Investigações sigilosas obtidas com exclusividade pelo Blog do Elimar revelam que o narcotraficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, tramou de dentro de uma prisão federal de segurança máxima o assassinato de um juiz, um promotor de Justiça e um funcionário do alto escalão do governo do Estado do Espírito Santo.
A trama foi orquestrada por Fernandinho Beira-Mar e um dos chefões do tráfico no Estado, José Antônio Marim, o Toninho Pavão, que estava preso na mesma cadeia que o bandido carioca. Eles já tinham até contratado os bandidos que seriam os responsáveis pela execução do crime.
A combinação para a série de assassinatos foi feita dentro da Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, onde Fernandinho Beira-Mar e Toninho Pavão estavam presos. Eles estavam na mesma ala e foram descobertos graças ao monitoramento de escuta feito no presídio.
Embora a descoberta do plano para a execução das autoridades tenha ocorrido em janeiro de 2007, somente agora vem à tona por causa da reportagem publicada na revista Veja, que revela como Fernandinho Beira-Mar comanda, há 10 anos, de dentro da prisão uma grande organização criminosa em todo o Brasil. Segundo a revista, ele manda matar, seqüestrar seus rivais e negocia a compra e venda de drogas e armas.
O Blog do Elimar teve acesso exclusivo às investigações e documentos que estão de posse do Ministério da Justiça e do governo do Estado, que revelam como Fernandinho Beira-Mar e os bandidos capixabas planejaram matar quem combatia (e ainda combatem) o crime organizado no Estado.
Os nomes das autoridades – um juiz de Direito, um promotor de Justiça e um funcionário do governo do Estado, que na época era lotado na Secretaria de Estado da Justiça – estão sendo mantidos em sigilo nesta reportagem como forma de preservar a integridade deles e de seus familiares.
O governo do Estado agiu rápido e sem barulho. Através da Sejus e da Diretoria de Inteligência (Dint) da Polícia Militar e com ajuda da Polícia Federal fez investigações sigilosas, descobriu os bandidos que estavam por trás da organização criminosa que agiam em nome de Fernando Beira-Mar no Estado e os mantém isolados em cadeias até o fim de suas penas. Todos são condenados por tráfico, assassinatos, formação de quadrilha e incêndios a ônibus.
A ação do governo capixaba acabou, inclusive, com a tentativa de assassinato das três autoridades – é bom lembrar que o crime organizado capixaba já havia matado, em março de 2003, o juiz Alexandre Martins de Castro Filho.
Toninho Pavão havia sido preso alguns anos antes pela Polícia Federal. Condenado, foi levado para uma prisão da Grande Vitória, de onde continuou, sem qualquer esforço, exercendo sua forte influência em morros e demais bairros de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e interior do Estado. Influência se traduz com a prática de crimes.
De dentro da prisão, negociava a compra, venda e distribuição de cocaína, maconha, crack e armas pesadas, além de determinar a morte de seus rivais. Para isso, seu xerife do lado de fora da cadeia era o pistoleiro Wether Alves Clímaco, conhecido como Jonh Wayne – nada a ver com o astro americano, que nos filmes só fazia papel de mocinho.
Com seu dinheiro, Toninho Pavão chegou a alugar – em nome de terceiros com ficha limpa, é claro – um avião, no Aeroclube da Barra do Jucu, em Vila Velha, quando fugiu de uma das cadeias de Viana.
Fugiu pela porta da frente, depois de corromper agentes penitenciários e policiais militares com cerca de R$ 100 mil. De volta à prisão, foi um dos articuladores dos incêndios a ônibus, que se deu no início em 2006.
O então subsecretário da Justiça para Assuntos Prisionais, Anderson Perciano Faneli, não perdeu tempo: iniciou uma investigação com a ajuda do setor de Inteligência da Sejus e da Dint e juntos descobriram que, além de Toninho Pavão, outros bandidos continuavam comandando o crime organizado de dentro das cadeias capixabas.
