A semana, no Brasil, foi marcada pela tragédia que matou o agente federal Jorge Washington Cavalcanti, 57 anos, e feriu gravemente outro agente, numa ação policial no Recife (Pernambuco).
A ação pitoresca ocorreu na quarta-feira (05/01). E demonstrou que, apesar de as autoridades estarem sempre defendo a união das instituições policiais (pelo menos na troca de informações), esta união no Brasil está longe de ser uma realidade. Pior, pode acabar em tragédia, como a que vitimou o policial federal Jorge Washington.
As polícias Federal e Civil do Recife investigavam separadamente um grupo de traficantes. O suspeito Wagner Alves desembarcou no Terminal Integrado de Passageiros (TIP) do Recife com a pasta base de cocaína. Os policias abordaram o suspeito quando ele entrou em um táxi.
De acordo com o taxista João Francisco de Farias, os policiais civis teriam iniciado o tiroteio com os agentes federais, que também estavam na cola do traficante.
Além disso, quem socorreu os dois policiais federais feridos foi uma viatura da Polícia Militar. Os policiais civis teriam se retirado sem prestar atendimento aos colegas.
Nesta sexta-feira (07/01), o delegado Marcelo Ferraz e quatro investigadores do Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil e Pernambuco foram afastados de suas atividades por determinação da Secretaria de Defesa Social.
Os cinco policiais civis estão envolvidos no confronto ocorrido na quarta-feira (05/01), no Curado, Zona Oeste do Recife, com uma equipe da Polícia Federal, que resultou na morte do agente Jorge Washington e deixou ferido o colega dele, Silvio Romero Moury Fernandes dos Santos, 40.
O delegado, os agentes Leandro Gonçalves, Sérgio Luiz Bezerra de Lima e outros dois cujos nomes não foram divulgados tiveram que prestar depoimento na Superintendência da Polícia Federal do Recife.
Informações extraoficiais dão conta de que os três agentes que abordaram a equipe da PF garantiram só ter atirado porque o agente Jorge Washington efetuou um disparo de dentro do táxi, na direção deles.
Eles também negaram não ter prestado socorro. Um dos agentes contou ter ajudado a colocar o policial baleado dentro do carro que o levou para o hospital.
Na manhã da quarta-feira, uma equipe da Polícia Federal prendeu um traficante no Terminal Integrado de Passageiros (TIP), com 17 quilos de pasta-base de cocaína.
Assim que foi detido, o bandido recebeu um telefonema do receptador instruindo-o a pegar um táxi e se dirigir a um ponto de ônibus na BR-232.
Dois agentes federais embarcaram no táxi com o traficante e foram para o lugar marcado na intenção de prender a pessoa que receberia a droga. Ao chegar ao local, uma equipe do Denarc estava de campana para pegar o mesmo alvo. Houve confronto e o agente federal Jorge Washington morreu com um tiro no coração.
A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social apresentou três pistolas calibre ponto 40, utilizadas pelos policiais civis no confronto com os agentes federais. O revólver calibre 38 que estava com o agente Jorge Washington e acabou apreendido pela equipe do Denarc, também foi entregue à PF. A arma tinha um cartucho deflagrado.
O diretor do Instituto de Criminalística (IC), Roberto Nunes, informou que o exame residuográfico, realizado nas mãos do policial federal para atestar se havia resíduos de pólvora, não detectou a presença de chumbo.
“Aqui, não detectamos o chumbo. Havia muito sangue e precisamos de um exame mais sensível.”
Nunes declarou que outro exame será realizado em Brasília. “O material coletado nas mãos da vítima já foi encaminhado para lá. É um procedimento bem mais sensível do que o que foi feito aqui. Lá, a Polícia Federal vai utilizar um microscópio eletrônico.”
O motorista e o traficante que estavam no táxi com os policiais federais baleados não mencionaram qualquer disparo efetuado pelo agente Jorge Washington. O taxista João Farias foi ainda mais enfático. Ele asseverou que a equipe do Denarc chegou atirando.
“Washington não teve tempo nem mesmo de ficar de pé fora do táxi. Ele levou um tiro que resvalou no braço e o atingiu diretamente no coração. A morte foi imediata”, contou com um colega do agente federal que falou com as testemunhas.
Um vigilante que trabalha em uma empresa próxima ao local do tiroteio disse que, além dos homens no Gol prata, um homem a pé e outro em uma motocicleta dispararam contra os ocupantes do táxi.
A Polícia Civil pernambucana apresentou apenas os três agentes que estavam no Gol prata e o delegado e um quarto agente que chegaram logo após o tiroteio. O carro descaracterizado do Denarc foi levado para a sede da PF. O veículo apresentava uma marca de tiro na lateral.
Um caminhão também passou por perícia na tarde de ontem. O motorista relatou que trafegava na BR-232 na hora do tiroteio e viu pessoas próximas a um Gol atirando contra um táxi.
Os presidentes dos dois sindicatos da categoria policial de Pernambuco se pronunciaram sobre o caso. Marcelo Pires (Polícia Federal) acredita que houve precipitação por parte dos agentes da Civil. Já Cláudio Marinho (Polícia Civil) reafirma que os policiais civis são preparados e houve uma fatalidade.
Após afirmar o clima de tristeza na Polícia Federal, Pires, apesar de comedido, apontou, em entrevista à Rádio Jornal, erros cometidos pelos policiais civis.
“Todas as versões estão sendo apuradas. Mas é claro que os policiais civis agiram de forma imprudente e precipitada, mostrando falta de experiência. Não se justifica chegar atirando se não se tem certeza de quem está dentro do carro”. Pires também questiona o fato de os policiais civis não socorrerem Jorge Washington após a troca de tiros.
Cláudio Marinho, também em entrevista à Rádio Jornal, disse que os policiais civis que estavam na abordagem são experientes e capazes de proteger a população e combater o tráfico de drogas.
“Civis e Federais estavam investigando o mesmo alvo. Eventualmente isso pode acontecer”. Ele preferiu não se estender sobre a denúncia, feita pelo taxista João Farias, de que os civis chegaram atirando no carro e sobre a alteração do local do tiroteio (a arma de Jorge Washington foi levada) e o fato de os civis não socorrerem os federais baleados.
“Quem disse isso é responsável pelo que diz. Tudo será apurado”.
O Secretario de Defesa Social de Pernambuco, delegado Wilson Sales Damásio manteve contato telefônico com o Presidente do SINPEF/PE, Marcelo Pires, garantindo que irá ser feita uma apuração minuciosa por parte da Corregedoria da Polícia Civil de Pernambuco, de todos os fatos que envolveram a malfadada operação policial.
Foi instaurado Inquérito Policial pela Superintendência Regional do DPF em Pernambuco, competente para a apuração desta natureza, sob a presidência do DPF Renato Cintra.