O mundo político costuma ser traiçoeiro com as pessoas, instituições e com os fatos. Corporações altamente técnicas, como as Polícias Militares Estaduais do Brasil, deveriam ser guiadas pela competência e eficiência de seus gestores e não por ingerência política.
O fator político, quando impera, nem sempre é justo com as pessoas e com as instituições. Os políticos brasileiros, em sua maioria, imaginam que o mundo gira em torno de si. Poucos são aqueles que tomam decisões pensando unicamente no bem estar das instituições.
Cometem injustiças e não sabem valorizar os bons servidores, aqueles que levaram uma vida dedicando-se à coisa pública. É o caso do coronel Renato Duguay, que nesta segunda-feira (04/07) vai para a reserva da Polícia Militar do Espírito Santo por ter completado 30 anos de serviço.
Ele poderia ter sido jogador de futebol. Aliás, gosta de futebol. As pernas meio cambotas não enganam. Mas preferiu à carreira militar. Ele ingressou na PMES aos 20 anos e durante os anos de serviço atuou em diversas unidades da Polícia Militar, como o comando do 1º Batalhão (Vitória), na criação da Tropa de Choque, no comando do Batalhão de Missões Especiais (BME), no 6º BPM, no Centro de Formação de Oficiais (CFA) e na Assessoria Militar do Tribunal de Justiça.
O coronel Renato Duguay também foi subsecretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social e já esteve à frente da Guarda Municipal de Vitória.
Renato Duguay foi um dos principais mentores dos corredores de segurança, programa que até hoje é lembrado pela população como um dos momentos mais positivos e criativos do governo capixaba em termos de segurança pública – infelizmente, abandonado em 2003 logo no início da gestão Paulo Hartung/Rodney Miranda na segurança pública do Espírito Santo.
A vasta experiência técnica e administrativa poderia ter levado Renato Duguay a ocupar também o comando geral da Polícia Militar. Mas forças estranhas impediram esse feito. Problema, portanto, da Polícia Militar que deixou de ter em seu comando um oficial sério e competente como Renato Duguay.
O amor e dedicação com que o coronel tratou a Polícia Militar em seus 30 anos, cinco meses e quatro dias de serviço na corporação foram reconhecidos nesta sexta-feira (01/07), quando ele se despediu da tropa.
Praças e oficiais prestaram uma homenagem ao homem honrado que deixa a caserna, mas que, por conta de seus ideais, poderá voltar a ajudar o Espírito Santo em outro cargo e, assim, ajudar a combater a criminalidade e a melhorar a segurança pública.
Renato Duguay foi homenageado por policiais militares que atuam no Estado Maior Geral, em um encontro que foi realizado no Quartel da PM, em Maruípe.
Para se despedir, o coronel descreveu, em algumas palavras, o que significou fazer parte daquela que é uma das mais, sérias, respeitadas e importantes instituições do Espírito Santo: a nossa Polícia Militar.
“Caros companheiros de convivência ao longo da carreira policial militar,
Movido por um forte sentimento de gratidão a esta Instituição, onde ingressei após prestar o concurso público no final do ano de 1980, incentivado pelo Subtenente Almir Oliveira (in memorian), sinto-me obrigado a expressar, em palavras simples, mas sinceras, aquilo que está dentro do meu coração neste momento de encerramento da carreira.
Primeiramente, tenho que reconhecer o benefício alcançado por ter a Polícia Militar como fonte exclusiva dos vencimentos que me permitiram constituir família, criar os filhos e manter uma vida modesta, porém honesta. Inesquecíveis tempos de “vacas magras”, onde a máxima era: “ganhamos pouco, trabalhamos muito, mas nos divertimos bastante”. Havia sempre um prazer além do contracheque.
Sempre me soou excessivo dizer que o “Quartel é nossa casa”, porém é inegável que o número de horas na caserna proporciona uma aproximação tal que acaba por replicar os dilemas do ambiente familiar. Com todas as restrições do relacionamento hierárquico, subordinados e superiores passam a exigir uns dos outros um pouco mais de compreensão, respeito e amizade, por vezes conflitante com a rigidez de nossa formação.
Estou feliz por chegar a esse momento. Agradeço a Deus, meu eterno Comandante, e a todos que estiveram comigo nesta jornada profissional onde a amizade, a cooperação, as concordâncias, as discordâncias, os enfrentamentos, as ilusões e as desilusões, tudo contribuiu significativamente para que pudesse sair de cabeça erguida. Não levo na minha mente inimizades.
Àqueles aos quais ofendi por palavras ou ações, encarecidamente, me perdoem. Os que, de alguma forma, desconsiderei, saibam que são melhores. E o que faltou de reconhecimento a todos quantos deixei de homenagear, creio que Deus os recompensará.
Viva a Polícia Militar!
Um fraterno abraço a todos.
Coronel Renato Duguay”.