Resultado: o governo mandou os líderes das facções para presídios de outros estados. O primeiro destino deles foi a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná.
Era lá que morava o perigo. Sem conhecer a história da ligação de facções criminosas do Espírito Santo com criminosos do Rio de Janeiro, a direção da cadeia de Catanduvas colocou os bandidos capixabas na mesma ala – as autoridades paranaenses chamam de vivências as alas ou galerias – onde estava o poderoso Fernandinho Beira-Mar.
Ele e Toninho Pavão passavam os dias conversando. Mesmo em celas separadas, conseguiam dialogar. Batiam papo também no banho de sol. Também foram descobertos diálogos entre Toninho Pavão e outros bandidos capixabas que foram para a prisão paranaense junto com ele. Os capixabas transferidos para Catanduvas não chegaram a ser isolados: ficaram na mesma ala e celas.
Os agentes penitenciários federais e os agentes secretos do setor de Inteligência da Polícia Federal que monitoravam a cadeia descobriram qual era o assunto principal no bate-pato entre os dois bandidos: a execução de autoridades capixabas e a cessão de áreas na Grande Vitória e de principais cidades do interior para Fernando Beira-Mar expandir seu principal negócio, que é a venda de drogas.
A casa dos bandidos caiu e eles perderam, pelo menos na tentativa de matar pessoas de bem, que são as autoridades capixabas.
Em comunicado confidencial enviado ao então diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça, Wilson Salles Damázio, o diretor da Penitenciária de Catanduvas, Ronaldo Urbano, informa que, nos últimos dias de dezembro de 2006, ‘‘os presos oriundos do Estado do Espírito Santo comentaram em suas celas que existem duas autoridades naquele Estado marcadas para morrer brevemente’’.
Os homens marcados para morrer seriam um juiz e um funcionário do governo capixaba. Mais tarde, a Sejus descobriu uma terceira autoridade, que vem a ser um promotor de Justiça.
Toninho Pavão, mesmo de dentro de uma prisão federal e de segurança máxima, já havia contratado, com a ajuda de seus familiares que iam visitá-lo no Paraná, o homem que seria responsável pela matança.
Conforme descobriu a direção da Penitenciária de Catanduvas, seria Jonh Wayne, que estava preso em uma cadeia da Grande Vitória. Agora que entra o plano macabro e ousado: segundo a Inteligência da cadeia de Catanduvas, Jonh Wayne iria ‘‘fugir’’ da prisão onde se encontrava na Grande Vitória com a ajuda de funcionários, com a missão de executar as duas autoridades.
No entanto, Toninho Pavão se queimou com o mesmo fogo que ele fez provocar e causar tanto pânico entre a população capixaba no final de 2006, quando seus ‘‘capangas’’ aqui fora continuaram incendiando ônibus, como forma de protestar contra a transferência dos chefões do crime organizado para fora do Estado.
Por causa da volta dos incêndios a ônibus, o governo do Estado promoveu nova transferência de presidiários para outras regiões. Um desses presos transferidos foi justamente Jonh Wayne, que ria fugir pela porta da frente de uma cadeia da Grande Vitória para matar autoridades. Até então, o governo capixaba desconhecia as descobertas da Inteligência da Penitenciária de Catanduvas sobre a fuga de Jonh Wayne. Ou seja, enquanto a polícia no Paraná descobria e colocava no papel o plano de Jonh Wayne, ele era transferido para lá.
Engana-se, porém, quem imagina que os criminosos ficariam quietos. Sem Jonh Wayne, eles mantiveram contato com outro bandido, identificado pelas autoridades federais como Erninho.
Em outras postagens, como é a influência de Fernandinho Beira-Mar no Espírito Santo e o que o governo do Estado descobriu, depois da trama para matar autoridades, sobre o planejamento do crime organizado para o Estado.