Em uma ‘live’, na tarde de terça-feira (23/06), com o diretor de Redação da revista ‘Isto É’, o jornalista Germano de Oliveira, o governador Renato Casagrande (PSB) deu uma aula de civilidade. Mostrou como deve ser a prática de uma política saudável e voltada para os interesses do povo brasileiro.
Casagrande mostrou também como o Espírito Santo vem enfrentando a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Ressaltou que, mesmo diante da crise da saúde em todo o Planeta, o Estado vem reagindo e buscando a retomada do crescimento econômico. E, mais uma vez, criticou a polarização dos extremos políticos – direita X esquerda – que se vê no País.
“É fundamental que a gente possa fugir dos extremos e apresentar alternativas que representem a maioria da população na eleição de 2022”, disse o governador, ao citar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o Partido dos Trabalhadores (PT), de Luís Inácio Lula da Silva.
Em seu portal na internet, a ‘Isto É’ lembra a trajetória política de Renato Casagrande. Informa que ele já foi deputado estadual, federal, vice-governador, senador e atualmente ocupa o cargo de governador do Estado do Espírito Santo pela segunda vez – a primeira foi entre 2010 e 2014.
“Com a experiência de tantos anos na política, Renato Casagrande é cotado, agora, por lideranças do seu partido, o PSB, para disputar a cadeira de Presidente da República”, informa o texto da revista.
Casagrande iniciou a entrevista falando do processo de contaminação dele pelo coronavírus. Disse que após se curar, pode ter adquirido anticorpos. Revelou acreditar ter contraído a doença por meio de sua esposa, dona Maria Virgínia Casagrande, que, após ficar internada dois dias em um hospital da Grande Vitória, por conta de um leve AVC, retornou para casa contaminada pelo Covid-19.
“Vivemos uma situação muito grave e triste. No nosso Estado, já são mais de 1.300 pessoas mortas pelo coronavírus. Por isso, ressalto mais uma vez a importância do isolamento social; o uso de máscaras, quando a pessoa necessitar sair de casa; e a higienização das mãos. Não tivemos, no Espírito Santo, nenhum óbito por falta de leito e ou por falta de respiradores”, garantiu o governador capixaba.
Questionado sobre o papel desempenhado até agora pelo presidente Jair Bolsonaro em meio à pandemia do Covid-19, Renato Casagrande foi firme. O jornalista Germano de Oliveira fez ainda uma manifestação antes da resposta do governador, afirmando que Bolsonaro tem tido uma atitude que representa desprezo pelas vítimas do coronavírus e seus familiares, pois ainda não visitou nenhum paciente em hospitais e nem foi a velório.
Dando exemplo de civilidade e de coerência, Renato Casagrande soube separar as ações do Governo Federal com às do Presidente da República:
“O Governo Federal tem tomado medidas importantes, como o auxílio financeiro aos Estados e Municípios e o auxílio de 600 reais às pessoas carentes. Essas medidas, entretanto, não estão em sintonia com a posição pessoal do Presidente. O comportamento e as atitudes de Bolsonaro dificultam o trabalho dos governadores”, disse Casagrande.
Segundo ele, o próprio Presidente da República deveria ter adotado postura de coordenar as ações de combate à pandemia do coronavírus, como estimular as pessoas ao isolamento social, ao uso de máscara e à higienização. Para Casagrande, o Governo Federal também poderia ter tomado medidas restritivas, como o de evitar deslocamento da população:
“A posição do Governo Federal no momento de crise ganha peso junto à população. O comportamento pessoal do Presidente da República, dando sinais contrários à Nação daquelas medidas impostas pelos governadores, são ruins. Enquanto nós adotamos medidas de distanciamento social, ele abraçava apoiadores. Enquanto os governadores pediam ao povo para ficar em casa, o Presidente ia a manifestações. As pessoas se agarram em quem lhes proporciona conforto, principalmente, aqueles cidadãos que passaram a ter dificuldades financeiras por causa da crise econômica provocada pela pandemia e que precisam trabalhar. Em vez de ajudar, o presidente Bolsonaro estimulou uma disputa entre as pessoas, entre aquelas que defendem o isolamento social e às que são contra. Ele estimulou até a politização quanto ao uso de medicamentos. Neste período, demitiu dois ministros da Saúde e está com um terceiro ministro na condição de interino. A imagem do Presidente e do Brasil ficou arranhada pela forma como o presidente Jair Bolsonaro enfrentou ou deixou de enfrentar a doença”, lamentou Casagrande.
O governador emendou: “Não se vê uma propaganda do Governo Federal no sentido de orientar as pessoas a, por exemplo, lavarem as mãos. A instabilidade no Ministério da Saúde e o comportamento do Presidente dificultam o trabalho dos governadores”.
