam podem facilitar ou dificultar a discriminação no exercício da nossa profissão. Muitas vezes o preconceito era da própria mulher que não queria ir para as operações, por exemplo. No meu caso, sempre que tinha uma eu ia e, com o tempo, eu fui conquistando o meu espaço. A população acha legal o fato de uma mulher fazer esse serviço que, até pouco tempo, era exclusivo dos homens”, afirmou a investigadora de polícia.
Para Denise, as pessoas estão mudando a sua concepção de que o policial tem que ser aquele homem forte e truculento. “Hoje em dia nós contamos muito mais com a perspicácia dos policiais e também com a tecnologia para nos ajudar nas investigações e a utilização desses recursos independe do sexo”, ressaltou.
Mãe de um filho, a delegada conta que enfrenta reclamações por parte dos familiares devido à sua ausência na convivência diária e por conta do estresse da profissão.
“Mesmo sendo casada com um policial e tendo um irmão que também segue a carreira, eles têm certa dificuldade para entender a minha vida. O que eu digo a eles é que a Polícia é a minha maior paixão e como sabem disso, me entendem e respeitam”, afirmou.
Para a investigadora de polícia não foi muito diferente. Mãe de duas filhas, Giovana Juliatti conta que, ao longo da carreira, perdeu muitas datas comemorativas e era cobrada pela família, em especial, pelas filhas.
“Não é fácil conciliar, principalmente, porque eu era o pai e a mãe, mas sempre fui muito otimista e explicava pra elas que o meu trabalho era o nosso sustento. Falava que naquele dia eu não estava com elas, mas que nos próximos três estaria, me referindo às folgas. Elas se acostumaram a me ver trabalhando no plantão. As pessoas estão vendo as mulheres com outros olhos. Estamos conquistando, cada vez mais, nosso espaço no mercado de trabalho, na política e muitos homens nos apoiam e querem que andemos juntos. Estamos mostrando que somos capazes de fazer o que quisermos. É isso que eu passo para minhas filhas”, concluiu.
Em Guarapari, homenagem da Polícia Militar ao Dia Internacional da Mulher
Na manhã de sexta-feira (06/03), policiais militares da Seção de Trânsito do 10º Batalhão prestaram uma homenagem às mulheres de Guarapari em alusão ao Dia Internacional da Mulher.
Para isso, foi montada a mesma estrutura utilizada para a realização de uma blitz, contudo, o objetivo não era a abordagem policial. No lugar da documentação do condutor, as policiais entregavam uma caneta customizada com uma flor.
A escolha da caneta, segundo a cabo Geysa, foi pelo fato de ser o objeto de trabalho das guarnições de trânsito, simbolizando assim a atuação dos militares.
Os brindes foram feitos pela própria militar. “Fiz com muito carinho, é um momento especial para todas nós, afirmou a cabo Geysa.
Também em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a capitã Clícia Janaína Coelho Cupertino, atual comandante da 1ª Companhia do 10º Batalhão, foi convidada para um bate papo com cerca de 90 meninas do 6ª ao 9ª ano.
O bate papo aconteceu na Escola Maria Veloso Calmon, situada no bairro Camurugi, em Guarapari, e foi uma solicitação das próprias meninas da escola. “Me sinto honrada e emocionada com o convite, é muito gratificante servir de inspiração para essas meninas”, afirmou a capitã.
A conversa foi direcionada ao empoderamento da mulher, à importância da autoestima, entre outras abordagens. Segundo a pedagoga da escola, momentos como este são marcantes na vida dessas meninas, pois para elas, é muito bom conhecer a história de superação de uma mulher forte e determinada como a capitã Clícia. Acaba sendo uma referência positiva para elas.
Homenagens também do Sindipol/ES
Luta por igualdade, fim da violência contra a mulher, conquista de direitos. Mais do que uma data comemorativa, o Dia Internacional da Mulher deve ser encarado como um registro histórico, um ato de resistência e, sobretudo, um dia para servir de exemplo para repensar atitudes e combater todo e qualquer preconceito de gênero.
Breve contexto histórico para criação do Dia Internacional da Mulher
- Grandes passeatas das mulheres em 26 de fevereiro de 1909, Nova York – aproximadamente 15 mil mulheres marcharam nas ruas da cidade por melhores condições de trabalho. Era comum as jornadas para elas chegarem a 16h por dia, seis dias por semana e, não raro, incluíam também os domingos. Ali teria sido celebrado pela primeira vez o “Dia Nacional da Mulher” americano.
- Agosto de 1910, Copenhague – a alemã Clara Zetkin propôs em reunião da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas a criação de uma jornada anual de manifestações das mulheres pela igualdade de direitos, sem exatamente determinar uma data. O primeiro dia oficial da mulher seria celebrado em 19 de março de 1911.
- Incêndio na Triangle Shirtwaist Company, em 25 de março de 1911, Nova York – 146 pessoas mortas (125 mulheres e 21 homens). Péssimas instalações elétricas, composição do solo das repartições da fábrica e a grande quantidade de tecido em estoque, foram as causas do início e da propagação do fogo. À época, os proprietários das fábricas trancavam os seus funcionários para impedir mobilizações, protestos e greves. Todos os mortos estavam trancados no momento do incêndio.]
- Mobilização operária – a segunda metade do século XIX foi marcada por inúmeros protestos, greves e manifestações contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, na Europa e nos Estados Unidos. Em 08 de março de 1917, trabalhadoras do setor de tecelagem entraram em greve com o apoio dos operários do setor de metalurgia. Esse grande feito das mulheres deu início à Revolução Russa.
- Por fim, em 1975, a Organização das Nações Unidas instituiu o período como “Ano Internacional das Mulheres”, oficializando o dia 8 de março e implementando ações ao combate das desigualdades e discriminação de gênero em todo o mundo.
O Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo parabeniza todas as mulheres pelo Dia Internacional da Mulher, em especial às policiais civis e pensionistas que, com determinação, inteligência e sensibilidade somam forças e contribuem para um Sindipol/ES mais forte na defesa de toda a categoria.
(Com informações dos Portais da PCES, PMES e Sindipol/ES)