Nos anos 70 e 80 as autoridades da área de segurança pública do Espírito Santo costumavam atribuir aos crimes de mando, envolvendo principalmente pistoleiros, a culpa pelos altos índices de assassinato no Estado.
Diziam que a proximidade do Espírito Santo com Minas Gerais e Bahia facilitava a migração de pistoleiros para solo capixaba. Outro setor do crime organizado responsável pela matança eram os grupos de extermínio, formados, em sua maioria, por policiais militares.
O hoje chefe de Polícia Civil, delegado Júlio César de Oliveira, quando comandou com competência e firmeza a então Delegacia de Crimes contra a Vida, foi responsável pelo desmantelamento de vários grupos de extermínio e pela prisão de centenas de policiais acusados de agir como “justiceiros” na hora de folga.
Nas décadas seguintes, o responsável pela matança passou a ser o tráfico de drogas. Traficantes começaram a treinar seus “soldados” para executar rivais no crime e quem compra drogas e não paga.
Para reduzir o número de assassinatos – que cresceu muito nos anos 90 e nos primeiros 10 anos deste século XXI –, a Polícia Civil e a Polícia Militar deveriam unir esforços no sentido de ocupar as áreas dominadas pelo tráfico.
Não basta somente a presença da Polícia Interativa, dentro do projeto Território de Paz, que conseguiu reduzir em mais de 70% o número de homicídios depois de instaladas em cinco regiões da Grande Vitória.
É preciso aos novos gestores da segurança pública reforçar a Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, dando à Deten maior capacidade de atuação em todo o Estado.
É importante que a Deten trabalhe em conjunto com a Diretoria de Inteligência da PM, com a Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário.
Tem que ser feito um trabalho de formiguinha, ocupando pontos estratégicos nos bairros da Grande Vitória, para identificar e prender traficantes e seus “soldados” ou “aviões”.
Inibindo o tráfico, a polícia capixaba vai conseguir reduzir os assassinatos, já que, segundo dados da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), pelo menos 80% dos homicídios têm ligação com o tráfico e uso de drogas.
Tendo o Ministério Público e o Judiciário ao seu lado, os delegados da Deten poderiam conseguir com mais rapidez a quebra dos sigilos telefônico e bancário dos chefões do tráfico.
Os chefões – aqueles que financiam os traficantes da periferia – não moram em morros e nem ficam nos pontos de vendas de drogas embalando cocaína, maconha ou crack. Eles estão, conforme é do conhecimento da Deten, travestidos de empresários e morando em luxuosas coberturas à beira da praia.
Um trabalho de Inteligência interligado entre as polícias Civil, Federal e Militar conseguiria dar um choque no poderio financeiro dos chefões do tráfico com um piscar dos olhos.
A hora da virada é agora. Afinal, como disse o novo governador Renato Casagrande, a segurança – junto com a saúde – vai ter prioridade total em seu governo.