Renato Casagrande foi provocado também sobre os a acusação de que Jair Bolsonaro estaria sendo responsável pela morte de pessoas devido as suas atitudes em menosprezar a pandemia do Covd-19 desde o início da crise. O governador ponderou:
“Não há líder que não possa se ausentar de suas responsabilidades. Mas o comportamento do Presidente, menosprezando a pandemia e expondo as pessoas, que acreditam nas orientações dele, é negativo. A atitude de um Presidente da República tem muito peso e força junto à população. Ele deveria ter outro comportamento para ajudar a preservar vidas”.
Sobre pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro, Renato Casagrande ensina que as ações do dia a dia na política e em todos os setores da vida – “inclusive a familiar”, ressaltou o governador – exigem a postura de diálogo. Segundo ele, o presidente Bolsonaro menosprezou o diálogo com o Congresso Nacional e, por isso, devido à necessidade, busca apoio junto aos políticos do chamado Centrão.
“Neste momento, a crise política está impondo ao Presidente o diálogo. O julgamento de um impeachment não é nada técnico; é político. Fernando Collor e Dilma Roussef sofreram impeachment porque perderam a base na sociedade e no Congresso. O presidente Bolsonaro mantém uma certa base na sociedade, que lhe dá apoio para se sustentar por um tempo. Mas ele precisa de ter uma base no Congresso. Qualquer governo que perde a base do Congresso e da sociedade se torna insustentável. Hoje, o rico dele sofrer um impeachment é pequeno, mas ele (Bolsonaro) tem trabalhado com competência para perder a base e aumentar o risco de impeachment”, lembrou Casagrande.
O governador Renato Casagrande falou também sobre a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na manhã de quinta-feira passada (18/06) em Atibaia, interior de São Paulo.
Queiroz foi preso na Operação Anjo, que investiga a chamada “rachadinha”, em que servidores da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) devolveriam parte dos seus vencimentos ao então deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro. Queiroz era lotado no gabinete do parlamentar à época em que Flávio era deputado estadual.
“Este assunto – ‘rachadinha’ envolvendo Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz – já vinha sendo falado desde o fim da campanha eleitoral de 2018. Um dos pilares da vitória de Jair Bolsonaro foi justamente o combate à corrupção. Mas ele tem três filhos na política – além de Flávio, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador pelo Rio, Carlos Bolsonaro –, o que é algo anormal e que exige um comportamento de fiscalização bem maior. Penso que todas as acusações devem ser investigadas”.
Sobre os impactos da pandemia ao lado de outra crise, a dos preços baixos do petróleo, que afetaram as receitas dos cofres capixabas, o governador Casagrande salientou que o Governo do Estado vem trabalhando com planos da retomada do crescimento da economia capixaba.
“Tivemos uma redução de R$ 1 bilhão das receitas neste ano. Porém, estamos trabalhando de todas as formas para manter a gestão fiscal eficiente, trabalhando a retomada na área econômica e algumas linhas de investimento em tecnologias”, contou Casagrande.
O governador Renato Casagrande voltou a defender na ‘live’ da revista ‘Isto É’ que seu partido, o PSB, fuja da polarização dos extremos criada pelo presidente Bolsonaro e o PT. Segundo ele, o PSB tem que apresentar nomes visando à disputa da eleição presidencial de 2022. O importante, frisou mais uma vez, é construir alternativas à polarização entre Bolsonaro e PT:
“Acima dos nomes, o PSB precisa ajudar a construir uma aliança ampla. É fundamental que a gente possa fugir dos extremos e apresentar alternativas que representem a maioria da população na eleição de 2022”, pontuou o governante.
Sobre o fato de seu nome estar sempre sendo lembrado pelo PSB como opção do partido socialista para a disputa da eleição presidencial de 2022, Renato Casagrande disse que o momento não é o de lançar pretendentes. O momento da apresentação de nomes, segundo ele, é mais na frente:
“Não entraremos nessa conversa agora. Temos uma eleição municipal pela frente e estamos em meio a uma pandemia. Meu nome e outros nomes serão discutidos na hora certa. A realidade do País hoje é outra”.
O governado Renato Casagrande encerrou a entrevista com um agradecimento à revista ‘Isto É’ pela oportunidade que teve em conversar com a população brasileira. Ressaltou, porém, que o momento político do País exige que as pessoas tenham opinião. Voltou a condenar quem usa as redes sociais para propagar notícias falsas e atacar a honra das pessoas. Casagrande tem sido alvo constante de notícias falsas produzidas, sobretudo, por políticos capixabas ligados ao bolsonarismo e por alguns seguidores – geralmente, assessores desses mesmos políticos – do presidente Bolsonaro.
“Agradeço a oportunidade de conversar com os brasileiros e mostrar o que estamos fazendo no Espírito Santo. O momento exige de todos nós que tenhamos opinião, opinião respeitosa. Não podemos aceitar quem assassina a honra das pessoas, com propagação de fake news. Temos que condenar com veemência os excessos. Precisamos dar as mãos para termos um projeto de País. Entrevista como essa é salutar. Parabéns à ‘Isto É’ e a você, Germano de Oliveira, que, com suas perguntas objetivas, levaram um debate importante para a sociedade brasileira”, concluiu Renato Casagrande.