Policial militar durante 13 anos, boa parte na famosa Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), e advogado. Experiência que ajuda no seu cotidiano como delegado de Polícia Civil no Espírito Santo. Estamos falando de Faustino Antunes Simões Filho, o delegado que comanda uma das mais importantes unidades da Polícia Civil capixaba, que é a 7ª Delegacia Regional, localizada em Cachoeiro de Itapemirim e responsável também pelos municípios de Castelo, Mimoso do Sul, Muqui, Atílio Vivácqua e Vargem Alta.
O delegado Faustino Simões entrou na Polícia Civil do Espírito Santo no dia 19 de maio do ano de 1999, depois de ser aprovado em concurso público. Aprendeu a amar a instituição que o acolheu de braços abertos. Faustino Simões viu colegas de farda da PM paulista sendo mortos por bandidos e lamenta que, no Brasil, os criminosos tenham perdido o respeito pela polícia:
“Nos idos dos anos 80, a marginalidade não prosperava, os enfrentamentos eram constantes, vez que a Rota era reservada para o atendimento das ocorrências policiais mais graves. Infelizmente, perdemos alguns colegas na luta pelo combate da criminalidade, mais naquela época os ‘bons mocinhos’ eram os policiais, mas ultimamente o quadro está se revertendo e os bandidos perderam o medo e o respeito pela polícia”, diz, indignado, o delegado Faustino Simões.
Nesta entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, o delegado elogia a adoção do modelo de regionalização das unidades da Polícia Civil capixaba: “A regionalização permite que o gestor de cada uma delas possa administrar com maior eficiência os recursos humanos e materiais disponíveis, possibilitando uma resposta imediata a setores mais sensíveis e carentes. Possibilita ainda uma maior integração entres os municípios que compõem cada Regional, permitindo a troca de recursos, informações e de experiências, o que acarreta a prestação de um serviço melhor à população.”
Blog do Elimar Côrtes – O senhor já atuou em outra polícia ou exerceu outra atividade policial?
Delegado Faustino Antunes Simões Filho – Sim, na Polícia Militar do Estado de São Paulo, onde trabalhei pelo período de 13 anos. Lá, atuei em diversas unidades policiais, inclusive no 1º Batalhão de Choque, que é a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
– Como a experiência de 13 anos atuando na Polícia Militar de São Paulo ajuda um delegado de Polícia Civil? – Sem dúvida nenhuma, a experiência que adquiri no período que servi as fileiras da briosa Polícia Militar do Estado de São Paulo, contribuiu muito para o desempenho das minhas atribuições na Polícia Civil. A experiência me proporcionou maior segurança nas tomadas de decisões, a interatividade e o bom relacionamento com o público interno.
– Como foi para o senhor trabalhar na famosa Rota? Teve que enfrentar muitos bandidos nas ruas? O senhor perdeu colegas de farda na luta contra marginais paulistas? – Trabalhar no 1º Batalhão de Choque, mais conhecido como Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), foi uma grande satisfação, honra e realização profissional. Perdi muitos colegas de farda na luta contra marginais. Nos idos dos anos 80, a marginalidade não prosperava, os enfrentamentos eram constantes, vez que a Rota era reservada para o atendimento das ocorrências policiais mais graves.
Infelizmente, perdemos alguns colegas na luta pelo combate da criminalidade, mais naquela época os “bons mocinhos” eram os policiais, mas ultimamente o quadro está se revertendo e os bandidos perderam o medo e o respeito pela polícia.
– O senhor saiu da PM paulista com que patente? Hoje o senhor está reformado, com direito a salário, ou foi para a reserva sem remuneração?– Ingressei na PM de São Paulo como soldado e cheguei a graduação de 1º sargento no ano de 1995. Pedi a minha exoneração, que se deu a pedido e sem nenhuma remuneração, quando passei a exercer a função de advogado.
– Por quais unidades da Polícia Civil do Espírito Santo o senhor já passou?
– A minha primeira localização foi no município de Itapemirim, época que a Delegacia daquele local era responsável pelo vizinho município de Marataízes. Inclusive, mais tarde, contribuí para a inauguração da DP de Marataízes. No final do ano de 2002, assumi a Delegacia de Castelo, onde permaneci até o final de 2007, quando assumi a chefia do Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Cachoeiro de Itapemirim, acumulando as funções com a pasta da Delegacia Patrimonial e a Delegacia do município de Vargem Alta e cumulativamente respondi por vários municípios da Região Sul. No mês de setembro de 2012, assumi a titularidade da Delegacia de Polícia da cidade de Rio Novo do Sul com atribuição estendida para o município de Iconha e, finalmente, no início deste ano, assumi a chefia da 7ª Delegacia Regional (Cachoeiro).
– O que muda para a administração a criação das Regionais?
– A adoção do modelo de regionalização das áreas permite que o gestor de cada uma delas possa administrar com maior eficiência os recursos humanos e materiais disponíveis, possibilitando uma resposta imediata a setores mais sensíveis e carentes. Possibilita ainda uma maior integração entres os municípios que compõem cada Regional, permitindo a troca de recursos, informações e de experiências, o que acarreta a prestação de um serviço melhor à população.
