O delegado federal Rodrigo Morais Fernandes, responsável também pelo segundo Inquérito Policial instaurado para investigar possível participação de terceiros no atentado sofrido pelo então candidato a Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), disse ao Blog do Elimar Côrtes nesta segunda-feira (28/01) que obteve mais prazo para dar sequência à apuração.
No IP 279, segundo o delegado Rodrigo Morais, a PF investiga a possibilidade de Bolsonaro ter sido vítima de crime de mando e a principal hipótese é para o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores organizações criminosas do País, no atentado. O delegado desmentiu notícias falsas que circulam em redes sociais de que o deputado federal Jean Wyllys estaria sendo investigado pelo atentado contra o presidente Bolsonaro.
Nesta segunda-feira, Jair Bolsonaro começou a ser operado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A cirurgia é necessária para retirar a bolsa de colostomia e religar o trânsito intestinal de Bolsonaro. O procedimento começou às 6h30. A recuperação deve demorar dez dias.
O autor da facada na barriga de Bolsonaro, durante comício em Juiz de Fora na tarde de 6 de setembro de 2018, é o militante político Adélio Bispo de Oliveira, que foi preso em flagrante e já se tornou réu no processo número 0004390-61.2018.4.01.3801, que tramita na 3ª Vara Criminal da Justiça Federal em Juiz de Fora.
De acordo com o delegado, os aparelhos de telefone celular apreendidos no escritório de um dos advogados de Adélio Bispo, Zanone Manuel Oliveira Júnior, já estão sendo periciados pela PF.
“Está sendo analisado algum conteúdo que indique quem pagou os honorários do advogado para avançarmos na investigação e ver quem possa ter mandado cometer o atentado. Já entrevistamos e interrogamos diversas pessoas que estiveram com o Adélio ao longo dos últimos 10 anos”, explicou Rodrigo Morais.
Ele acrescentou que uma das suspeitas de crime de mando seria o possível envolvimento do PCC no atentado ao então deputado federal e candidato Bolsonaro, que hoje é o presidente da República. De dentro das cadeias, os líderes do PCC comandam prática de crimes, como narcotráfico, tráfico de armas, assaltos e assassinatos, em todo o Brasil.
Há indícios “fortíssimos” de que a organização criminosa esteja dando auxílio financeiro e pagando os advogados do criminoso Adélio Bispo. Entre os indícios, segundo a apuração, estariam vínculos de amizades, as atividades dos advogados que atendem Adélio, o histórico de personagens envolvidos e até mesmo o discurso adotado por Bolsonaro.
“Solicitamos e a Justiça Federal concedeu a prorrogação de prazo para irmos mais fundo na investigação. Diversas diligências estão em curso”, disse o delegado Rodrigo Morais, acrescentando que houve diligências em São Paulo, Santa Catarina e em cidades mineiras, como Uberaba e Montes Claros.
Rodrigo Morais negou informações que circulam em redes sociais dando conta de que o deputado federal Jean Wyllys seria um dos investigados como suposto mandante. Os boatos envolvendo o nome de Jean Wyllys aumentaram depois que ele, na semana passada, anunciou que não vai tomar posse, em fevereiro, para mais um mandato de deputado federal. Alegou estar sendo alvo de ameaças e que vai embora do Brasil:
“Tudo que se tem falado do parlamentar é fake news. Trata-se de notícia falsa. Não tem nada a ver o nome do deputado”, garantiu o delegado Rodrigo Morais.
No dia 21 de dezembro de 2018, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão no escritório de Zanone Manuel Oliveira Júnior, um dos advogados de Adelio Bispo. A operação teve o objetivo de apreender e periciar documentos, celulares e computadores para descobrir quem paga a defesa de Adélio.
Adélio Bispo foi indiciado e denunciado no artigo 20, parágrafo único, da Lei n° 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional). Diz o artigo 20: Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. No entanto, Adélio foi denunciado no Parágrafo único, pois seu ato resultou em lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro. Assim, quando for condenado, a pena será triplicada. Ele será julgado por juiz federal singular e não por Tribunal do Júri.
Saiba Mais
Em 6 de setembro de 2018, o então candidato a presidente Jair Bolsonaro sofreu um atentado num ato de campanha em Juiz de Fora. Ele era carregado nos ombros por apoiadores quando Adélio Bispo se aproximou e o feriu com uma faca na barriga.
Bolsonaro foi levado à Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. Ele teve lesões nos intestinos delgado e grosso e passou por cirurgia. Os médicos fizeram uma colostomia temporária, procedimento que conecta o intestino a uma bolsa fora do corpo.
Depois, foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Juiz de Fora. De lá, ele foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde passou por nova cirurgia de emergência em 12 de setembro e ficou internado até 29 de setembro, quando recebeu alta.