As Associações de Classe da Polícia Militar e o governo do Estado repudiaram com veemência o “ato terrorista” que circula numa rede social desde quarta-feira (06/11) à noite, informando que a “polícia vai parar” a partir do dia 15 de novembro de 2019. A mensagem, compartilhada inicialmente em grupos de WhatsApp de policiais militares – praças e oficiais –, logo chegou a maior parte da população capixaba, provocando pânico e terror entre as pessoas.
Em fevereiro de 2017, durante 22 dias, policiais militares, com a justificativa de que seus familiares estavam bloqueando as entradas das unidades da PM em todo o Estado, fizeram greve, o que é proibido pela Constituição Federal.
A falta de policiamento ostensivo nas ruas provocou uma onda de assassinatos – foram registrados mais de 200 homicídios no período –, além de assaltos e saques ao comércio no Estado. Foi necessária a intervenção das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança para por fim à paralisação.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados da PM e do Corpo de Bombeiros, cabo PM Jackson Eugênio Silote, condenou a ameaça de nova greve e salientou que as entidades de classe nada têm a ver com essa atitude, assim como não tiveram com o movimento de 2017:
“Acredito que tal mensagem seja ato de oportunista querendo holofotes ou criando desgastes para o governo”, criticou cabo Eugênio.
Na mensagem, quem tem o título “A polícia do Espírito Santo vai parar”, o autor diz que “o descaso do governador (Renato Casagrande) chegou ao limite, vamos parar de forma que não vão conseguir nos punir”.
Vale ressaltar que, por conta da greve de 2017, 2.622 militares responderam a Processos Administrativos Disciplinares (PADs). No entanto, o governador Casagrande anistiou todos eles, inclusive os agora deputados estaduais Capitão Assumção e Alexandre Quintino, que foram alvos de Conselho de Justificação e tiveram suas exclusões homologadas pelo governo Paulo Hartung.
Na mensagem, o autor do “ato irresponsável” informa que “recebemos o pior salário do país, estamos avisando a população. Compartilhem e se protejam, nos vamos parar”.
E diz: “Não queremos viaturas novas nem pistolas Glock, queremos salário. A tropa está pior do que em 2017. Esse (sic) greve será diferente, não vamos fazer nada, quem fizer será traidor e banido da tropa”
Cabo Eugênio disse que as entidades de classe têm conduzido todas as tratativas de demandas da categoria com o governo do Estado e com o Comando-Geral da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.
“Tratamos do assunto de forma responsável. A defasagem salarial é muito grande. As Associações de Classe só tomam decisões com aval da categoria, por meio de Assembleia Geral. Percebemos que essa ameaça é um ato terrorista para amedrontar a população”, condenou Eugênio.
“Reconhecemos que temos um dos piores salários do País, mas em momento algum discutimos movimento paredista. Seria covardia de nossa parte levantar esse tipo de assunto para criar temor”, ponderou o presidente da ACS/ES.
O presidente da Associação de Subtenentes e Sargentos da PM e do Corpo de Bombeiros, capitão PM Neucimar Rodrigues de Amorim, disse que as entidades vão divulgar ainda nesta quinta-feira (07/11) nota de repúdio contra a mensagem de paralisação.
“Repudiamos esse tipo de atitude. Estamos conversando com o governo e levando informações sobre a insatisfação da tropa. Na última segunda-feira (04/11), em reunião com o Comando-Geral, informamos que o cenário de hoje é idêntico ao de fevereiro de 2017. Mas esse tipo de mensagem não partiu das Associações de Classe”, disse o capitão Amorim.
Presidente da Associação dos Oficiais Militares Estaduais, coronel PM Marcos Aurélio Capita classificou a ameaça de greve como um “ato de inquietação”. Segundo ele, os oficiais têm discutido melhorias salariais e integram o movimento Campanha Unificada, com a presença de policiais civis. Garantiu, no entanto, que as forças de segurança pública estaduais não têm nenhuma pretensão de promover movimento de paralisação:
“Não sabemos de onde partiu esse tipo de ameaça, que, com certeza, deve estar sendo investigada. Não faremos nenhum movimento paredista. Porém, estamos alertando o Comando-Geral e o governo sobre movimento de inquietar”, disse o coronel Capita.
Ele, entretanto, faz um apelo para que o governo retome negociações com as associações. O coronel Capita informou que, na última reunião na Secretaria de Gestão e Recursos Humanos, a secretária Lenise Loureiro disse para os dirigentes de classe que só se reunirão novamente com o grupo em 2020.
De acordo com o coronel Capita, os Comandos Militares já encaminharam ao governo estudos em âmbito nacional que mostram o quadro salarial de outras Polícias Militares Estaduais em comparação com que é pago no Espírito Santo.
O secretário de Estado de Economia e Planejamento, Álvaro Duboc, assegurou na manhã desta quinta-feira (07/11) que o governador Renato Casagrande já se comprometeu a rever os salários das categorias que, eventualmente, estejam entre os piores do País e reposicioná-los na média nacional.
“Neste ano de 2019, o governo fez um esforço muito grande para conceder o reajuste linear de 3,29%. O governador já disse que, nos próximos anos, vai pegar os salários dos policiais capixabas que, eventualmente, estejam entre os piores do País e nivelar com a média nacional. O governo tem dialogado e se reunido com as entidades de classe. Portanto, repudiamos também esse ato de ameaças de paralisação feito em rede social”, lamentou o secretário Álvaro Duboc.