O ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, o general de Divisão do Exército Carlos Alberto dos Santos Cruz, classificou, na manhã desta quinta-feira (31/03), como “estapafúrdia” e “fora de qualquer ética” a maneira como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) exonerou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e os três comandantes militares: general Edson Pujo (Exército), almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior (Marinha) e o tenente-brigadeiro Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica).
O anúncio da exoneração foi comunicada aos três oficiais em reunião com o novo ministro da Defesa, general Walter Braga Neto, em Brasília, na terça-feira (30/03). Braga Neto assumiu o posto no dia anterior, no lugar do general Fernando Azevedo e Silva, exonerado por Bolsonaro.
Logo depois das 7 horas desta quinta-feira (31/03), o general Santos Cruz concedeu entrevista ao Programa Jornal da Manhã, da Jovem Pan, em que disse que não vê relação alguma na demissão dos comandantes das Forças Armadas com a atuação dos militares durante a pandemia da Covid-19.
“Mentira deslavada! O trabalho do Exército, Marinha e Aeronáutica é visível para a população e autoridades locais, todo esforço é feito. Em todas as políticas públicas, as Forças Armadas sempre auxiliaram da melhor forma, com dedicação extrema. É assim em época de eleições, em época de vacinação”, disse o general da reserva.
“Governo não se pronunciou, isso era uma questão até de consideração dizer alguma coisa para essas pessoas que dedicaram 45 anos à instituição e dois anos ao governo. Mais uma falha de comunicação e até de educação básica”, completou.
Santos Cruz classificou a troca dos nomes como “inaceitável da forma como que foi feita”. De acordo com ele, reforma ministerial é normal e qualquer governo faz em qualquer tempo, “mas os comandantes militares não fazem parte dessa camada política”, ressaltou.
Santos Cruz acredita que a atitude do presidente Bolsonaro deve ter provocado mais solidez na união das Forças Armadas “porque existe uma cultura de não deixar a política partidária e coisas corriqueiras de política de governo influenciar dentro da instituição”.
Para ele, a possibilidade de um autogolpe também está descartada. “Estão avaliando muito mal as Forças Armadas. Não vão embarcar em uma aventura de jogo político”, disse, sobre o fato de aloprados bolsonaristas estarem sempre defendo golpe militar no Brasil.
O general também afirmou que o ambiente de governo deve ser o mais aberto possível em sua composição.
“Militares também podem colaborar em qualquer governo, mas um excesso mostra deformação na representação social. Você tem pessoas excelentes em todas as áreas. Representação no escalão do governo é fundamental e tem gente capacitada para isso”, disse Santos Cruz.
Posteriormente, o general Santos Cruz concedeu entrevista à CBN. Nela, ele afirmou que a solução do Brasil “não está na porta dos quartéis”. Ao ser questionado se o esforço do presidente Bolsonaro de levar o Exército para a política pode ser a preparação para um eventual golpe, o general afirmou que a solução está no Legislativo, no Judiciário e no Executivo. “Forças Armadas não são poder moderador”.
O ex-ministro acrescentou que a presença de militares na gestão Bolsonaro gera a percepção de que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica estão envolvidos com o governo. “Isso não é positivo para as Forças Armadas. O excesso de militares acaba gerando uma deformação social, já que o País tem gente capacitada em outros setores que poderiam ajudar”, ponderou Santos Cruz.
Em seguida, o general comentou a decisão do Presidente da República de demitir o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e trocar os três comandantes militares. Ele classificou a medida como “estapafúrdia” e “fora de qualquer ética”. O general destacou que retirá-los do cargo sem dar o mínimo de satisfação “é uma desconsideração com as pessoas, com a função, com o cargo e com o público”.
O general Santos Cruz acrescentou que vê na postura de Jair Bolsonaro “deformações de comportamento preocupantes” e “anormais”. Em sua avaliação, isso pode levar a problemas e irresponsabilidades.
“Você pode esperar qualquer coisa porque não é possível que uma pessoa normal tenha esse tipo de reação. O que a gente tem que ficar atento é que pode gerar qualquer surpresa desagradável”, alertou o general.