– Antes, o senhor era responsável somente pelo DPJ de Cachoeiro. Com o fim dos DPJs e a criação das Regionais, o senhor, por exemplo, passa a ser responsável também pelos municípios de Castelo, Mimoso do Sul, Muqui, Atílio Vivácqua e Vargem Alta. Essa responsabilização é só no campo administrativo ou em termos de inquéritos policiais também?
– A responsabilidade é administrativa e operacional, permitindo ao gestor fomentar um município ou outro com recursos materiais e humanos conforme a necessidade. No entanto, em alguns casos específicos, dependendo do grau de complexidade e dos recursos existentes na unidade originalmente responsável, pode ocorrer a avocação do Inquérito Policial, sempre de forma fundamentada.
– Como é a estrutura da 7ª Regional?– O quadro de organização da 7ª Delegacia Regional é do Tipo 2, existindo dentro de sua estrutura o chefe da Regional, adjuntos, Núcleo de Inteligência e Estatística, Seção de Apoio Administrativo, Seção de Registro de Ocorrências, Seção de Informática e diversas delegacias, como a Delegacia do Plantão Regional; Crimes contra a Vida; Tóxicos e Entorpecentes; Crimes contra o Patrimônio; DP de Atendimento à Mulher; Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente e Idoso; DP de Infrações Penais e Outras (DIPO); e Delegacias Municipais. É o que prevê o quadro.
– O senhor está para ganhar quantas delegacias e quais são elas? Como as novas unidades poderão ajudar no combate à criminalidade?– Duas delegacias, a de Tóxicos e Entorpecentes e de Proteção a Criança, Adolescente e Idoso. A primeira vai rá aliviar a sobrecarga hoje existente na DIPO e certamente irá contribuir, e muito, com a Delegacia de Crimes contra a Vida, tendo em vista que a maioria dos homicídios dolosos, no município de Cachoeiro, tem conexão com o tráfico de entorpecentes. A segunda delegacia vai “desafogar” a Delegacia de Atendimento à Mulher, que hoje exerce esta atribuição. As delegacias especializadas têm condições de oferecer à população um serviço de qualidade, com ambientes e profissionais qualificados, atendendo cada especificidade.
– Cachoeiro é, sem dúvida, o maior município capixaba fora da Grande Vitória. Seus problemas na área de segurança pública são idênticos aos enfrentados pela população da Região Metropolitana?– Sim, com uma agravante, Cachoeiro é uma cidade média com os problemas de uma cidade grande. Contudo, há um grande esforço das autoridades locais, como o Poder Judiciário, Ministério Público, GGIM e Conselhos de Segurança, em minimizar os problemas relacionados a segurança pública.
– A proximidade de Cachoeiro com o Estado do Rio – mais basicamente com os municípios do Norte fluminense – atrai marginais (principalmente traficantes) para a cidade?– Sim, porém com pouca frequência. Eventualmente observa-se uma intercomunicação entre infratores deste com os do Estado do Rio de Janeiro, geralmente pessoas envolvidas nos crimes de roubo de carga e tráfico de entorpecentes.
– Como é o trabalho da Polícia Civil em Cachoeiro e agora em município vizinhos com as comunidades?– Cada delegacia apura os crimes afetos as suas atribuições, priorizando a apuração dos crimes mais graves, sem, contudo, deixar de apurar os crimes de menor potencial ofensivo. Quando da deflagração de operações policiais existe uma integração entre as delegacias, inclusive dos integrantes da Regional, com o intuito de reforçar o efetivo policial.
– Como é a integração da Polícia Civil com outros setores dos sistemas de Justiça (Judiciário e Ministério Público) e de segurança pública (Polícia Militar e Guarda Municipal)?
– A Policia Civil não tem nenhuma dificuldade no relacionamento com as instituições responsáveis pela Justiça e pela segurança pública. O tratamento é harmônico e respeitoso, existindo colaboração mútua. Inclusive a integração dos órgãos que compõem o sistema criminal é ponto primordial no programa do governo Estado Presente, sendo adotado no município de Cachoeiro de Itapemirim.
– Qual a maior dificuldade em ser delegado de Polícia Civil no Espírito Santo?
– A de conciliar o exercício das atividades jurídicas de Polícia Judiciária com as de gestão e operacionais, todas igualmente importantes para o bom e regular desempenho do cargo.
– A questão salarial ainda é motivo de preocupação. Como é trabalhar motivado e, ao mesmo tempo, motivar seus comandados tendo pela frente a luta pela melhoria salarial?– Com certeza, a questão salarial preocupa. Afinal, num curto espaço de tempo, se nenhuma medida for adotada pelo governo do Estado visando a recomposição salarial, elevando num patamar condizente com os demais cargos que compõem as denominadas carreiras jurídicas, o cargo de Delegado de Polícia do Espírito Santo será remunerado com o pior salário do País.
O salário digno de fato se revela fator motivador e propulsiona a carreira, tendo em vista que os baixos salários praticados atualmente pelo governo do Estado têm gerado grande evasão no cargo, contribuindo para que ótimos profissionais migrem para outros estados ou outras carreiras públicas.
Ademais, o salário condizente com a função se revela fator de reconhecimento e valorização profissional que, na maioria das vezes, deixa sua vida particular em segundo plano ante às grandes demandas que derivam da função escolhida, convivendo, não raras às vezes, sob constantes ameaças de criminosos e ingerências políticas.